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    O amor de Bolsonaro por Trump não é correspondido

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    “Fiz isso porque eu posso fazer”, disse, ontem à tarde, nos jardins da Casa Branca, o presidente Donald Trump. Foi em resposta à pergunta de uma jornalista sobre o tarifaço de 50% aplicado por ele à importação de produtos brasileiros. Trump acrescentou: “Quero dinheiro entrando no país [Estados Unidos]”.

    Lembrou-me uma frase atribuída ao ex-presidente Bill Clinton a propósito do seu caso com uma estagiária da Casa Branca na década de 1990. O escândalo veio à tona durante uma investigação sobre as finanças de Clinton e seu envolvimento em muitos episódios de má conduta sexual. Por pouco ele não caiu.

    Clinton nunca disse a frase “Fiz porque podia”. Mas ela reflete a percepção de que Clinton, devido ao seu poder e posição, sentia-se impune. Ele tentou encobrir o caso e mentiu ao Congresso sob juramento. A Câmara dos Representantes abriu um processo de impeachment contra ele. O Senado o absolveu.

    A razão oculta do tarifaço de Trump é sua insatisfação com a política externa do governo Lula que aproxima cada vez mais o Brasil da China. Mas a declarada foi o julgamento em curso no Supremo Tribunal Federal de Bolsonaro e dos demais acusados pelas tentativas de golpe em dezembro de 2022 e janeiro de 2023.

    Trump não morre de amores por Bolsonaro. Nem mesmo se considera seu amigo. Usa-o, como faz com qualquer outra pessoa, como peça a ser movida para lhe garantir melhor posição no tabuleiro de xadrez interno ou externo. O rei é Trump que não pode ser encurralado. Bolsonaro não passa de um mero peão.

    O contrário é verdade: Bolsonaro ama Trump e o espelha. Não reconheceu a derrota para Lula como Trump não reconheceu a sua para Joe Biden. Se no começo da pandemia da Civid-19, Trump simplesmente a ignorou, Bolsonaro também. O Capitólio foi invadido por trumpistas. O Congresso, aqui, por bolsonaristas.

    Em entrevistas à CNN Brasil e ao Poder 360, Bolsonaro confessou, referindo-se a Trump:

    “Ele é imprevisível. Eu gosto dele, eu sou apaixonado por ele. Sou apaixonado pelo povo americano, pela política americana, pelo país que é os Estados Unidos, nunca neguei isso desde meus tempos de garoto. […] Ele me tratava, me trata como irmão, e ele botou naquela carta [a Lula], na primeira linha, meu nome.”

    Foi de Tarcísio de Freitas, governador de São Paulo, a ideia de despachar Bolsonaro para os Estados Unidos com a missão de pedir a Trump um abatimento no tarifaço de 50%. Ninguém a levou em conta, pois Bolsonaro está proibido de deixar o país. Vai que ele foge. Bolsonaro, contudo, comprou a ideia:

    “Se continuar o Brasil avançando rumo à esquerda, Lula falando besteira o tempo todo, essa taxa de 50% que pode ser diminuída, acho que tenho poder de resolver esse assunto. Parte dele, mas tenho que ter liberdade para conversar com Trump. No momento, nem passaporte eu tenho”.

    Bolsonaro estrebucha na maca. Tarcísio muda de assunto. E Lula comemora a mudança de direção do vento. Ele passou a soprar a seu favor.

     

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