Quase um terço (32%) de toda a água tratada pela Sabesp, incluindo aquela dos reservatórios que abastecem a Grande São Paulo, é perdida durante a distribuição, seja por causa de vazamentos na rede ou dos “gatos” (ligações clandestinas). Os números são semelhantes aos que eram apresentados pela companhia entre 2014 e 2015 (31,4% e 30,5%, respectivamente), há dez anos, durante a crise hídrica que provocou transtornos à população da região metropolitana.
Na segunda-feira (25/8), a Arsesp determinou que a Sabesp reduza a pressão na rede de abastecimento durante o período noturno para preservar o nível dos reservatórios e mananciais da região, diante da estiagem, com volume de chuvas abaixo da média histórica ao longo deste ano. A estimativa é que a medida seja suficiente para economizar 4 metros cúbicos por segundo, em um sistema integrado que forneceu, em média, 73 m³/s em agosto.
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Os 32% de desperdício na distribuição são equivalentes, na região metropolitana, a todo volume produzido pelos sistemas Guarapiranga, Rio Grande e Rio Claro, somados. O percentual é referente a 2023, último dado disponível por parte da agência. A perda de água preocupa pelos custos ambientais e financeiros para se obtê-la. Encontrar novas fontes de abastecimento para a região metropolitana é algo caro.
Como exemplo, para conseguir com o Sistema São Lourenço o equivalente a 5 m³/s (volume fornecido atualmente), a Sabesp precisou investir cerca de R$ 2,2 bilhões em uma parceria público-privada. É água que vem de um manancial a 70 km de distância da capital paulista, suficiente para abastecer cerca de 2 milhões de moradores do oeste da região metropolitana.
Os números da própria Sabesp diferem pouco daqueles apresentados pela Arsesp. Segundo o site da companhia, em 2014, o índice de perdas de micromedição (vazamento e “gatos” somados) era de 29,8%. Em dezembro de 2023, 29,5%.
A companhia pondera, entretanto, que o volume de água perdido por ligação (imóvel) caiu de 319 para 260 litros por dia no período. Ou seja, o percentual praticamente se manteve, mas houve expansão da rede, com mais locais atendidos.
A Arsesp diz que o percentual da Sabesp é inferior à média nacional.
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Volume de águas nas represas de São Paulo é o menor desde o auge da crise hídrica em 2015
Reprodução/Wikimedia Commons2 de 6
Represa Billings, na área da zona sul de SP
Omar Matsumoto, Gabriel Inamine, Luciana Nascimento e Nilson Sandré, PMSBC3 de 6
Hidroavião cai na represa Jaguari (SP_
Reprodução/Prefeitura de Bragança Paulista4 de 6
Sistema Cantareira, responsável por abastecer a Grande SP
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Sistema Cantareira abastece cerca de 7,3 milhões de pessoas por dia.
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Sistema Cantareira, em SP
Governo de São Paulo
Perdas
Conselheiro do Instituto de Engenharia (IE), Marcelo Rozenberg afirma que o conceito de perdas é muito vasto, incluindo questões contábeis e controles físicos.
“Contabilmente, a concessionária de saneamento fornece gratuitamente água para prédios públicos, limpeza e lavagem de ruas sem ser remunerada por isso, o que costuma ser ‘abrigado’ sob a rubrica de perdas, por não serem cobráveis”, diz.
Segundo Rozenberg, a própria operação de oferta também utiliza água para limpeza de filtros, atividade que não é faturável. No Japão, por exemplo, isso equivale a 8% do total de água produzida.
Fora isso, cita aquilo que todos entendem claramente ao ver as ruas das cidades. “Naturalmente, todos observamos vazamentos nas vias públicas, que são mais facilmente entendidas como perdas”, afirma.
O especialista afirma que a capital paulista quadruplicou de população nos últimos 40 anos e as redes de distribuição “cresceram atabalhoadamente” para atender à demanda.
“As redes foram estendidas para atender situações que eu chamaria de emergenciais, por mais planejadas que fossem. Então, não teve condição dessas expansões serem acompanhadas pela instrumentação e monitoramento operacional necessários ou convenientes”, diz.
O próprio relevo da região metropolitana também influenciaria nas perdas, com montanhas e vales, segundo Rozenberg. “Você tem uma diferença de pressões que vão afetar essas questões de perdas”, afirma.
Redução de pressão
A Sabesp passa a adotar, a partir desta quarta, a redução de pressão no horário noturno e na madrugada, por 8 horas, das 21h às 5h.
Segundo a Arsesp, cabe à Sabesp todas as medidas para diminuir os problemas decorrentes da redução de pressão. “Isso inclui o fornecimento emergencial de soluções alternativas, como caminhões-pipa, interligações temporárias ou reservatórios domiciliares para usuários vulneráveis e serviços essenciais”, afirma.
O que diz a Arsesp
A agência afirma que o novo contrato de prestação de serviços da Sabesp estabelece “metas rigorosas para a redução das perdas de água e determina investimentos obrigatórios nesse sentido, como a substituição de ramais antigos, a modernização da rede e a adoção de tecnologias de monitoramento e setorização”.
Segundo a agência, sob responsabilidade do governo Tarcísio de Freitas (Republicanos), essas iniciativas “contribuirão para a redução das perdas ao longo da produção e distribuição”.
A Arsesp diz que, entre 2009 e 2023, a Sabesp destinou R$ 9,4 bilhões a ações voltadas ao controle de perdas.
O que diz a Sabesp
A Sabesp diz que, de acordo com o último Relatório de Sustentabilidade, o índice de perdas reais na micromedição é 19,40%, e o índice de perdas totais (que inclui as fraudes) na micromedição é de 29,40%.
A companhia diz que o índice de perdas totais da Sabesp (29,4%) é inferior à média nacional, de 37,8%, e à média dos 100 maiores municípios do país (35,04%), de acordo com o relatório “Estudo de Perdas de Água 2024”, do Instituto Trata Brasil, elaborado a partir de dados do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS).
A Sabesp diz que, para combater as perdas aparentes, o novo contrato de concessão autorizou a instalação de infraestrutura em áreas vulneráveis e rurais, o que não era previsto no antigo contrato.
A Sabesp diz que, de janeiro de 2024 até julho de 2025, conectou à rede de água 78.014 domicílios em áreas informais, superando a meta prevista até dezembro de 2025 de 52.407 domicílios. Segundo a companhia, essas ações, além de levarem mais saúde e qualidade de vida à população, contribuem para reduzir as perdas por ligações irregulares.
“Em 2025, estão previstos investimentos de R$ 2,05 bilhões no combate às perdas, especialmente na pesquisa e reparo de vazamentos em redes e ramais, na substituição de hidrômetros, no combate às fraudes e na regularização de áreas”, diz a companhia.