O dólar e o Ibovespa, principal indicador do desempenho das ações negociadas na Bolsa de Valores do Brasil (B3), sentiram os impactos do novo tarifaço comercial imposto pelo governo do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, a todos os produtos brasileiros.
Nesta quinta-feira (10/7), a moeda norte-americana encerrou a sessão em alta, enquanto o Ibovespa recuou, refletindo um ambiente de incerteza e apreensão dos investidores.
No cenário doméstico, o destaque do dia foi a divulgação dos dados de inflação no Brasil referentes ao mês de junho, que confirmaram o estouro da meta definida para 2025.
Dólar
- A moeda dos EUA terminou a sessão desta quinta em alta de 0,72%, cotada a R$ 5,543.
- Na cotação máxima do dia, o dólar bateu R$ 5,621 e chegou a subir mais de 2%. A mínima foi de R$ 5,525.
- Na véspera, ainda antes do anúncio das tarifas de Trump sobre os produtos brasileiros, o dólar fechou em forte alta de 1,06%, cotado a R$ 5,503.
- Com o resultado, a moeda norte-americana acumula ganhos de 2% em julho e perdas de 10,1% frente ao real em 2025.
Ibovespa
- O Ibovespa, principal índice da Bolsa do Brasil, fechou o pregão, preliminarmente, em queda de 0,46%, aos 136,8 mil pontos.
- Na maior pontuação do dia, o Ibovespa ultrapassou 137,4 mil pontos. A mínima foi de 136 mil pontos.
- No dia anterior, o indicador terminou o pregão em queda de 1,31%, aos 136,6 mil pontos.
- Com o resultado, a Bolsa brasileira acumula perdas de 1,44% no mês e ganhos de 14,07% no ano.
O novo tarifaço de Trump
Caiu como uma bomba no governo brasileiro – e também no mercado financeiro – a decisão do governo do presidente norte-americano Donald Trump de taxar em 50% todos os produtos exportados pelo Brasil para os EUA.
A taxa entra em vigor a partir de 1º de agosto e será cobrada separadamente de tarifas setoriais, como as que atingem o aço e o alumínio brasileiros.
Em abril deste ano, o Brasil já havia sido atingido pelo tarifaço de Trump e teve seus produtos tarifados em 10%. Além disso, as taxas norte-americanas de 50% sobre aço e alumínio também afetaram o país.
De acordo com Trump, a decisão de aumentar as tarifas contra o Brasil acontece após “ataques insidiosos” contra eleições livres no país. Em carta enviada ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Trump voltou a criticar o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), acusado de tentativa de golpe de Estado em 2022.
Trump tem ameaçado o mundo com a imposição de tarifas comerciais desde o início do mandato e tem dado atenção especial ao grupo do Brics e ao Brasil. O presidente norte-americano chegou a ameaçar taxas de 100% aos países-membros do bloco que não se curvassem aos “interesses comerciais dos EUA”.
Após sair em defesa de Bolsonaro, Trump ameaçou aumentar as tarifas sobre exportações brasileiras. Nessa quarta-feira (9/7), o líder norte-americano alegou que o Brasil não está “sendo bom” para os EUA.
Setores importantes da economia brasileira, como a indústria, se manifestaram contra o tarifaço de Trump e defenderam o prosseguimento das negociações entre Brasil e EUA. No pregão desta quinta, as ações da Embraer registraram fortes perdas.
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De acordo com economistas consultados pelo Metrópoles nesta quinta-feira (10/7), o tarifaço de Trump sobre os produtos brasileiros deve impactar inicialmente o câmbio e pode também afetar a inflação. As exportações do Brasil devem recuar e, com isso, o desempenho do Produto Interno Bruto (PIB) do país pode ser duramente atingido.
“O mercado consumidor americano é o maior do mundo e deixar de vender para o maior mercado consumidor do mundo é bem ruim. A expectativa é que a gente exporte menos. Consequentemente, o nosso PIB pode ser menor”, avalia Marcelo Bolzan, planejador financeiro e sócio da The Hill Capital.
“Outra grande preocupação em um cenário como esse é em relação ao dólar, que vai subir. Isso pode ser traduzido em mais inflação. Juros futuros sobem também. E hoje tivemos um dia de bolsa para baixo”, afirma.
Para Danilo Igliori, economista-chefe da Nomad, a nova estratégia de Trump “tem tudo para elevar a incerteza sobre o cenário econômico, com o consequente aumento da volatilidade nos mercados”.
“Dado o histórico, no entanto, analistas e agentes econômicos deverão especular sobre a credibilidade dessas novas medidas. Será que desta vez será para valer ou é mais uma cartada para incentivar negociações que até o momento ficaram restritas a poucos países?”, questiona Igliori.
“No Brasil, dólar e juros futuros dispararam, enquanto as bolsas reagiram negativamente. Cenários com aumento de inflação e perda de atividade devem voltar ao radar, mas, de qualquer forma, o modo do compasso de espera deve permanecer ativado por mais um tempo.”
Brasil estoura a meta de inflação
No cenário doméstico, o principal destaque desta quinta-feira foi a divulgação dos dados oficiais de inflação no Brasil em junho, com o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).
Os preços de bens e serviços do país avançaram 0,24% em junho – o que representa um recuo de 0,02 ponto percentual em comparação a maio (0,26%). Em 12 meses até junho, a inflação acumula alta de 5,35%, confirmando o estouro da meta em 2025.
A meta para 2025 é de 3%, com variação de 1,5 ponto percentual, com piso de 1,5% e teto de 4,5%, conforme estabelecido pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). Ela será considerada cumprida se oscilar dentro desse intervalo de tolerância.
É a primeira vez que a meta será descumprida no novo regime, que utiliza o acumulado de 12 meses, chamado de meta contínua. Se o acumulado ficar acima do fixado por seis meses consecutivos, a meta é considerada descumprida.
Com o descumprimento da meta, o Banco Central (BC) divulgará uma carta aberta ao titular da Fazenda e presidente do Conselho Monetário Nacional, o ministro Fernando Haddad (PT).
No texto, o presidente do BC, Gabriel Galípolo, terá de expor as razões para o estouro. Isso porque o BC é responsável pelo controle da inflação, por meio da taxa de juros, definida pelo Comitê de Política Monetária (Copom) a cada 45 dias.
Os dados de inflação em junho reforçaram a posição do Banco Central (BC) de manter a taxa básica de juros em um patamar elevado por mais tempo, segundo economistas e analistas do mercado financeiro consultados pela reportagem do Metrópoles nesta manhã.
Segundo André Valério, economista sênior do Banco Inter, o resultado do IPCA em junho “confirma a expectativa de acomodação da inflação, influenciado principalmente pela reversão da inflação de alimentos”.
“Para os próximos meses, esperamos continuidade dessa acomodação, com boa parte do recuo do câmbio observado neste ano ainda a ser repassada para os bens industriais e livres, que já se mostram bastante acomodados”, afirma Valério.
“Além disso, o aperto monetário empreendido pelo Copom ainda não foi totalmente repassado para a atividade real, também devendo ser uma força deflacionária no segundo semestre. Com o Copom tendo finalizado o atual ciclo de alta, o resultado de hoje não tem tanta influência”, explica o economista.
De acordo com Valério, “para o início do ciclo de cortes dos juros, serão necessárias novas leituras nessa direção, com a continuidade da melhora do qualitativo, mas, principalmente, sinais de que a atividade e o mercado de trabalho estão sentindo os efeitos dos juros”.
“Esperamos que esses sinais sejam mais evidentes ao longo do 3º e do 4º trimestre, potencialmente criando condições para o Copom iniciar o ciclo de cortes na reunião de dezembro”, avalia.
Claudia Moreno, economista do C6 Bank, afirma que “o cenário segue bastante desafiador, principalmente se olharmos para os serviços subjacentes, que excluem itens mais voláteis e acumulam alta de 6,8% em 12 meses”.
“Ainda que a queda nos preços das commodities e o enfraquecimento do dólar possam aliviar temporariamente a pressão sobre os alimentos e bens industriais, fatores domésticos, como o mercado de trabalho aquecido, devem continuar pesando sobre a inflação. Nossa projeção é de que o IPCA feche o ano em 5%”, projeta.
“Para os próximos meses, esperamos que o Copom mantenha os juros estáveis em 15%. As últimas comunicações do BC reforçam nossa expectativa de que a Selic permaneça em patamar elevado por bastante tempo, mantendo-se em 15% até o final de 2026”, completa Moreno.