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    Acre passa a ofertar exame de carga viral de hepatite delta pela primeira vez em sua história

    Por Nany Damasceno

    A hepatite delta, também conhecida como hepatite D, é uma doença viral própria da região Amazônica, que ocorre em pessoas que já possuem o vírus da hepatite B. É considerada a mais agressiva dentre as hepatites virais, podendo levar a complicações graves, como cirrose e câncer de fígado, inclusive em pessoas ainda bastante jovens. 

    E pela primeira vez em sua história, o Acre vai ofertar na rede pública o exame de carga viral de hepatite delta, considerado essencial tanto para o diagnóstico adequado dos pacientes quanto para avaliação da resposta ao tratamento.

    Em um esforço conjunto de diversas instituições como a Secretaria de Saúde do Acre (Sesacre), Fundação Hospitalar do Acre (Fundhacre), Fundação Merieux, Universidade Federal do Acre (Ufac) e Fiocruz-RO, foi desenvolvido e implantado um protocolo laboratorial próprio, através de um projeto que tem como um dos coordenadores o médico Thor Dantas, Infectologista e Hepatologista da Secretaria de Saúde do Estado e Professor do curso de Medicina da UFAC. 

    “É um projeto feito a muitas mãos. O protocolo laboratorial foi desenvolvido na Fiocruz de Rondônia pela Dra. Deusilene Vieira, especialista em virologia molecular que trabalha com Dr. Juan Villalobos-Salcedo. A execução dos exames será feita no nosso Laboratório Merieux, coordenado pelo Dr. Daniel da Matta. O laboratório Merieux está dentro da estrutura administrativa da Fundação Hospitalar (Fundhacre), presidida pelo Dr. João Paulo, que garante todas as condições para o seu funcionamento. Os pacientes que necessitam dos exames são atendidos no Serviço de Atenção especializada (SAE) do ambulatório de Infectologia e Hepatologia do Acre, coordenado pela enfermeira Edna e para dar sustentabilidade cientifica a tudo isso, temos um grande projeto que é da nossa Universidade Federal do Acre, o qual tenho a honra de ser o investigador principal”, explica Thor Dantas.

    O projeto, ainda segundo Thor Dantas, tem três grandes eixos que se complementam de forma indissociada: assistência à população, ofertando os exames para quem necessita; pesquisa científica, gerando conhecimento sobre a doença em nossa região; e formação, treinando e capacitando profissionais no estado. “Os médicos do SAE precisam do exame de carga viral para decidir como melhor cuidar de seus pacientes, o Acre precisa formar profissionais capacitados para trabalhar com biologia molecular no estado e nós precisamos compreender melhor essa doença típica de nossa região e ainda tão desconhecida em vários aspectos”, explica. 

    Por ser um estado que compõe a Região Amazônica, o Acre apresenta taxas elevadas de hepatite delta e a doença na região tem suas peculiaridades, por isso a inciativa é também tão importante. Segundo ele, “a hepatite delta é a mais agressiva e a menos compreendida. Existem muitas lacunas no conhecimento, tem muita coisa que a gente não sabe sobre ela exatamente porque ela não é estudada. O genótipo amazônico é muito diferente do tipo europeu que já foi bem estudado no sul da Itália, por exemplo,”, explicou.

    “Esse projeto tem potencialidades gigantescas. Como Acre e Rondônia estão entre os Estados mais atingidos por essa doença no país, somos os mais interessados em gerar soluções para ela. Nossa expectativa é que esse exame, depois de validado, possa inclusive ser incorporado pelo Ministério da Saúde como uma referência para o diagnóstico de hepatite Delta no SUS no Brasil inteiro”, avalia Dr. Thor.

    Com graduação em Medicina pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, mestrado e doutorado em Medicina Tropical pela Universidade de Brasília, Dr. Thor possui títulos de especialista em Clínica Médica, Infectologia e Hepatologia, é médico do SAE, da enfermaria de Infectologia e Hepatologia e do programa de transplante de fígado da FUNDHACRE, supervisor do Programa de Residência Médica em Infectologia do Estado, Professor dos cursos de Medicina da UFAC e da UNINORTE e tem intensa atuação na saúde publica do Estado, tendo sido uma das referências no enfretamento das epidemias passadas de dengue e mais recentemente na pandemia de Covid-19.

    O médico infectologista alerta por fim para a prevenção da doença e afirma que a vacinação contra a hepatite B é a melhor forma de prevenir a hepatite delta. “A vacina contra a hepatite B protege contra delta também, se você é vacinado contra B, você não pega nem B e nem delta, por isso é uma vacina essencial para nossa região. Costumo dizer que é a vacina mais importante ao nascer, é a primeira vacina que você deve administrar em uma criança quando nasce, porque a criança que não é vacinada imediatamente após o nascimento, se ela vai pra casa e volta uma semana depois ela corre o risco de se infectar no contato com um irmão, um primo, uma babá, com qualquer pessoa, e quando voltar para ser vacinada já perdeu a oportunidade”.