Após a gripe aviária transformar o omelete em artigo de luxo para os americanos no ano passado, agora é a carne bovina que pesa no bolso nos Estados Unidos. A proteína animal favorita do país atingiu preços recordes, e a previsão de tarifas de 50% sobre produtos do Brasil, o maior exportador mundial, agrava ainda mais a inflação do alimento.
O encolhimento dos rebanhos locais também está entre os principais fatores para a alta.
Entenda tarifaço de Trump
- No início deste mês, o presidente norte-americano Donald Trump anunciou que, a partir do dia 1º de agosto, novas tarifas comerciais de 50% serão aplicadas sobre todos os produtos exportados pelo país aos EUA.
- As taxas serão cobradas separadamente de tarifas setoriais, como as que atingem o aço e o alumínio brasileiros.
- Em abril deste ano, o Brasil já havia sido atingido pelo tarifaço de Trump e teve seus produtos taxados em 10%. Além disso, as taxas norte-americanas de 50% sobre aço e alumínio também afetaram o país.
- De acordo com Trump, a decisão de aumentar as tarifas contra o Brasil acontece após “ataques insidiosos” contra eleições livres no país.
- Em carta enviada ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Trump voltou a criticar o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), acusado de tentativa de golpe de Estado em 2022.
De acordo com relatório do banco Itaú BBA, divulgado nesta terça-feira (29/7), o Departamento de Agricultura dos EUA (USDA, na sigla em inglês) informou na sexta-feira (25/7) que o rebanho de gado e vacas de corte no país está 1% menor em relação a 2023. Trata-se do menor número registrado em 25 anos.
“Além da já limitada oferta de carne bovina por parte dos produtores americanos, a aplicação de tarifas de 50% sobre as importações de carne bovina brasileira impactou ainda mais os preços regionais, resultando em um aumento de 3% no preço da carne moída no acumulado do mês de julho”, resume o relatório do Itaú BBA.
Segundo a CNN, os preços da carne acumulam alta de quase 9% desde janeiro, com a libra sendo vendida a US$ 9,26 no varejo. O índice de preços ao consumidor de junho mostrou aumentos de 12,4% nos bifes e de 10,3% na carne moída, em comparação com o mesmo mês de 2024.
Além disso, analistas norte-americanos estimam que a pressão sobre os preços deve continuar. A Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec), que reúne empresas como JBS e Marfrig, projetaram nesta terça-feira perdas de até US$ 1 bilhão caso a tarifa de 50% entre em vigor.
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Os EUA são o segundo maior importador da carne brasileira, ficando atrás apenas da China. O país compra 12% de todo o volume exportado pelo Brasil, enquanto os chineses respondem por 48%, de acordo com o Ministério da Agricultura.
Durante evento ao vivo nesta terça-feira, o presidente da Abiec, Roberto Perosa, afirmou que representantes do setor brasileiro estão em diálogo com parlamentares dos EUA para tentar barrar a entrada em vigor da nova tarifa, prevista para 1º de agosto deste ano.
Exportações brasileiras sofrem forte queda
As exportações da carne do Brasil para os EUA registraram forte queda em menos de três meses, no período entre abril e julho deste ano, antes mesmo de entrar em vigor a nova rodada do tarifaço comercial imposto por Trump.
De acordo com dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) – comandado pelo vice-presidente Geraldo Alckmin, que vem liderando as negociações com os EUA) –, reunidos pela Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec), o volume de vendas da carne brasileira despencou nesse período.
Em abril, o país registrou 47,8 mil toneladas vendidas para os norte-americanos. Em maio, o número caiu para 27,4 mil toneladas. Em junho, recuou ainda mais, para 19,2 mil toneladas e, em julho, chegou a 9,7 mil toneladas – sem contar os últimos 10 dias do mês. A queda é de 79,7% em relação ao nível exportado em abril.