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    Fuzis dominam comunidades e viram maior ameaça à segurança no Rio

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    A presença maciça de fuzis nas favelas do Rio de Janeiro é hoje um dos maiores desafios enfrentados pelas forças de segurança. Modelos de armas de guerra como AR-15, AK-47 e fuzis calibre .50 estão amplamente distribuídos nas mãos de facções criminosas como o Comando Vermelho (CV) e o Terceiro Comando Puro (TCP), transformando comunidades em campos de batalha e impondo um regime de medo aos moradores.

    Em entrevista exclusiva à coluna, o secretário da Polícia Civil do Rio, Felipe Curi, destacou a gravidade da situação e defendeu mudanças urgentes na legislação para combater o arsenal bélico que alimenta a violência urbana. “O problema do Rio de Janeiro hoje é o fuzil”, afirmou Curi. Para ele, o porte dessas armas vai além do poder de fogo: garante às facções a dominação territorial, a imposição da lei do silêncio e o controle econômico por meio de taxas e atividades ilícitas.

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    Os números confirmam o alerta. Em 2024, o Rio de Janeiro registrou 732 fuzis apreendidos, o maior número da série histórica, segundo o Instituto de Segurança Pública (ISP). Esse volume representa mais que o dobro das apreensões de 2020. Apenas nos primeiros meses de 2025, já foram apreendidos 26% do total registrado no ano anterior, indicando uma tendência de crescimento contínuo.

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    Um levantamento da Polícia Militar do Rio de Janeiro revela que, dos 638 fuzis apreendidos pela corporação em 2024, 604 — ou 94,68% — foram fabricados fora do país. O dado evidencia a complexidade do fluxo internacional dessas armas, que exige ações coordenadas para combater o tráfico que abastece as facções.

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    Lacunas na lei e impunidade

    Felipe Curi criticou a brandura da legislação atual, que, segundo ele, transforma o porte de fuzil em um “bom negócio” para o criminoso. Ele explicou que, no contexto do tráfico, um bandido flagrado portando uma arma de guerra responde apenas por associação para o tráfico, com aumento de pena pelo uso de armamento restrito, mas sem uma condenação cumulativa por porte ilegal.

    “O crime do porte ilegal de arma é absorvido pela lei de drogas. No máximo, ele vai cumprir uma média de um ano preso”, apontou Curi. Para o secretário, essa brecha gera um retrabalho sem fim para as forças de segurança, que prendem os mesmos criminosos repetidamente sem conseguir retirá-los de circulação de forma efetiva.

    Para mudar esse cenário, o secretário defende alterações legislativas profundas que tornem o porte de fuzil um crime mais severo e cumulativo com outras infrações. A proposta é equiparar a pena ao tráfico internacional de armas, com reclusão de 16 a 24 anos, e impedir benefícios como saídas temporárias e progressão de regime. “Assim começa a ficar mais pesado para eles. Hoje, vale muito a pena para o criminoso, mas a lei precisa tornar isso um péssimo negócio”, argumenta.

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    A pauta tem ganhado força no Congresso Nacional. Em fevereiro de 2025, estava em análise um projeto que aumenta a pena para o porte ilegal de armas de uso restrito, tentando fechar as brechas legais que favorecem a rápida soltura. O governador Cláudio Castro também apoia a proposta e defende o fim da progressão de pena para criminosos que usam armas de guerra, alinhando o executivo estadual ao legislativo federal.

    Operações

    Sob a liderança de Felipe Curi, a Polícia Civil tem intensificado operações para descapitalizar o crime organizado e apreender armamentos, atuando desde o rastreamento de fluxos financeiros até ações diretas contra as facções. Mas o secretário faz um alerta: sem mudanças estruturais na lei, o esforço policial continuará sendo um trabalho de enxugar gelo.

    O secretario defende que a batalha contra os fuzis no Rio exige não apenas operações nas ruas, mas um arcabouço legal robusto que puna de forma efetiva e desestimule a circulação dessas armas nas mãos de facções, garantindo mais segurança para a população fluminense.