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    Guerra do tráfico faz explodir taxa de homicídios em Rio Claro

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    Com uma população estimada em pouco mais de 200 mil habitantes, segundo o mais recente censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a cidade de Rio Claro, no interior paulista, registrou uma taxa de homicídios por grupo de 100 mil habitantes que equivale a quase o triplo do estado de São Paulo.

    Dados da Secretaria da Segurança Pública (SSP) mostram que, em 2024, 32 pessoas foram assassinadas na cidade do interior, representando uma taxa de 15,8 casos por grupos de 100 mil habitantes. No mesmo período, a taxa do estado de São Paulo foi de 5,9.

    Em 2023, Rio Claro já se destacava pela criminalidade: na época, registrou pouco mais que o dobro de homicídios (13,9) para grupos de 100 mil habitantes em relação à taxa estadual (6,1). O índice é similar ao de 2022 (16,3 na cidade ante 6,8 no estado), quando começou o banho de sangue protagonizado por grupos criminosos na região (leia mais abaixo).

    5 imagensCarro com pistoleiros se aproxima, acompanhado por moto Pistoleiros desembarcam já atirando contra alvosCarro de pistoleiros é abandonado, com motor ligado, e batedor foge com motoFechar modal.1 de 5

    Membros do PCC conversam em terreno, ao lado de comércio

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    Carro com pistoleiros se aproxima, acompanhado por moto

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    Pistoleiros desembarcam já atirando contra alvos

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    Carro de pistoleiros é abandonado, com motor ligado, e batedor foge com moto

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    Reprodução/Câmera Monitoramento

    O cálculo de homicídios de uma localidade é um dos principais termômetros para medir a violência entre moradores de uma região, possibilitando a comparação de assassinatos em diferentes áreas, independentemente do tamanho da população.

    Rio Claro enfrenta guerra entre facções rivais

    A onda de violência na cidade resulta, em parte, do conflito entre o Primeiro Comando da Capital (PCC) e quadrilhas rivais, aliadas ao Comando Vermelho (CV), ou diretamente constituídas por integrantes da facção carioca, segundo investigações da Polícia Civil e do Ministério Público de São Paulo (MPSP).

    O PCC sofreu muitas baixas, segundo a polícia, a mando de Anderson Ricardo de Menezes, o Magrelo — que, após ser preso, em maio de 2023, teve o posto ocupado por Leonardo Felipe Calixto, o Bode, investigado por ordenar dezenas de homicídios, como revelou o Metrópoles.

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    A maior facção do Brasil, apontam as investigações, abriu mão do tráfico de drogas local para se concentrar na venda internacional de cocaína, que rende bilhões à organização — deixando, assim, o território livre para ocupação de grupos rivais.

    Apesar de ter desistido do tráfico local, o PCC teria iniciado um banho de sangue para retaliar as mortes promovidas pelo bando de Magrelo e Bode. Relatórios policiais obtidos pela reportagem mostram, inclusive, que Bode é a provável liderança máxima do Comando Vermelho em São Paulo.

    Jovem de 18 anos foi morto com 45 tiros de fuzil

    Ligado à quadrilha de Bode, o alvo mais recente do PCC foi Igor Henrique de Souza, de 18 anos, fuzilado com 45 tiros no último domingo (6/7).

    Fontes policiais que monitoram a guerra entre os criminosos em Rio Claro e região afirmaram ao Metrópoles que, neste ano, ao menos sete integrantes do PCC foram executados. Do lado de Bode, foram três baixas.

    “O Bode está ‘correndo junto’ com o Comando Vermelho [CV]. Está assumindo [posição] de líder local. Ele matou muita gente do PCC este ano. Os homicídios mais recentes são o troco que o PCC está dando nele. O Bode exagerou na dose”, afirmou um policial em condição de anonimato.

    Como começou disputa do tráfico em Rio Claro

    Como já mostrado pelo Metrópoles, Magrelo liderava uma quadrilha que se fortaleceu localmente, criando uma estrutura para competir com o PCC pela disputa de territórios no interior paulista.

    Levantamento do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), órgão do MPSP, mostra que a quadrilha rioclarense já expandiu a área de atuação para, ao menos, mais sete cidades do interior paulista. São elas: Jundiaí, Sumaré, São Carlos, Pirassununga, Americana, Leme e Louveira.

    Bode era uma dos parceiros de crime de Magrelo, cuja prisão deixou a vaga de liderança livre. O CV, segundo apurado pelo serviço velado da Polícia Militar, teria acolhido Bode em morros cariocas, após o atual líder do tráfico de drogas, que representa a facção em São Paulo, ter a morte decretada pelo PCC.

    Outras 9 mortes e 120 tiros

    Como revelado pelo Metrópoles, a disputa de território com o PCC deixou um saldo de, ao menos, nove mortos, de janeiro a junho deste ano, somente em Rio Claro.

    As execuções, feitas com dezenas de tiros de pistolas e fuzis — tipo de armamento usado em guerras —, foram concretizadas com mais de 120 disparos, como consta em relatórios da Polícia Civil consultados pela reportagem.

    Além dos assassinatos resultantes da guerra entre os grupos criminosos, outras quatro pessoas foram mortas na cidade — três por questões passionais e outra em um latrocínio (roubo seguido de morte). Em todo o ano passado, 32 pessoas foram mortas em Rio Claro.