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    Trump volta a cobrar Fed por queda dos juros: “Baixar 1 ponto inteiro”

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    O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, não demorou para cobrar publicamente, mais uma vez, o Federal Reserve (Fed, o Banco Central norte-americano) pela redução da taxa básica de juros da economia do país.

    As declarações de Trump foram feitas por meio de sua própria rede social, a Truth Social, pouco depois do anúncio dos dados de inflação nos EUA em maio, que vieram abaixo das projeções do mercado.

    “O índice de preços ao consumidor acabou de sair. Ótimos números! O Fed deveria baixar um ponto inteiro. Pagaria muito menos juros sobre a dívida que está vencendo. Muito importante!”, escreveu Trump.

    Segundo o Departamento do Trabalho, o Índice de Preços ao Consumidor nos EUA (CPI, na sigla em inglês), que mede a inflação oficial no país, ficou em 2,4% em maio, na base anual, uma leve alta em relação aos 2,3% registrados em abril.

    Na comparação mensal, o índice foi de 0,1%, ante 0,2% em abril.

    Os resultados da inflação nos EUA vieram abaixo do esperado pelo mercado. A média das estimativas era de 2,5% (anual) e 0,2% (mensal).

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    Inflação e taxa de juros

    A meta de inflação nos EUA é de 2% ao ano. Embora não esteja nesse patamar, o índice vem se mantendo abaixo de 3% desde julho de 2024. A elevação da taxa de juros é o principal instrumento dos bancos centrais para conter a inflação.

    Em sua última reunião, nos dias 6 e 7 de maio, o Comitê Federal de Mercado Aberto (Fomc) do Fed anunciou a manutenção dos juros básicos no intervalo de 4,25% a 4,5% ao ano.

    Antes das três últimas reuniões, o Fed tinha levado a cabo um ciclo de três quedas consecutivas dos juros nos EUA, que começou em setembro do ano passado – o primeiro corte em cinco anos.

    A taxa básica de juros é o principal instrumento dos bancos centrais para controlar a inflação. Quando a autoridade monetária mantém os juros elevados, o objetivo é conter a demanda aquecida, o que se reflete nos preços, porque os juros mais altos encarecem o crédito e estimulam a poupança. Assim, taxas mais altas também podem conter a atividade econômica.

    A próxima reunião do Fed para definir a taxa de juros acontece na semana que vem, nos dias 17 e 18 de junho.

    Desde o início de seu atual mandato, Donald Trump vem pressionando publicamente o presidente do Fed, Jerome Powell, a baixar os juros da economia norte-americana. No último dia 4, por meio das redes sociais, Trump chamou Powell de “atrasado”.

    Na semana anterior, o presidente dos EUA havia recebido o chefe do Fed para uma reunião na Casa Branca, em uma iniciativa interpretada como uma tentativa de pacificar a relação entre os dois.

    Guerra entre Trump e Powell

    Em meados de abril, Donald Trump já havia subido o tom contra o chefe da autoridade monetária e cobrado a redução da taxa de juros no país.

    “Os preços do petróleo caíram, os alimentos estão mais baratos e os EUA estão enriquecendo com as tarifas. O ‘atrasado’ já deveria ter reduzido as taxas de juros, como o BCE [Banco Central Europeu] fez há tempos, mas com certeza deveria reduzi-las agora. A demissão de Powell não pode vir rápido o suficiente”, afirmou Trump, na época.

    Poucos dias depois, diante do mal-estar no mercado e da queda das bolsas nos EUA e na Europa, Trump recuou, amenizou o tom e praticamente afastou a hipótese de demitir Powell. “Nunca tive essa intenção. A imprensa exagera as coisas”, disse a repórteres.

    “Não, não tenho intenção de demiti-lo. Gostaria de vê-lo ser um pouco mais ativo em relação à sua ideia de reduzir as taxas de juros”, prosseguiu o presidente dos EUA. “Acreditamos que este é o momento perfeito para reduzir a taxa, e gostaríamos de ver nosso presidente [do Fed] agir com antecedência ou pontualmente, em vez de com atraso.”

    A diretoria do Federal Reserve é composta por sete integrantes que cumprem mandatos de 4 a 14 anos – todos são indicados pela Presidência dos EUA. A indicação para o cargo de presidente do Fed é definida pela Casa Branca e confirmada por uma votação no Senado norte-americano a cada 4 anos.

    Em 2022, Jerome Powell foi indicado pelo então presidente dos EUA, Joe Biden, para um segundo mandato à frente do Fed – que termina em maio de 2026. O entendimento majoritário nos EUA é o de que o presidente do Fed não pode ser removido do cargo sem que haja uma “justa causa”. Há, no entanto, um caso pendente de decisão pela Suprema Corte do país que remete a um precedente estabelecido há 90 anos, em 1935.