Afastado por recomendação médica desde o início de julho, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) prometeu cumprir um mês inteiro de repouso, mas acabou interrompendo o “atestado” após o anúncio do tarifaço por parte do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
Desde então, o ex-chefe do Executivo tem feito aparições públicas e falado com a imprensa, contrariando orientações médicas e pedidos da própria família.
O repouso havia sido anunciado no dia 1º de julho, quando Bolsonaro publicou uma mensagem dizendo que, por orientação médica, se afastaria de todos os compromissos após crises de vômitos, soluços persistentes e dificuldades para se alimentar e falar, que, segundo ele, seriam reflexos de complicações causadas pela facada sofrida em 2018. Uma nota assinada pelos médicos Claudio Birolini e Leandro Echenique detalhava a necessidade de repouso domiciliar durante todo o mês, sem qualquer atividade pública ou política.
Preocupada com o cumprimento da orientação, a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro também se mobilizou. No dia 2 de julho, ela pediu ao líder do PL na Câmara, deputado Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), que orientasse os parlamentares a não convidarem ou procurarem Bolsonaro nesse período. A mensagem foi repassada à bancada bolsonarista, com o objetivo de preservar o ex-presidente e garantir sua recuperação.
Tarifaço
- Donald Trump anunciou, em 9 de julho, a imposição de uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros. A medida passa a valer a partir de 1º de agosto de 2025.
- Na carta enviada a Lula e divulgada na Truth Social, Trump afirma que a relação comercial com o Brasil é “muito injusta” e critica as barreiras tarifárias e não-tarifárias impostas pelo país.
- Trump também relacionou a decisão à postura do Supremo Tribunal Federal (STF) em relação ao ex-presidente Jair Bolsonaro, sinalizando interferência política como fator na decisão.
- O republicano sugeriu que os EUA devem reavaliar ou romper a relação comercial de longa data com o Brasil, caso não haja mudanças.
- O governo brasileiro respondeu com indignação em carta oficial enviada em 15 de julho, mas também expressou disposição para negociar com os EUA.
- Lula declarou que aceita discutir tarifas, mas não permitirá interferência externa, e mencionou a possibilidade de acionar a Lei da Reciprocidade Econômica e a OMC para responder à medida.
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Tarifaço movimento base bolsonarista
O tarifaço anunciado pelos Estados Unidos em 9 de julho teve impacto imediato na política brasileira e movimentou a base bolsonarista. No dia seguinte, em 10 de julho, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), responsabilizou o governo Lula pela medida. Poucas horas depois, Jair Bolsonaro apareceu publicamente pela primeira vez desde o início de seu afastamento médico, em um encontro com o chefe do Executivo paulista em uma churrascaria de Brasília.
Nos dias seguintes, o ex-presidente intensificou sua movimentação. Na última terça-feira (15/7), participou de uma entrevista nos estúdios do portal Poder360, em Brasília, na qual falou abertamente sobre o tarifaço.
Durante a conversa, Bolsonaro se declarou, afirmando que “é apaixonado” por Trump, a quem chamou de “irmão”, e lamentou não poder ajudá-lo a resolver o impasse com o Brasil. Disse ainda ser contra as tarifas e garantiu que tanto ele quanto seu filho Eduardo Bolsonaro seriam favoráveis a reverter a decisão, caso tivessem liberdade para conversar diretamente com o presidente norte-americano.
Bolsonaro quer passaporte para resolver tarifaço
Na mesma entrevista, Bolsonaro destacou que está impossibilitado de agir para solucionar a questão do tarifaço por não ter acesso ao seu passaporte, que está apreendido pela Polícia Federal desde fevereiro deste ano devido ao processo que pode condená-lo por tentativa de golpe de Estado e outros quatro crimes.
Mesmo assim, declarou acreditar que poderia ter sucesso em intermediar um diálogo com Trump e sugeriu que o governo Lula deveria sinalizar positivamente nesse sentido.
A narrativa foi reforçada nessa quinta-feira (17/7), quando Bolsonaro apareceu no Senado Federal e voltou a dizer que, com o documento em mãos, negociaria diretamente com os EUA. “Se o Lula sinalizar para mim, eu negocio com o Trump. Quem não vai conversar vai pagar um preço alto”, afirmou.
Ao Metrópoles, aliados de Jair Bolsonaro afirmaram que as saídas do ex-presidente, mesmo durante o período de atestado médico, ocorrem por iniciativa própria, ou seja, sem aval da equipe médica ou apoio da família. “Ele é teimoso, não consegue ficar em casa”, disse uma fonte.