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    Motel tem energia negativa? Entenda crença que vê o sexual como “sujo”

    Por Thamara Maria, Coluna Pouca Vergonha

    Em meio a conteúdos espiritualistas publicados nas redes sociais, não é difícil encontrar discursos que descrevem locais, a exemplo de festas e motéis, como lugares com “energia negativa”. Sem contar com a afirmação de que, ao fazer sexo com uma pessoa, a energia dela pode ficar de seis meses a até sete anos dentro de você, incentivando que as pessoas sejam mais criteriosas e não façam tanto sexo casual. Fica a dúvida: isso realmente pode ser verdade?

    O fato é que, dentro do espiritualismo, existem diversas vertentes e segmentos, mas para Pam Ribeiro, espiritualista e influencer conhecida como A Bruxa Preta, a energia não pode ser dividida entre “positiva” ou “negativa”. Apesar de haver a compreensão de dois polos opostos de energia — como na percepção oriental do yin yang —, nenhum deles é, necessariamente, positivo ou negativo; “bom” ou “ruim”.

    Dito isso, a especialista afirma que a raiz dessa crença vem do que ainda há de “incrustado” do processo colonizador de higienização cristã. “É importante entender que o cristianismo ainda influencia todas as nossas percepções da realidade […] São séculos de repressão de tudo que é visto como ‘mundano’, e o sexo entra nisso”, diz.

    No próprio caso do motel, o argumento de que ele seria um lugar pesado por que coisas ruins acontecem ali, como abusos, traições e prostituição, carrega um discurso moralista que, muitas vezes, mal é percebido por quem o faz. “As pessoas não levam em consideração que a maior incidência de feminicídio é dentro das casas, que não são vistas como lugares de energia negativa. Sem contar que perceber o trabalho sexual como algo ruim e errado também traz muito de moralidade”, elucida Pam.