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    Old West: esposa de empresário do DF que lavou R$ 31 milhões é presa

    Por Carlos CaroneMirelle PinheiroSamara Schwingel

    Agentes da 18ª Delegacia de Polícia do Distrito Federal (Brazlândia) prenderam preventivamente, nesta terça-feira (26/12), a companheira do empresário Ronaldo de Oliveira. Soraya Gomes da Cunha havia sido presa temporariamente, no âmbito da Operação Old West, e usava tornozeleira eletrônica.

    Contudo, ao tentarem cumprir uma ordem judicial de prisão preventiva contra ela, pela manhã, os policiais não a encontraram. A investigada havia removido a tornozeleira eletrônica e saído de casa, em Brazlândia, no último domingo (24/12), segundo a coluna Na Mira apurou. Nesta tarde, ela foi detida novamente, na casa do pai, no Setor Sul da região administrativa.

    Ronaldo e a família são acusados de integrar uma organização criminosa e conduzir um esquema de lavagem de dinheiro que envolveu ao menos 15 “testas de ferro”.

    As apurações revelaram que, após ser investigado e preso no âmbito da Operação Trickster — que identificou um esquema criminoso no qual R$ 1 bilhão em dinheiro público teriam sido desviados por meio de fraudes no sistema de bilhetagem eletrônica do extinto Transporte Urbano do Distrito Federal (DFTrans) —, o empresário desenvolveu um sistema sofisticado para lavar mais de R$ 31 milhões.

    Audacioso e articulado, o bando teria conseguido cooptar o analista do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) Suedney dos Santos, que recebia diversas transferências bancárias para “cuidar” dos processos do empresário e advogar em defesa dos interesses da organização criminosa.

    O servidor consultava ações na Justiça e repassava informações sigilosas, segundo as investigações. O analista está foragido.

    “Dono de Brazlândia”

    A investigação revelou que, após ser investigado e preso no âmbito da força-tarefa, Ronaldo de Oliveira desenvolveu um esquema sofisticado para lavar mais de R$ 31 milhões.

    Para isso, o empresário, apontado como “dono de Brazlândia”, usou um supermercado que funcionava sob diferentes CNPJs, sempre em nome de “testas de ferro”, para ocultar a origem do dinheiro.

    As investigações da 18ª DP mostraram que, além de Ronaldo de Oliveira, a organização criminosa conta com participação da companheira do empresário, dos filhos, de uma nora e de uma cunhada dele.

    Caminho do dinheiro

    Antes da Operação Trickster, o bando comandado por Ronaldo de Oliveira mantinha recursos financeiros nas contas de empresas geridas pelo grupo. Após a ação da PCDF, o caminho do dinheiro mudou e passou a “fazer curva” para driblar as autoridades.

    O fluxo financeiro começava com o recebimento dos pagamentos nas contas empresariais, mas os valores eram imediatamente lançados em contas-poupança do grupo, via depósitos e transferências, muita vezes na boca do caixa.

    Em seguida, ocorriam retiradas diárias de valores de poupanças abertas em nome dos filhos de Ronaldo e Soraya, para repasse às contas das empresas, a fim de evitar bloqueios judiciais. Algumas chegaram a receber depósitos superiores a R$ 1 milhão.

    Foragido

    Ronaldo de Oliveira ficou foragido da Justiça do Distrito Federal por três anos, entre 2018 e 2021, com mandado de prisão preventiva a ser cumprido. Ele foi detido em 12 de abril de 2021 por policiais do Grupo de Patrulhamento Tático (GPT), na cidade de Niquelândia (GO).

    Após uma série de buscas, os policiais localizaram uma caminhonete Hilux vermelha usada pelo empresário para circular pela região. Em seguida, ele foi abordado por uma equipe do GPT, que confirmou a existência do mandado de prisão em aberto por corrupção contra a administração pública e por associação criminosa.

    Pagamento de propina

    Em abril de 2018, a polícia pediu a prisão de Ronaldo e da companheira dele, Soraya. A Justiça atendeu à solicitação após os investigadores terem confirmado que o casal pagava propina para o então responsável pela unidade de controle de bilhetagem automática do DFTrans, Harumy Tomonori. O gestor foi detido em 23 de março de 2018, em mais um desdobramento da Operação Trickster.

    Em depoimento, Harumy confessou que, mensalmente, recebia entre R$ 10 mil e R$ 15 mil, a fim de agilizar processos, pagamentos e fazer vista grossa diante de irregularidades e fraudes cometidas pelas empresas de Ronaldo e Soraya.

    Entre as falcatruas, estava o fato de as empresas descarregarem cartões estudantis de alunos do Entorno como se fossem da rede pública de ensino do DF. Imagens flagraram Harumy deixando uma das empresas do casal com dinheiro pago como propina. À época, durante o cumprimento dos mandados de busca e apreensão, os policiais encontraram um envelope semelhante na casa de Harumy, com cerca de R$ 12 mil.