A Polícia Federal (PF) indiciou o empresário Diego Cavalcante Gomes e o advogado Marco Antônio de Magalhães Guimarães pelo crime de embaraçar investigação de organização criminosa. O indiciamento é um desdobramento da 6ª fase da Operação Sisamnes, que investiga um suposto esquema de venda de decisões judiciais e lavagem de dinheiro.
Conforme a coluna revelou, Diego, que se entregou à PF em 15 de maio de 2025, é apontado como operador financeiro de um lobista e suspeito de tentar obstruir as investigações.
A base do indiciamento foi a tentativa de ocultar seu aparelho celular durante o cumprimento de um mandado de busca e apreensão em sua residência, em Brasília, no dia 13 de maio de 2025.
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Ocultação do celular
Segundo o relatório final da Polícia Federal, a investigação concluiu que Diego e seu advogado, Marco Antônio, mobilizaram um terceiro para tentar reaver o aparelho celular que teria sido arremessado para um terreno vizinho no momento da chegada dos agentes.
A operação começou às 6h da manhã de 13 de maio deste ano. De acordo com os documentos, a esposa de Diego, Raquel Monica da Silveira, de forma dissimulada, entrou em contato com o personal trainer da família.
Pouco depois, o advogado Marco Antônio teria orientado o personal a ir até o condomínio para procurar o celular em casas vizinhas, alegando uma briga de casal.
Câmeras de segurança registraram a chegada do personal trainer ao condomínio às 7h42min e suas buscas em ao menos três residências vizinhas. A polícia, no entanto, não conseguiu localizar o aparelho.
Defesa e a resposta da PF
A defesa de Diego alegou que o celular não foi ocultado, mas que estava em uma assistência técnica da loja iPlace desde o dia 10 de maio, três dias antes da operação policial. Para comprovar, apresentou um e-mail de agendamento do serviço e a ordem de serviço emitida em nome de uma funcionária de um coworking onde Diego mantinha um escritório.
No entanto, a Polícia Federal, em manifestação assinada pelo delegado Marco Bontempo, rebateu a versão. A PF argumenta que a ação do personal trainer, que abandonou uma aula em horário comercial para buscar o aparelho com urgência, não se explica como uma iniciativa própria ou “simples sugestão de terceiros”. A investigação aponta que a ordem partiu diretamente de quem tinha o maior interesse no desaparecimento do celular: o próprio Diego.
O delegado ressaltou ainda que, mesmo que o celular estivesse de fato na assistência técnica, isso não eliminaria a suspeita de que Diego possuísse um segundo aparelho, este sim de interesse da investigação e que foi deliberadamente ocultado.
Personal trainer
O relatório da Polícia Federal concluiu que o personal trainer, que chegou a ser preso preventivamente, foi usado como “agente instrumental”. Segundo sua oitiva, ele agiu por um sentimento de gratidão e confiança em Diego, que havia patrocinado uma viagem para uma competição, e não tinha conhecimento da operação policial em curso ou da gravidade de seus atos.
Com base nisso, a PF entendeu que não há elementos que comprovem sua adesão consciente ao crime, afirmando que ele “não se beneficiou da conduta e tampouco participou da cadeia decisória que articulou a tentativa de obstrução”. Por essa razão, a autoridade policial não vislumbrou suporte jurídico para uma imputação penal contra ele.
Manutenção da prisão
Em documento datado de 26 de junho de 2025, o delegado Marco Bontempo manifestou-se pela manutenção da prisão preventiva de Diego Cavalcante. A manifestação reforça que a tentativa de ocultar o celular e a mobilização de terceiros para isso demonstram uma clara intenção de obstruir a Justiça, justificando a necessidade da medida para a garantia da ordem pública e da instrução criminal.
O caso segue sob análise do Supremo Tribunal Federal (STF), que decidirá sobre os próximos passos da investigação e a situação dos indiciados.