Saul Klein, de 71 anos, colocou seu material genético à disposição da Justiça, numa alegada tentativa de destravar o inventário de Samuel Klein, o fundador das Casas Bahia, que morreu em 2014. O oferta da cessão do DNA foi feita em petição encaminhada à 6ª Vara Cível de São Caetano do Sul, na terça-feira (19/8).
No documento, ao qual o Metrópoles teve acesso, Saul alega que se encontra “há mais de uma década privado de seu quinhão hereditário”, por causa de uma “pendência” no processo. No caso, trata-se de uma ação de suposta paternidade, movida por Moacyr Ramos de Paiva Agustinho Júnior.
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Agustinho Júnior nasceu em 1976. Em 2008, dois anos antes de morrer, sua mãe, Rita de Cássia, teria confidenciado que ele era filho do “rei do varejo”. Antes disso, havia apenas rumores sobre o caso.
Em 2011, Agustinho Júnior entrou com a ação na Justiça. Nela, afirmou que o relacionamento entre Rita e Samuel teria começado quando sua mãe tinha 17 anos. O dono da rede de lojas, nessa época, completara 45 anos. Agora, o processo no qual Agustinho Júnior se apresenta como filho biológico do empresário se encontra em grau de recurso no Superior Tribunal de Justiça (STJ).
“Boa-fé”
A “petição do DNA” afirma que a atitude de Saul representa um “gesto de boa-fé, visando destravar o andamento do inventário”. “Saul coloca, nesta oportunidade, seu material genético à disposição do Juízo, para que seja realizado, de forma célere, exame de DNA apto a elucidar, de forma definitiva, a questão da consanguinidade entre Moacyr (Agustinho Júnior) e Samuel Klein”, menciona o texto.
O documento cita ainda que o material genético foi oferecido neste momento por causa de um problema de saúde do herdeiro. O texto diz que Saul, com 71 anos, foi submetido a cirurgia emergencial em 11 de julho de 2025, após ser encontrado em estado crítico, com septicemia e perfuração de úlcera gástrica hemorrágica.
Internação na UTI
Depois disso, ainda segundo o documento apresentado à Justiça, o herdeiro permaneceu internado em uma UTI, tendo sido submetido a “procedimentos invasivos e tratamento intensivo para conter o quadro infeccioso e as complicações gastrointestinais”. “Atualmente”, acrescenta a petição, “encontra-se em estado clínico delicado, com prognóstico reservado, necessitando de acompanhamento médico multidisciplinar, uso contínuo de medicamentos de alto custo e monitoramento diário para prevenção de novas complicações.”
Sem dinheiro
Saul alega que “não tem liquidez para fazer frente a esses gastos”, ou seja, não tem dinheiro para pagar o tratamento médico, destacando que o plano de saúde do herdeiro, aquele que viabilizou a internação hospitalar, foi pago por outra pessoa e “não por ele próprio”. “Os custos com a equipe médica que procedeu no atendimento emergencial e acompanhamento de Saul foi igualmente arcado por esse terceiro.”
Por fim, os advogados de Saul afirmam que, em se tratando do herdeiro de Samuel Klein, “empresário com um dos patrimônios mais significativos do Brasil, é absolutamente insensato e desumano que não se possa ter acesso ao conforto e ao amparo necessários em momento tão delicado”.
No início de agosto, Saul Klein já havia tentado receber ao menos parte da fortuna deixada pelo pai. Na ocasião, alegou que estava internado em estado crítico na UTI mencionada na petição.
Irmão contesta
Os representantes legais de Michael Klein, irmão de Saul e também herdeiro das Casas Bahia, contestaram a informação sobre a UTI. Por meio de nota, afirmaram que Saul “omitiu que, no decorrer da ação de inventário”, foi o único herdeiro que recebeu adiantamento do “quinhão” da herança. Em novembro de 2020, ele “obteve um adiantamento de mais de RS 30 milhões”.
Os advogados de Michael destacam que uma nova antecipação, contudo, já foi negada e, na nota, reproduziram um trecho da decisão da Justiça sobre o episódio: “O processo de inventário não se compara a ‘caixa eletrônico’, para saques de quinhões, indiscriminadamente, sempre que o valor anterior chegar ao final”, disse a decisão do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP).
Saída da UTI
A réplica de Michael também negava o argumento segundo o qual Saul necessitava de dinheiro para bancar o tratamento de saúde. Ela dizia que, embora Saul tenha “noticiado” a internação, “poucos dias depois”, foram informados que “ele já havia recebido alta hospitalar”.
A nota mencionou, não sem ironia, que era de “sobejo conhecida a vida ostentada pelo ‘enfermo Saul’”. “Suas ‘proezas’ estão sendo analisadas nas searas criminais. A cerebrina postulação visa, tão somente, amealhar recursos para prosseguir nessa senda”.
Nesse caso, Michael fazia menção a acusações sobre crimes sexuais, supostamente cometidos por Saul Klein. Em 2023, ele foi condenado pela Justiça do Trabalho a pagar R$ 30 milhões, após acusações de que teria explorado sexualmente e submetido à condição análoga a escravidão diversas mulheres.
No início do processo, a fortuna deixada por Samuel foi estimada em R$ 260 milhões. Se corrigido, esse valor atingiria cerca de R$ 500 milhões.