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    Empresário preso em Santo André escondia R$ 1,9 milhão no guarda-roupa

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    A Polícia Federal (PF) encontrou R$ 1,9 milhão em dinheiro vivo no guarda-roupa de um empresário preso durante a operação que terminou com o afastamento do prefeito de São Bernardo do Campo, Marcelo Lima (Podemos), na semana passada, por suposto envolvimento em um esquema de corrupção na cidade da Grande São Paulo.

    Edimilson de Deus Carvalho, sócio da Terraplanagem Alzira Franco, foi um dos 16 alvos de mandados de busca e apreensão expedidos pela Justiça paulista e cumpridos no dia 14/8. Ele acabou preso em flagrante após a PF encontrar os valores em um apartamento dele, sem origem comprovada do dinheiro.

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    A operação foi deflagrada contra um suposto esquema de desvios de verba da Prefeitura de São Bernardo. Na ocasião, a Justiça afastou o prefeito Marcelo Lima e o presidente da Câmara Municipal, Danilo Lima de Ramos (Podemos). Nessa segunda-feira (18/8), ambos foram denunciados pelo Ministério Público de São Paulo (MPSP) pelos crimes de corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa.

    Segundo a denúncia, feita contra outros oito alvos, envolvidos desviavam recursos públicos por meio de empresas que mantêm contratos com a prefeitura e a Fundação ABC. O esquema teria iniciado em 2022 e vigorado até a última semana, quando foi deflagrada a operação.

    Embora a empresa de Edmilson não possua contrato com a gestão, ele foi flagrado em mensagens suspeitas do principal operador do esquema, o ex-assessor parlamentar Paulo Iran Paulino Costa. Em uma delas, ele escreve ao prefeito Marcelo Lima: “Edmilson ok 30 kilos”. Segundo a PF, o texto significa uma entrega no valor de R$ 30 mil. Marcelo Lima responde: “ótimo”.

    10 imagensDinheiro em espécie na casa de um servidor públicoR$ 210 mil em espécie foram achados na casa do sócio de uma empresa de medicamentosPF fez apreensões de cédulas de dinheiro em uma empresa de medicamentosQuase R$ 2 milhçoes foram apreendidos na casa de um sócio de empresa de terraplanagem foi alvo de mandado de buscaPilhas de dinheiro achadas na casa do sócio de uma empresa de terraplanagemFechar modal.1 de 10

    Dinheiro encontrado na casa de um servidor público

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    Dinheiro em espécie na casa de um servidor público

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    R$ 210 mil em espécie foram achados na casa do sócio de uma empresa de medicamentos

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    PF fez apreensões de cédulas de dinheiro em uma empresa de medicamentos

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    Quase R$ 2 milhçoes foram apreendidos na casa de um sócio de empresa de terraplanagem foi alvo de mandado de busca

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    Pilhas de dinheiro achadas na casa do sócio de uma empresa de terraplanagem

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    Relógios apreendidos na casa do sócio de uma empresa de exportação e importação

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    Arma e munição apreendidas na casa do sócio de uma empresa de exportação e importação

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    Arma e dinheiro apreendidos na casa do sócio de uma empresa de exportação e importação

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    Relógios de luxo apreendidos na casa do sócio de uma empresa de exportação e importação

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    Em outra conversa com Edimilson sobre suposta tratativa envolvendo dinheiro, Paulo Iran menciona uma quantidade de “convites” e o empresário avisa o assessor que “confirmou com o ‘chefe’ os ‘valores’”, segundo a investigação.

    Devido aos indícios de envolvimento com o grupo, Edimilson foi um dos alvos de busca e apreensão autorizados pela Justiça. Em um de seus endereços, em Santo André, também na Grande São Paulo, a PF encontrou “diversas caixas e envelopes contendo grande quantidade de dinheiro em espécie”, com notas de R$ 50, de R$ 100 e R$ 200.

    Na carteira dele, ainda foi encontrado um cartão de visitas do prefeito afastado Marcelo Lima. Em outro endereço, onde viveria um filho de Edimilson, a PF achou três relógios da marca Rolex. Devido à apreensão dos valores, a Justiça determinou a prisão de Edimilson.

    “Nesse contexto, a conduta de Edimilson se enquadra no núcleo típico da ocultação, especialmente diante da manutenção de elevada quantia em espécie (R$ 1.947.800,00) em um cenário econômico marcado pela predominância de meios eletrônicos de pagamento, como cartões, transferências via Pix e aplicativos bancários. Tal prática é incompatível com a dinâmica financeira lícita atual”, diz o auto de prisão.

    Além do prefeito, quem são os alvos da operação

    • Antonio Rene da Silva Chagas — Ao lado de Paulo Iran Paulino Costa, o servidor Antonio Rene da Silva Chagas, conhecido como “Renegade”, atuava na divisão do dinheiro obtido por meio do esquema, que seria entregue para os beneficiários em mochilas e caixas de papelão.
    • Fabio Augusto do Prado — Apelidado no esquema como “Fabio Campanha” e “Sacolão”, o secretário de Coordenação Governamental, Fabio Augusto do Prado, teria sido flagrado em conversas de WhatsApp com operadores do esquema falando sobre a “chegada de valores”, que seriam recebido por meio de dinheiro fracionado.
    • Roque Araújo Neto — Também apontado como operador do esquema, o servidor da Câmara Municipal de São Bernardo do Campo Roque Araújo Neto aparece em anotações do caixa clandestino de Paulo Iran. Nos papéis encontrados, havia um crédito de R$ 390 mil associado ao nome dele.
    • Sócios da Quality — Felipe Rafael Pereira Fabri e Caio Henrique Pereira Fabri, sócios da Quality Medical Comercio e Distribuidora de Medicamentos, são alvos da operação porque nas anotações de Paulo Iran a empresa é associada a valores expressivos, que somam pelo menos R$ 666 mil.
    • Sócios do Consórcio São Bernardo Soluções — Luís Roberto Peralta e Leonardo Agnello Pegoraro, sócios do Sócios do Consórcio São Bernardo Soluções, também são alvo de mandados de busca por anotações relacionando a empresa a pagamentos, de pelo menos R$ 174 mil.
    • Sócio da Ballarin Imobiliária — Apesar de a empresa, ao contrário de outras investigadas, não prestar serviço para a prefeitura, o sócio Murilo Batista de Carvalho foi alvo de mandado de busca. Em anotações de Paulo Iran, Murilo aparece associado ao número 400, o que, para a PF, também poderia indicar pagamento.
    • Sócio da Terraplanagem Alzira Franco — Assim como no caso da Ballarim, a empresa Terraplanagem Alzira Franco, de Edmilson de Deus Carvalho, também não possui contrato com a gestão municipal de São Bernardo do Campo. No entanto, nas anotações do principal operad0r do esquema conta “Edmilson 30k ok”, o que indicaria a movimentação de R$ 30 mil. A PF cita ainda uma conversa de 2024 em que Edmilson dá a Iran orientações sobre quando quantias em dinheiro deveriam ser entregues.
    • Danilo Lima de Ramos — O vereador Danilo Lima de Ramos, segundo a PF, é mencionado em conversas entre Paulo Iran e Fabio Augusto Prado. “Do Danilo, é uma conta do Danilo, os negócios dele lá… Outras coisas, entendeu?”, diz Iran em um dos trechos mencionados. Há ainda indicação de depósito solicitado por Danilo e feito pelo operador na conta de terceiro.
    • Ary José de Oliveira — O vereador Ary José de Oliveira também aparece em conversas dos operadores do esquema. “Ary até agora 3x de 50”, diz Paulo Iran. Há ainda anotações, diversos valores associados ao nome do parlamentar, diz a PF.
    • Paulo Sérgio Guidetti — Ex-secretário de Administração e atual servidor municipal de São Bernardo do Campo, Paulo Sérgio Guidetti é mais um que aparece em mensagens trocadas por Paulo Iran. “Acabei de pegar… ele disse pra conferir. Provavelmente veio os 150”, afirma o operador.

    Outro lado

    Em nota ao Metrópoles, a Prefeitura de São Bernardo do Campo disse que vai colaborar com as informações necessárias em relação ao caso. “A gestão municipal é a principal interessada para que tudo seja devidamente apurado. Reforçamos que o episódio não afeta os serviços na cidade”, diz o texto.

    A reportagem também tenta contato com as defesas dos demais citados nas investigações da PF. O espaço segue aberto para atualizações.