Apito de cachorro pode referir-se a duas coisas distintas: um apito ultrassônico usado para adestramento de cães ou uma mensagem política codificada, também conhecida como “dog whistle”.
No contexto de adestramento, o apito emite sons em frequências altas, inaudíveis para humanos, mas que chamam a atenção do cão e podem ser usados para reforçar comandos.
No contexto político, o “dog whistle” é uma forma de comunicação que utiliza linguagem com duplo sentido, transmitindo mensagens específicas para um público-alvo sem gerar rejeição na maioria.
O “dog whistle” soou, e seu público-alvo, políticos e empresários, já se mobiliza para que os candidatos da direita prometam anistiar os golpistas do 8 de janeiro, entre eles, Bolsonaro.
Por ora, o projeto de anistia está parado no Congresso. Isso não impede que possa ir adiante se o Congresso quiser confrontar a Justiça que tornou Bolsonaro inelegível até 2030.
É improvável que queira ir para o confronto, afinal seu longo rabo está preso no Supremo Tribunal Federal que investiga a falta de transparência das emendas parlamentares ao Orçamento.
De resto, políticos e empresários já não parecem interessados em salvar Bolsonaro para que ele volte a disputar eleições. Dane-se Bolsonaro, desde que ele apoie um presidenciável ao gosto deles.
Em nome de uma “conciliação” que acabe com a “polarização política” que prejudica o país, eles defendem que o próximo presidente “indulte” Bolsonaro e, por tabela, os demais golpistas.
Alguns dos aspirantes a candidato a presidente pela direita em 2026 anunciaram seu compromisso com o indulto: Romeu Zema, governador de Minas, e Ronaldo Caiado, governador de Goiás.
Mas faltava aquele com maiores chances de se eleger e no qual a direita aposta suas fichas: Tarcísio de Freitas, governador de São Paulo. Ao que tudo indica, já não falta mais.
Segundo a jornalista Rachel Landim, Tarcísio tem dito em reuniões fechadas com empresários, banqueiros e agentes do mercado que indultará Bolsonaro, caso se eleja presidente.
Para Tarcísio, o perdão da pena de Bolsonaro seria um preço “barato” a pagar pela “pacificação” do país. Assim, ele se livraria da cadeia, mas só recuperaria seus direitos políticos em 2030.
Então, Bolsonaro poderia se candidatar a qualquer coisa, menos, a presidente da República. Porque, desde que faça um bom governo, Tarcísio seria candidato à reeleição, mas isso ele ainda não diz.
Em 10 de maio de 2022, Tarcísio, pré-candidato ao governo paulista, defendeu o indulto concedido por Bolsonaro ao deputado Daniel Silveira, que fora condenado pelo Supremo e estava preso.
Tarcísio deve a Bolsonaro sua eleição para o governo de São Paulo. O indulto seria uma maneira de saldar sua dívida. De resto, sabe que a pecha de traidor só lhe faria mal.
Em respeito ao eleitorado, chegou a hora de Tarcísio dizer em público o que tem dito às escondidas a ouvintes privilegiados.