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    Pai de PM que matou policial civil está preso por assassinar inocente

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    O policial militar Mario Augusto Mendes, pai do sargento Marcus Augusto Costa Mendes, de 26 anos, afastado das Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota) por envolvimento na morte do policial civil Rafael Moura, está preso no Presídio Romão Gomes, condenado por assassinar um homem inocente em janeiro de 2019.

    Na época, Mario era cabo da PM lotado no 50º Batalhão da Polícia Militar (BPM), em Marsilac, na zona sul de São Paulo.

    Segundo a versão inicial do agente, ele passava de moto pela Travessa Edson Machado, na Cidade Dutra, por volta das 23h30 do dia 22 de janeiro de 2019, quando parou para urinar. Então, dois indivíduos se aproximaram com objetos que pareciam armas de fogo e anunciaram um assalto. Os suspeitos teriam dito “você sabe que não deveria estar aqui, perdeu, perdeu”.

    Em reação, Mario sacou sua arma e efetuou disparos, atingindo os dois indivíduos. Um caiu no local e outro tentou fugir, caindo alguns metros à frente. O PM acionou o resgate, que constatou óbito de um dos suspeitos e encaminhou o outro ao pronto-socorro.

    Mario chegou a apresentar um simulacro de revólver, alegando que estava em poder dos homens que tentaram roubá-lo. No entanto, a investigação mostrou mais tarde que o PM mentiu, e os dois rapazes eram inocentes da acusação de roubo.

    O estudante Sidney da Silva Araújo, de 23 anos, morreu no local. Klayton dos Santos Ventura, 19, também estudante, foi socorrido ao Hospital Campo Limpo com um disparo de arma de fogo nas costas. Ele sobreviveu, e chegou a ser preso em flagrante pelo suposto roubo, mas foi solto depois. Nenhum dos jovens possuía antecedentes criminais.

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    Reagiu a retaliação por ato obsceno

    Mais tarde, o Ministério Público de São Paulo (MPSP) alegou que Mario teria matado Sydney porque, momentos antes, o estudante bateu no capacete do PM em retaliação a um ato obsceno em via pública.

    O cabo estava recebendo sexo oral de uma prostituta, quando o jovem avistou a cena e repreendeu o casal, xingando os dois e dando tapas na cabeça de ambos. A versão foi confirmada em depoimento pela mulher, que disse ter recebido 20 reais pelo trabalho.

    Mario era casado na época dos fatos, com quatro filhos – dentre eles Marcus Augusto, na época com 19 anos. Em interrogatório, ele afirmou que a vida conjugal era harmônica.

    Acusações e condenação

    O PM foi denunciado pelo MPSP por:

    • Homicídio qualificado contra Sidney, por motivo torpe e com emprego de recurso que dificultou a defesa da vítima.
    • Tentativa de homicídio qualificado contra Klayton, com emprego de recurso que dificultou a defesa e para assegurar a impunidade do crime anterior, pois seria queima de arquivo.
    • Denúncia caluniosa, por ter acusado Klayton de roubo, mesmo sabendo que o jovem era inocente, e por ato obsceno.

    A prisão preventiva do PM foi decretada em 22 de janeiro de 2019. Em novembro de 2020, o Tribunal do Júri considerou o policial inocente do crime de ato obsceno, mas culpado das demais acusações. Ele foi condenado a 23 anos de prisão em regime fechado. A defesa recorreu às instâncias superiores, mas os recursos foram negados, e o processo transitou em julgado em maio do ano passado.

    Advogados alegaram legítima defesa

    Em interrogatório, o PM negou ter praticado os crimes e alegou ter agido em legítima defesa. A linha foi utilizada pelos advogados na defesa do réu, que alegou que a força utilizada foi a necessária para superar a agressão.

    Eles destacaram que, apesar de Mario ter uma pistola com 14 munições, foram deflagrados apenas quatro disparos, sendo o primeiro para o alto como advertência e os outros três contra as vítimas. A defesa também negou a prática de sexo oral, afirmando que o policial estava urinando no momento em que Sidney teria visto o ato obsceno.

    Já sobre a tentativa de homicídio contra Klayton, os advogados argumentaram que Mario não atirou em Klayton para encobrir o crime contra Sidney, como alegou a acusação. Segundo eles, se o objetivo fosse “eliminar testemunhas”, o policial também teria atirado em Elaine, que saiu ilesa do local.

    Por fim, a defesa destacou que o policial possuía 22 anos de serviço militar, e que havia se apresentado voluntariamente aos seus superiores e à delegacia.

    PM da Rota matou policial civil