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    Sem clima? Como retomar e apimentar o sexo após a chegada de um bebê

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    A primeira vivência de uma pessoa na maternidade costuma vir cheia de sentimentos de amor intenso, medo, felicidade e quase todas as emoções possíveis, incluindo as boas e as ruins. E em meio ao turbilhão da vida com os filhos, o casal e sua vida sexual podem ficar esquecidos por bastante tempo.

    Antes de detalhar o tema e aprofundar nas particularidades da libido feminino no pós-parto, é importante ressaltar que as relações sexuais, sobretudo as que envolvem a penetração, não são recomendadas, no mínimo, nos primeiros 40 dias após o nascimento do bebê.

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    Nas primeiras semanas após o parto, acontecem processos importantes, como a cicatrização interna do útero e de possíveis feridas externas, incluindo a cesárea ou lacerações vaginais. Nesse período, acontece também a eliminação do lóquio, um sangramento natural do pós-parto, e a reposição hormonal gradual.

    Em função da cicatrização em curso, a mulher fica mais vulnerável a infecções, especialmente se houver relações sexuais antes do tempo recomendado. Depois de terminado o resguardo, quando a mulher está medicamente liberada para retomar o sexo, algumas dessas novas mães costumam enfrentar desafios para reencontrar o próprio desejo.

    Primeiro “obstáculo”: amamentação

    Uma das questões que interfere na libido é a amamentação. A prolactina, hormônio responsável pela produção de leite materno, diminui o desejo, causa secura vaginal e pausa o processo de ovulação por um tempo. É como se o corpo entendesse que, logo após ter um bebê, não é o momento de ter outro, o que interfere diretamente nos hormônios ligados à prática sexual.

    “Isso é um processo natural e reversível, não é uma coisa que vai ficar para sempre. Eu reforço essa questão da secura vaginal, porque muitos profissionais não orientam as mulheres. Se houver a vontade, abuse dos lubrificantes e se entregue ao prazer sem dor”, afirma a sexóloga e enfermeira obstetra Gabriela Dias.

    A especialista acrescenta ainda que a amamentação também traz um componente psicológico. Muitas mulheres que sentiam prazer na estimulação dos seios, passam a não aceitar bem o toque na região. “Muitas delas falam que a questão sexual durante o período da amamentação é desafiadora. Algumas que sempre tiveram prazer no toque ao seio, agora, como ele tá servindo de alimento para o filho, ficam confusas e deixam de ver a região como erógena”, detalha Gabriela.

    6 imagensDurante a amamentação, a mulher tem altos níveis de prolactina, hormônio que diminui a libido Momentos de carinho sem conotação sexual ajudam o casal a se reconectar Ligue a babá eletrônica e invista em um jantar romântico em casa, momentos simples ajudam o casal A intimidade, o carinho e a conexão emocional são importantes na retomada da vida sexual É importante respeitar o tempo de cada um e não apressar o sexo, isso pode acabar sendo negativo Fechar modal.1 de 6

    Quando não há diálogo e compreensão por parte do parceiro, os casal pode se distanciar

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    Durante a amamentação, a mulher tem altos níveis de prolactina, hormônio que diminui a libido

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    Momentos de carinho sem conotação sexual ajudam o casal a se reconectar

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    Ligue a babá eletrônica e invista em um jantar romântico em casa, momentos simples ajudam o casal

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    A intimidade, o carinho e a conexão emocional são importantes na retomada da vida sexual

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    É importante respeitar o tempo de cada um e não apressar o sexo, isso pode acabar sendo negativo

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    Cada mulher é única

    Vanessa Valadão, psicóloga especialista em terapia de casais, relacionamentos e sexualidade, explica que a forma como a libido se comporta no pós-parto varia muito de mulher para mulher — e isso é absolutamente normal. “Não existe um padrão ideal a ser seguido, e sim realidades emocionais, físicas, hormonais e relacionais diferentes que precisam ser consideradas”.

    Entre os aspectos que interferem na volta da libido, Vanessa destaca a boa recuperação física e ausência de dor e o apoio emocional e prático da parceria, o que reduz o estresse e aumenta a conexão.

    O equilíbrio mais rápido dos níveis hormonais e uma amamentação sem maiores intercorrências também podem fazer bastante diferença. Um ponto para o qual Vanessa chama a atenção é o fato de que muitas mulheres ficam esperando voltar a se sentir exatamente como antes da maternidade, o que nem sempre é uma realidade. “Na maioria das vezes, a libido não volta a ser exatamente a mesma de antes do parto, e isso não é necessariamente algo ruim. É uma transformação, não uma perda”, ressalta a especialista.

    Embora não seja igual, o desejo pode vir ainda mais rico, quando a intimidade da mulher é respeitada, acolhida e reconstruída com liberdade e amor. “O segredo está em não buscar voltar ao que era antes, mas explorar o que pode ser agora — com o corpo de hoje, a realidade de agora e as emoções que fazem parte dessa nova fase da vida”, completa.

    Em casos nos quais existem bloqueios e dificuldades persistentes, é importante procurar orientação médica e avaliar a saúde física e hormonal, além de investir em terapias sexuais que podem ajudam a mulher a se reconectar com sua sexualidade.

    Reaquecendo a vida sexual

    Para Gabriela, existem dois pontos fundamentais para que o casal consiga retomar a vida sexual após a chegada dos filhos: a informação e a comunicação.

    Segundo a sexóloga, quase todas as pessoas já ouviram falar e tem, pelo menos, uma ideia de como fica a questão hormonal da mulher meses, e em alguns casos até anos, após o nascimento de um bebê. E o ideal é se preparar para isso.

    “Preparar como? Com informação. A informação, ela traz luz, ela liberta. O nosso foco, o nosso olhar está de fato no bebê, mas nós não podemos nos esquecer de nós, mulheres, que não deixamos de ser mulheres quando nos tornamos mães”, acrescenta.

    Ao entender e aceitar os processos naturais do organismo, o casal se comunica e consegue encontrar um equilíbrio na vida a dois e na vida de pai e mãe.

    Gabriela reforça ainda que é importante que as mães não esqueçam de que antes da maternidade, eram pessoas completas. “E aqui eu não falo só da relação sexual, mas de olhar para nós mesmas como mulheres. Fazendo aquilo que gostamos, ter momentos de autocuidado, olhar para si mesma”, acrescenta.

    Dicas para apimentar a relação após o nascimento do filho

    • Cultivem o vínculo emocional

    Conversas sinceras, toques carinhosos, olhares e escuta ativa nutrem a intimidade emocional, base para o desejo.

    • Crie momentos a dois, mesmo que curtos

    A qualidade vale mais do que o tempo. Pode ser um banho juntos, uma refeição sem distrações ou até um carinho antes de dormir. Pequenos rituais criam conexão e desejo.

    • Invista na sedução leve e gradual

    Voltem ao flerte! Bilhetinhos, mensagens ousadas, elogios, lingeries confortáveis e gestos sensuais sem pressão para o sexo podem reativar o clima com leveza.

    • Estimulem a fantasia e o erotismo

    A mente é o maior órgão sexual. Fantasias, brincadeiras sensuais e até o uso de acessórios, como óleos de massagem ou brinquedos eróticos, podem ajudar a criar novidade e curiosidade entre o casal.

    • Comuniquem desejos e limites

    Tenham comunicação sexual. Conversem sobre o que agrada, o que não agrada no sexo, o que mudou no corpo e o que traz prazer agora. A honestidade evita frustrações e aumenta a cumplicidade erótica.

    • Reinventem o sexo

    Sexo não precisa ser só penetração. Massagens, masturbação mútua, beijos demorados e explorações corporais ajudam o casal a se redescobrir sem pressão.

    • Respeitem o tempo do puerpério

    Cada corpo tem seu tempo. O desejo pode demorar um pouco para voltar e está tudo bem. Pressionar ou se cobrar demais pode bloquear ainda mais a libido.

    • Peçam ajuda e se organizem como equipe

    Dividir responsabilidades do bebê alivia a sobrecarga física e emocional, especialmente da mãe, permitindo que ela também se sinta disponível para o prazer. Se necessário, não hesitem em procurar ajuda profissional.

    A importância de respeitar o resguardo

    O resguardo é o período de cerca de 40 dias — que pode durar mais a depender do organismo e tipo de parto — após o nascimento do bebê. É um momento intenso de recuperação mental e física do corpo da mãe, que além de tudo está lidando com uma montanha-russa hormonal.

    Vanessa Valadão comenta que a instabilidade emocional, o cansaço extremo, inseguranças com o novo papel materno e alterações hormonais, comuns no puerpério, influenciam diretamente o humor e a libido.

    Ignorar esses aspectos e forçar um retorno antecipado à vida sexual ativa pode acarretar:

    • Aumento da ansiedade;
    • Sentimento de inadequação;
    • Queda da autoestima;
    • Desenvolvimento de quadros como a depressão pós-parto.

    Além de todas as considerações envolvendo a saúde mental e emocional da nova mãe, desrespeitar o resguardo pode levar a consequências graves na saúde física da mulher.