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    Trump já arrecadou quase US$ 50 bilhões com tarifaço, diz jornal

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    As tarifas comerciais impostas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, já resultaram em quase US$ 50 bilhões em arrecadação extra para o governo norte-americano. Quatro meses após o início de sua mais recente ofensiva tarifária, apenas China e Canadá adotaram medidas retaliatórias. A maioria dos outros parceiros comerciais evitou confrontos diretos, optando por negociações em vez de uma escalada comercial. É o que revela uma reportagem do Financial Times.

    De acordo com dados do Tesouro dos EUA divulgados na última sexta-feira (11/7), as receitas aduaneiras atingiram US$ 64 bilhões no segundo trimestre de 2025, um aumento de US$ 47 bilhões em relação ao mesmo período do ano anterior.

    As tarifas determinadas por Trump incluem um imposto mínimo de 10% sobre produtos importados de todo o mundo, além de taxas de 50% sobre aço e alumínio, e 25% sobre veículos automotores. A resposta internacional, no entanto, tem sido tímida.

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    Presidente dos EUA, Donald Trump

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    Donald Trump mostra cartaz com tarifas aplicadas a países

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    Presidente Donald Trump

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    Presidente Donald Trump

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    Retaliações pontuais

    A China foi o país que apresentou a retaliação mais ampla, mas com efeito limitado. A receita chinesa com tarifas subiu apenas 1,9% em maio, em comparação com o ano anterior.

    Já o Canadá, embora tenha imposto cerca de C$ 155 bilhões em tarifas retaliatórias entre fevereiro e março, tem recuado diante da pressão americana, inclusive abandonando planos de tributar serviços digitais.

    A União Europeia (UE), apesar de ter cogitado responder com tarifas sobre produtos americanos avaliados em 72 bilhões de euros, adiou sucessivamente sua decisão. Autoridades europeias condicionam qualquer ação ao resultado das negociações com os EUA, cujo prazo final é 1º de agosto.

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    Trump e Xin Jinping

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    Donald Trump, presidente dos EUA, e Mark Carney, Primeiro-ministro do Canadá

    Anna Moneymaker/Getty Images

    Medo de uma guerra tarifária generalizada

    Economistas apontam que o receio de uma guerra comercial mais ampla tem levado países a conter suas reações. Projeções da consultoria Capital Economics indicam que uma escalada tarifária com média de 24% poderia reduzir o PIB global em 1,3% ao longo de dois anos. Em comparação, o impacto atual, com tarifa média de 10%, seria de 0,3%.

    Marta Bengoa, professora de economia internacional na City University de Nova York, afirma que o sistema comercial global atual é centrado nos EUA, o que torna a retaliação menos atraente.

    “Diferente dos anos 1930, hoje o mundo funciona em um modelo em que os EUA são o centro. Retaliar pode parecer politicamente justificável, mas não faz sentido econômico para muitos países”, explicou Marta ao Financial Times.

    Cautela e dependência

    Mesmo aliados próximos, como o México, preferiram a negociação ao confronto. Alvo de tarifas de 25% desde março, o país liderado por Claudia Sheinbaum optou por manter o diálogo. A presidente manifestou publicamente preferência por um acordo, buscando preservar o tratado comercial entre os dois países e o Canadá.

    No Canadá, o primeiro-ministro Mark Carney moderou o discurso após a eleição, abandonando promessas de confronto com os EUA. Com cerca de 20% de seu PIB vinculado ao comércio com os americanos, ante apenas 2% do lado dos EUA, o país adotou uma postura mais pragmática.

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    Na Europa, o temor de perder o apoio americano à segurança da região e à Ucrânia tem influenciado as decisões comerciais. Autoridades da UE afirmam que as tarifas são apenas parte de uma negociação mais ampla com os EUA, que inclui temas estratégicos e diplomáticos.

    Impacto nos consumidores e nas marcas

    Apesar do aumento nas tarifas, especialistas afirmam que o impacto direto sobre os consumidores americanos tem sido limitado.

    Segundo Simon Geale, da consultoria Proxima, marcas globais como Apple, Adidas e Mercedes têm buscado absorver parte dos custos com medidas internas ou repassando aumentos a mercados fora dos EUA.

    “O consumidor americano pode até aceitar um aumento de 5%, mas não de 20% ou 40%”, disse Geale ao FT. A estratégia tem ajudado a manter os preços mais estáveis nos EUA e evitar desgaste político interno.

    Perspectivas

    Com o prazo final das negociações se aproximando, autoridades e analistas esperam que os próximos passos de Trump definam o tom das relações comerciais nos próximos meses. Se novas tarifas de 30% forem aplicadas, como ameaçado, a UE já admite que o comércio transatlântico poderá se tornar inviável.

    Creon Butler, do instituto Chatham House, alerta que a ausência de uma resposta mais firme agora pode ter custos elevados no futuro. “No curto prazo, não retaliar pode parecer sensato. Mas, no longo prazo, os países precisarão decidir até onde estão dispostos a ceder o controle de suas cadeias de suprimento aos EUA.”

    A falta de uma ação coordenada também tem permitido que Trump escolha alvos politicamente convenientes, como o Brasil. Na semana passada, o presidente americano ameaçou aplicar uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros, com base em critérios considerados políticos. O presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), reagiu afirmando que o país responderia com base na Lei da Reciprocidade Econômica.

    Diplomatas e autoridades internacionais reconhecem que a resposta global dependerá da postura americana após 1º de agosto. Até lá, os países seguem tentando equilibrar o pragmatismo econômico com pressões internas e riscos geopolíticos.