Pesquisadores descobriram vestígios de compostos psicoativos em dentes humanos com cerca de 4 mil anos. A análise foi feita em placa dentária fossilizada retirada de um cemitério pré-histórico encontrado na Tailândia.
O estudo publicado na revista Frontiers in Environmental Archaeology, na última quarta-feira (30/7), revela o uso antigo da noz de bétele, uma semente que é tradicionalmente mastigada e pode causar efeitos como euforia e aumento de energia.
As marcas escuras deixadas nos dentes de quem masca a semente são sinais comuns dessa prática, mas nem sempre estão presentes em restos mortais. No dente observado, pelo estado de deterioração, foram os sinais bioquímicos invisíveis a olho nu que confirmaram o uso. Os compostos detectados (arecolina e arecaidina) são característicos da noz de bétele e foram preservados por milênios ao se incrustarem no molar.
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Vestígios em dentes sinalizam hábito
A descoberta ocorreu no sítio arqueológico de Nong Ratchawat, onde mais de 150 sepultamentos da Idade do Bronze foram escavados desde 2003. Os pesquisadores analisaram 36 amostras de cálculo dentário de seis indivíduos distintos.
No laboratório, as placas foram submetidas a testes químicos detalhados. Para validar o método, a equipe também produziu misturas mastigáveis com os mesmos ingredientes usados tradicionalmente. O preparo incluiu noz seca, folhas de bétele, tabaco e calcário rosa.
Pesquisadores refizeram preparos da planta como se crê que eram usados na época para entender os efeitos nos dentes
Com ajuda de saliva humana, os pesquisadores simularam a mastigação das plantas. Isso permitiu comparar os resíduos modernos com os vestígios antigos encontrados nas amostras. O resultado foi a confirmação do uso da planta há quatro milênios.
Os sinais químicos estavam concentrados em um único indivíduo, identificado como Burial 11. Os compostos encontrados indicam consumo repetido, sugerindo que a prática fazia parte do cotidiano de ao menos uma parte daquela população.
“A presença de compostos da noz de bétele no cálculo dentário sugere consumo repetido, visto que esses resíduos são incorporados aos depósitos de placa mineralizada ao longo do tempo, devido à exposição regular”, explicou a arqueóloga Shannon Tushingham, autora sênior e curadora associada de antropologia na Academia de Ciências da Califórnia.
Como as dogas eram consumidas?
A ausência de manchas visíveis nos dentes levanta novas hipóteses. O uso pode ter variado ao longo do tempo, com métodos diferentes de consumo ou cuidados de higiene que impediram a mudança da coloração dos dentes. Processos pós-morte também podem afetar a preservação.
A presença de contas de pedra no sepultamento pode indicar algum traço de identidade ou função social do indivíduo. Investigar se outros enterros têm os mesmos elementos pode revelar padrões de distribuição desses objetos e das substâncias associadas a apenas alguns grupos sociais.
A mastigação de bétele ainda é comum em algumas regiões da Ásia. Embora em declínio, a prática mantém significado cultural profundo e revela continuidade histórica entre comunidades ancestrais e populações atuais.
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