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    Veja momento em que chefão do PCC é flagrado em imóvel milionário

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    Em abril do ano passado, um Fiat Toro se aproximou de um prédio de luxo, no Tatuapé, zona leste de São Paulo. Era fim de tarde e, para ingressar no edifício da Rua Itapeti, o condutor precisou abaixar o vidro do veículo. Ao que tudo indica, segundo levantamento do Ministério Público de São Paulo (MPSP), o motorista era Silvio Luís Ferreira, o Cebola.

    Pode-se afirmar que ele esteve no prédio entre 17h e 18h, no dia 5 de abril de 2024, como mostram imagens de câmeras de monitoramento anexadas a um documento da Promotoria obtido pelo Metrópoles (veja galeria abaixo).

    Foragido da Justiça há cerca de 10 anos, Cebola é apontado como um dos integrantes da mais alta cúpula do Primeiro Comando da Capital (PCC), composta também por Marco Willian Herbas Camacho, o Marcola.

    8 imagensCebola está foragido há 10 anos e é apontado como membro da cúpula do PCCCebola e Mude em corredor de imóvel de luxoDupla foi investigada por envolvimento do PCC em empresa de ônibus em SPCriminoso esteve em apartamento avaliado em R$ 3,7 milhões, quatro dias antes de ação do MPSPFechar modal.1 de 8

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    Cebola está foragido há 10 anos e é apontado como membro da cúpula do PCC

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    Cebola e Mude em corredor de imóvel de luxo

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    Dupla foi investigada por envolvimento do PCC em empresa de ônibus em SP

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    Criminoso esteve em apartamento avaliado em R$ 3,7 milhões, quatro dias antes de ação do MPSP

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    Cebola foi até o local acompanhado do advogado Ahmed Hassan Saleh, o Mude, que foi acionista da empresa de ônibus UpBus (que opera linhas na zona leste de São Paulo) e é acusado de lavar dinheiro do PCC. Ele foi investigado sobre a infiltração da facção criminosa nas eleições, além de ser suspeito de pedir a cabeça de Vinícius Gritzbach – delator do PCC – assassinado em novembro do ano passado, no Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos, região metropolitana.

    O que mostram as imagens

    Mude, supostamente aliado ao PCC, aparece ao lado de Cebola. Eles frequentaram o local entre as 17h e 18h de 5 de abril de 2024. Além deles, a esposa de Mude, Rosana Aparecida Ferreira dos Santos, teve a presença captada por câmeras instaladas na varanda, corredor de serviço e na adega do imóvel.

    Relatório do Grupo de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do MPSP, obtido pelo Metrópoles, aponta que Cebola “estaria frequentando” o local, sem detalhar eventuais visitas anteriores.

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    Para a investigação, as imagens sugerem que o imóvel estava sendo preparado para uma futura ocupação. Uma denúncia, mencionada no relatório da Promotoria, teria indicado que o apartamento de luxo “possivelmente” era habitado pelo chefão do PCC.

    Era sabido que Mude, por sua vez, morava em um imóvel, que fica a cerca de 800 metros de distância do local vistoriado, “o que permitiria um contato próximo entre ambos”.

    Cebola sempre negou relação com o PCC. Nem ele nem a defesa foram localizados, assim como a de Mude. O espaço segue aberto para manifestações.

    Reduto do PCC

    Como já mostrado pelo Metrópoles, o Tatuapé virou o principal reduto das lideranças da facção criminosa na cidade.

    Investigações apontam que os chefões do PCC investem fortunas obtidas com o tráfico de drogas na compra de imóveis e de carros de luxo na região, que atravessa uma forte expansão imobiliária, com empreendimentos de alto padrão, resultante da ascensão social de moradores da zona leste, incluindo os criminosos.

    Os itens ostentados pelos “novos ricos” do crime desencadearam operações das polícias Federal, Civil e do Gaeco, que miraram concessionárias de veículos, construtoras e imóveis de luxo usados pelo PCC.

    Apesar de morarem nos apartamentos de alto padrão e de guiarem carrões avaliados também em milhões, os criminosos não registram os itens em seus nomes — para dificultar o rastreamento do dinheiro que lavam ao investirem nesses patrimônios.

    Quem é Cebola

    Acusado de usar empresa de ônibus para lavar dinheiro do PCC, o foragido Silvio Luiz Ferreira, o Cebola, coleciona passagens por cadeias paulistas. Ele é condenado por tráfico de drogas e já foi investigado no esquema que mandou mais de R$ 1 bilhão da facção criminosa para o exterior.

    Cebola era o único alvo da Operação Fim da Linha, deflagrada pelo MPSP em 9 de abril do ano passado. Ele continua foragido. A ação mirou o setor financeiro do PCC e identificou movimentação de mais de R$ 732 milhões, entre 2020 e 2022, considerando todos os investigados. Segundo o MPSP, Cebola também é sócio da UpBus.

    Durante o cumprimento de mandados de busca, policiais encontraram armas no apartamento de Cebola, na região do Tatuapé, na zona leste paulistana. O procurado, no entanto, não estava no local.

    10 imagensAcessórios e produtos de beleza apreendidos em operação do MPSPPromotor Lincoln Gakiya fala a policiais antes do início da Operação Fim de Linha, que mira empresas de ônibus suspeitas de ligação com o PCCViaturas policiais a postos para participar da Operação Fim de Linha, do MPSP, que mira empresas de ônibus suspeitas de ligação com o PCCViaturas policiais a postos para participar da Operação Fim de Linha, do MPSP, que mira empresas de ônibus suspeitas de ligação com o PCCPoliciais recebem orientações antes de  participar da Operação Fim de Linha, do MPSP, que mira empresas de ônibus suspeitas de ligação com o PCCFechar modal.1 de 10

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    Acessórios e produtos de beleza apreendidos em operação do MPSP

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    Promotor Lincoln Gakiya fala a policiais antes do início da Operação Fim de Linha, que mira empresas de ônibus suspeitas de ligação com o PCC

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    Viaturas policiais a postos para participar da Operação Fim de Linha, do MPSP, que mira empresas de ônibus suspeitas de ligação com o PCC

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    Viaturas policiais a postos para participar da Operação Fim de Linha, do MPSP, que mira empresas de ônibus suspeitas de ligação com o PCC

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    Policiais recebem orientações antes de participar da Operação Fim de Linha, do MPSP, que mira empresas de ônibus suspeitas de ligação com o PCC

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    Operação Fim de Linha, do MP, apreendeu armas e dinheiros com dirigentes de empresas de ônibus

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    Operação Fim de Linha, do MP, apreendeu armas e dinheiros com dirigentes de empresas de ônibus

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    Agentes da receita em garagens de ônibus

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    Luiz Carlos Efigênio Pandolfi, o Pandora, dono da Transwolff

    Reprodução/Redes Sociais

    Tráfico

    A folha de antecedentes de Cebola, obtida pelo Metrópoles, mostra que ele foi preso pela primeira vez em janeiro de 1998, acusado de roubo. Inicialmente, ficou detido na carceragem do 4º Distrito Policial de Guarulhos, na Grande São Paulo.

    O criminoso também passou por penitenciárias de Valparaíso, Lucélia e Mirandópolis, no interior paulista, antes de receber liberdade condicional em 2002.

    Dez anos depois, em junho de 2012, ele foi preso por policiais militares da Rota na garagem de uma empresa de transportes, na zona leste da capital, onde havia 635 quilos de maconha e mais de R$ 149 mil. Segundo a investigação, Cebola trabalhava oficialmente na Cooperativa Associação Paulistana, do ramo de transporte, mas, na verdade, já exercia cargo de liderança no PCC.

    O traficante ficou detido na Penitenciária 2 de Presidente Venceslau, também no interior, que abrigava a cúpula da facção naquela época. Entre os detidos na cadeia de segurança máxima estava Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, apontado como o chefão do PCC.

    Lavagem para o PCC

    Cebola conseguiu um habeas corpus e foi beneficiado com alvará de soltura em abril de 2014. Meses depois, em outubro, ele seria condenado a 14 anos, 3 meses e 15 dias de prisão por tráfico de drogas e associação criminosa, no Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP), mas não voltou para a cadeia.

    Em 2020, Cebola foi um dos denunciados pelo MPSP no âmbito da Operação Sharks, a primeira a atacar a célula financeira do PCC, que identificou o envio de R$ 1,2 bilhão da facção para o Paraguai, por meio do esquema de “dólar cabo”, técnica de lavagem de dinheiro.

    O MPSP diz que o traficante participava das “redes fechadas de comunicação do PCC”, formada apenas por chefões, e era braço direito de Marcos Roberto de Almeida, o Tuta, então apontado como sucessor de Marcola nas ruas.

    Segundo a denúncia, Cebola era responsável pela logística de cargas de cocaína, oriunda principalmente da Bolívia, e por administrar os gastos da “cozinha” – nome dado aos laboratórios de droga da organização criminosa.

    Parte dos acusados na Operação Sharks foi condenada pelo esquema de lavagem do PCC. No caso de Cebola, no entanto, a Justiça paulista entendeu que não havia indícios suficientes para aceitar a denúncia.