A Advocacia-Geral da União (AGU) encaminhou ao Supremo Tribunal Federal (STF) uma notícia de fato pedindo que seja incluído na apuração do inquérito contra o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) a movimentação de compra e venda de dólares horas antes do anúncio do tarifaço do presidente norte-americano Donald Trump ao Brasil.
Em documento apresentado ao ministro Alexandre de Moraes, na noite deste sábado (19/7), a AGU afirma que o uso ilegal de informação antes do tarifaço pode estar relacionado a ações do filho do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Por isso, solicitou a inclusão do conteúdo no inquérito que tramita no STF.
“Ademais, à luz dos fatos noticiados, podemos inferir que eles se inserem em contexto no qual os fatos já em apuração neste inquérito estão além dos ilícitos penais já indicados na Pet 14.129 pela Procuradoria-Geral da República, relacionados à obstrução da Justiça, mas também com possíveis ganhos financeiros ilícitos, mediante os mesmos fatos que buscaram impor embaraço à aplicação da lei penal”, escreveu a AGU no documento.
Leia também
-
Eduardo Bolsonaro agradece Trump por revogar visto de Moraes: “Só o começo”
-
Trump faz nova ameaça contra o Brics e promete acabar com o bloco
-
“Quem sou eu para dar conselho ao Trump” sobre tarifas, diz Bolsonaro
“Por fim, registra-se que além da esfera criminal, o uso ilícito de informação privilegiada enseja responsabilidade civil e administrativa, inclusive por prejuízos ao mercado e a investidores, nos termos do art. 1º da Lei nº 7.913/1989. Em razão disso, internamente, a Advocacia-Geral da União já instou de forma urgente a ProcuradoriaGeral Federal para que acione a Comissão de Valores Mobiliários – CVM, uma das legitimadas nos termos da Lei nº 7.913, de 1989, a adotar as providências cabíveis”, prossegue o órgão.
A movimentação de dólar às vésperas do tarifaço de Trump é investigada, também, internamente pela AGU, que acionou a Comissão de Valores Mobiliários (CVM).
Com a decisão de Trump em taxar o Brasil, a moeda americana valorizou naquele dia — ocorre que, quando a cotação ainda estava em nível “normal”, alguém comprou uma grande quantidade de dólares apostando contra a moeda brasileira — e, logo após o anúncio, vendeu a mesma quantidade. Ou seja, lucrando muito.
A AGU acredita que esse fato pode estar relacionado com as apurações no inquérito contra o parlamentar, filho do ex-presidente, por uso de informação privilegiada. Eduardo é investigado por coação no curso do processo; obstrução de investigação de infração penal que envolva organização criminosa; e abolição violenta do Estado Democrático de Direito.
6 imagens
Fechar modal.
1 de 6
Eduardo Bolsonaro virou alvo de mais um inquérito no STF
Reprodução2 de 6
O deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP)
VINÍCIUS SCHMIDT/METRÓPOLES @vinicius.foto3 de 6
O deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP)
VINÍCIUS SCHMIDT/METRÓPOLES @vinicius.foto4 de 6
Eduardo Bolsonaro anunciou que vai morar nos Estados Unidos no dia 18
VINÍCIUS SCHMIDT/METRÓPOLES @vinicius.foto5 de 6
Eduardo Bolsonaro usa Lula para articular sanções a Moraes
VINÍCIUS SCHMIDT/METRÓPOLES @vinicius.foto6 de 6
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump
Kevin Dietsch/Getty Images
Tarifaço
Ao pedir a operação contra o ex-presidente, deflagrada na sexta-feira (18/7), a Polícia Federal (PF) apontou que as ações do ex-chefe do Executivo indicam incentivo dele próprio às sanções impostas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ao governo brasileiro.
Os investigadores destacam que as primeiras investidas de Bolsonaro e de Eduardo começaram em 7 de julho, quando Trump publicou mensagem sobre o “tratamento do ex-presidente”.
Para a PF, Bolsonaro atuou para instigar seus seguidores contra o Poder Judiciário e suas ações foram cruciais para que Trump adotasse medidas contra o Brasil, “buscando criar entraves econômicos nas relações comerciais entre os Estados Unidos da América e o Brasil, a fim de obstar o regular prosseguimento da Ação Penal nº 2.668, em trâmite nesta Suprema Corte, que visa apurar a tentativa de golpe de Estado após as eleições presidenciais de 2022”.
Veja resumo de como foi operação que colocou tornozeleira em Bolsonaro:
“As ações de Jair Messias Bolsonaro demonstram que o réu está atuando dolosa e conscientemente de forma ilícita, conjuntamente com o seu filho Eduardo Nantes Bolsonaro com a finalidade de tentar submeter o funcionamento do Supremo Tribunal Federal ao crivo de outro Estado estrangeiro, por meio de atos hostis derivados de negociações espúrias e criminosas com patente obstrução à Justiça e clara finalidade de coagir essa Corte no julgamento da AP 2.668/DF”, escreveu Moraes na decisão.
O governo norte-americano aplicou tarifa de 50% sobre produtos brasileiros, o que abriu questionamentos comerciais que podem ter implicações para o país. Bolsonaro foi alvo de nova operação da PF na manhã dessa sexta-feira (18/7) e terá de usar tornozeleira eletrônica, já que a corporação apontou risco de fuga do ex-presidente.