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    Realizada em ano eleitoral, Copa do Mundo tem histórico de uso político

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    Na semana decisiva da Copa do Mundo de 1950, a concentração da seleção mais parecia um ponto de peregrinação. Políticos que tentavam vincular as próprias imagens ao sucesso dos jogadores passaram a visitar a equipe, grande favorita ao título.

    Pouco antes da decisão contra os uruguaios, os atletas brasileiros tiveram de se encontrar com dois candidatos a presidente naquele ano: Eduardo Gomes (UDN) e Cristiano Machado (PSD).

    Só que a festa preparada no Maracanã, maior estádio do mundo na época e construído especialmente para o mundial, virou decepção.

    Em campo, o Uruguai venceu o Brasil por 2 a 1 e conquistou o título. Menos de três meses depois, nem Gomes nem Machado se elegeram.

    Getúlio Vargas (PTB) obteve o melhor desempenho nas urnas e voltou ao poder ― apenas cinco anos após ter saído do cargo que havia ocupado entre 1930 e 1945.

    Ao longo da história, muitos políticos procuraram se aproximar do futebol, apesar das incertezas sobre os resultados da iniciativa.

    Professor da Universidade de São Paulo (USP) e coordenador do Núcleo Interdisciplinar de Estudos Sobre Futebol e Modalidades Lúdicas (Ludens), Flávio de Campos diz que a importância da seleção brasileira para os líderes políticos foi crescendo à medida que a popularidade do esporte aumentava.

    A seleção acabou se tornando um símbolo oficioso do Brasil. É normal que tenha tido uma disputa para se aproximar dela

    Flávio de Campos, professor da USP

    A lógica inversa também era normal: dirigentes de futebol passaram a procurar o poder. O professor Bernardo Buarque de Hollanda, da Escola de Ciências Sociais do Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil, da Fundação Getúlio Vargas (FGV-CPDOC), lembra do papel de João Havelange, que presidiu a Confederação Brasileira de Desportos por 17 anos, de 1958 a 1975.

    “Havelange sempre foi um articulador entre a seleção e os poderes políticos. Esteve com Juscelino Kubitschek, com João Goulart e com os militares, a quem, inclusive, fez muitos elogios. Foi uma figura estratégica nessa aproximação do imaginário da seleção com o Brasil”, diz.

    E 2022 é, novamente, ano de Copa do Mundo ― mas, depois de 92 anos, o principal torneio de futebol do planeta ocorrerá após a eleição presidencial brasileira.

    Por CNN Brasil