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    HÁ VINTE ANOS – Um escândalo que não ousa dizer o seu nome

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    A entrega ao ministro da Fazenda, Antonio Palocci, do comando da operação “Abafa CPI”, é a prova mais evidente da falência da coordenação política do governo – dos ministros encarregados dela, dos líderes no Congresso e do próprio Lula.

    É também em si um escândalo que a mídia, e até mesmo a oposição, evitar tratar como tal.

    Lula escalou o homem que tem a chave do cofre para convencer deputados a enterrar uma CPI criada por eles mesmos, e destinada a investigar a roubalheira na Empresa de Correios e Telégrafos.

    Tudo funciona com muita simplicidade.

    O deputado conversa com Palocci, pede a liberação de verbas para obras públicas em sua base eleitoral, talvez um cargo aqui ou acolá, Palocci barganha, o deputado o pressiona, e no fim os dois acabam se acertando.

    O deputado que apoiou a CPI sai do encontro como adversário dela.

    Se não há acordo possível e se o deputado é membro da Comissão de Constituição e Justiça, a solução é mais radical: ele é substituído por um aliado do governo.

    Caberá à Comissão declarar se a CPI é constitucional ou não. E ao plenário da Câmara, ratificar a decisão da Comissão.

    Por favor, não me venham com a desculpa de que todos os governos procedem assim. E que os costumes é que obrigam o governo Lula a proceder assim.

    Este não seria um governo diferente? Que se não pudesse mudar a política econômica, como desejava, pelo menos não se renderia a tenebrosas transações na esfera da ética e da moralidade pública?

    Por que tanto empenho, gente, por que tanta aflição e desespero para abortar uma CPI? Só por que dela se aproveitará a oposição de olho nas eleições do próximo ano?

    Desculpa esfarrapada! Que não convence ninguém – salvo deputados dispostos a se convencerem desde que tirem alguma vantagem.

    A agonia, o velório e o enterro da CPI servirão muito bem, e talvez melhor, aos propósitos da oposição que tem no Senado os votos necessários para criar outra CPI e forçar o governo a continuar sangrando no paço municipal e à vista de todos.

     

    (Publicado aqui em 30 de junho de 2005)