Quando se fala de moda global, marcas europeias e dos Estados Unidos não raras vezes são as primeiras que vêm à mente. A indústria fashion, no entanto, tem exemplos de criatividade e valor econômico expressivo em outros continentes, como é o caso da África Subsaariana, que detém um mercado de roupas e calçados avaliado em US$ 31 bilhões em 2020.
Vem saber mais sobre o potencial global e os desafios da moda africana, e o que ela representa para o mundo!
Panorama econômico
O relatório Africa Wealth da Unesco, de 2023, apontou que ainda há um longo caminho para que a moda do continente africano, apesar de já acelerada, desbloqueie seu potencial máximo. Ela é forte e tem se expandido no mercado interno, que se orgulha de usar produtos feitos localmente. O mercado gerou US$ 6 bilhões em 2022, dos quais 1/5 vem do segmento de luxo. Além disso, dos 54 países, 37 produzem algodão.
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As lacunas para a exportação de moda incluem limitações em áreas como educação e treinamento, infraestrutura e, claro, investimento. A expectativa de crescimento até 2028, de acordo com o relatório, é de 0,79%. A força das importações do mercado de segunda mão, decorrente do fluxo intenso do setor global de fast fashion, também é um fator limitante para designers locais.
A moda do continente africano é conhecida pela criatividade e as estampas coloridas, como nas roupas destes jovens em Moçambique
Clique nos bastidores do Dakar Fashion Week, no Senegal, em dezembro de 2023
Criatividade local
As tradicionais semanas de moda, que apresentam as novidades das próximas temporadas para compradores, imprensa e da audiência gerada nas redes sociais, têm um papel importante para atrair olhares ao redor do globo. E a África também tem, entre os exemplos locais de fashion weeks, uma expoente importante para chamar de sua: a de Lagos, na Nigéria, onde a Unesco lançou o relatório, em 2023.
“É muito difícil para os criativos africanos participarem da Paris Fashion Week, da New York Fashion Week, porque os custos são bastante proibitivos, com moedas baseadas no euro e no dólar nas quais eles têm que competir”, explicou Khanyi Mashimbye, executivo do banco African Export–Import (Afreximbank), ao WWD.
Desfile da marca MmusoMaxellL no Arise Fashion Week em 2019 na cidade de Lagos, na Nigéria
Aqui, um clique no backstage do Nairobi Fashion Week, no Quênia, em fevereiro deste ano
Presença de grifes
A baixa presença de grifes internacionais no continente é uma brecha para que os produtos locais tenham mais espaço no segmento de luxo. Especialmente, pelo fato de que as marcas africanas conhecem melhor os valores e as necessidades dos consumidores. Mas, conforme dados citados pela Vogue Business, o aumento do e-commerce na região permitiu a marcas de fora aumentarem presença por lá de 13% em adesão de consumidores, em 2017, para 28%, quatro anos depois.
Outro desfile em Lagos. Neste, em abril de 2019, da designer Odio Mimonet
Entre os estilistas africanos com destaque global, vale a menção ao sul-africano Thebe Magugu, que já colaborou com marcas como Dior e Adidas, além de vencer o prêmio Prêmio LVMH para Jovens Designers em 2019. O nigeriano Kenneth Ize, por sua vez, já desfilou coleções em Paris com Naomi Campbell na passarela.
Outras grifes que vêm ganhando espaço sem abrir mão das próprias raízes incluem a sul-africana Rich Mnisi, com uma abordagem colorida e de gênero fluido, a afrofuturista e raver Mowalola, e a ganense Christie Brown, com alfaiataria luxuosa e bordados tradicionais. Além, é claro, da nigeriana Orange Culture, presença constante na Lagos Fashion Week e com algumas passagens em Londres.
Edição do Lago Fashion Week em outubro de 2021, com desfile da marca Emmy Kesbit
Aqui, um desfile em Johanesburgo, na África do Sul, em setembro de 2024
Perspectiva
Apesar dos vários obstáculos, segundo as Nações Unidas, o continente pode prosperar em mais 25% por meio da moda. Até o fim deste ano, em parceria com o International Trade Center, o Afreximbank pretende lançar reunir grifes africanas, iniciativas privadas e instituições financeiras em uma cooperativa chamada Pan African Fashion Alliance, no intuito de resolver parte dos problemas que impedem o segmento fashion do continente de crescer.