Cientistas de cinco universidades norte-americanas detectam o vírus da gripe aviária (H5N1) em uma forma altamente infecciosa no ar e na água de fazendas de gado leiteiro que foram atingidas pelo surto de 2024 nos Estados Unidos.
Acreditava-se anteriormente que a contaminação de humanos e de outros animais havia se dado apenas através do contato com fluidos, especialmente com o leite contaminado. Entretanto, os pesquisadores descobriram que os patógenos estão no ar das salas de ordenha, o que pode desvendar outros caminhos de transmissão da doença.
O estudo, realizado por cientistas da Universidade Emory com apoio de instituições da Califórnia, Colorado, Michigan e Virgínia, analisou 14 fazendas afetadas em duas regiões do estado. Os resultados foram publicados na sexta-feira (1º/8) no servidor científico bioRxiv, onde são divulgados artigos antes da revisão por pares.
Entenda o que é a gripe aviária
- Também conhecida como influenza aviária, é uma doença viral altamente contagiosa que afeta, principalmente, aves silvestres e domésticas, mas também pode acometer humanos com baixo risco.
- Não há transmissão entre humanos.
- Entre os principais sintomas apresentados por aves estão: dificuldade respiratória, secreção nasal ou ocular, espirros, incoordenação motora, torcicolo, diarreia e alta mortalidade.
- Todas as suspeitas de gripe aviária, que incluem sinais respiratórios, neurológicos ou mortalidade alta e súbita em aves, devem ser notificadas imediatamente à Secretaria da Agricultura por meio da Inspetoria de Defesa Agropecuária.
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Gripe aviária também na água
Os testes mostraram RNA viral ativo presente nas partículas respiradas por vacas ou circulando no ar nas salas de ordenha. Além do ar, o vírus foi detectado em águas usadas para limpeza de equipamentos e nas lagoas de esterco. Algumas dessas áreas são frequentadas por aves migratórias, o que levanta preocupações sobre a possível disseminação interestadual ou interespécies.
Das amostras de água analisadas, duas continham vírus infeccioso com alta carga viral. Os pesquisadores acreditam que os resíduos líquidos podem facilitar a transmissão entre vacas, humanos e animais que circulam perto das instalações.
A combinação de múltiplos fatores de risco, como aerossóis, respingos de leite e contato com águas contaminadas, desafia as estratégias atuais de contenção e exige reforço nas medidas de biossegurança nas fazendas afetadas, especialmente com o início do período mais frio do ano, que se inicia em setembro.
Casos continuam a ser detectados em 2025
Desde o início de 2024, o Departamento de Agricultura dos EUA registrou 1.078 surtos em rebanhos em 17 estados, sendo 771 apenas na Califórnia. O mais recente foi detectado no fim de julho, segundo a agência de inspeção sanitária.
Cientistas alertam que a persistência do vírus em ambientes compartilhados pode sustentar novas infecções entre animais e trabalhadores.
As análises mostraram que os vírus presentes no ambiente variam em regiões distintas da mesma propriedade, indicando que a propagação pode ocorrer por múltiplos meios ao mesmo tempo, com diferentes dinâmicas locais.
A equipe também examinou o leite de vacas individualmente. Mesmo sem sintomas visíveis, muitas amostras apresentavam infecção subclínica. Os pesquisadores recomendam a inclusão de vacas sem sintomas em ações de contenção da doença, uma vez que a maior parte da prevenção tem sido feita com a observação de sinais visuais.
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A gripe aviária H5N1 causa sintomas semelhantes aos da gripe em humanos, mas não nos infecta naturalmente
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O contato direto com animais pode adoecer humanos, mas não foi confirmada transmissão entre pessoas
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Gripe aviária pode atingir aves domésticas como galinhas
Divulgação
Medidas de proteção ainda são limitadas
Os pesquisadores recomendam o uso de proteção respiratória e ocular por parte dos trabalhadores das fazendas. Equipamentos de ordenha devem ser desinfetados regularmente, assim como as áreas de descarte de resíduos líquidos.
Também é necessário tratar o leite e as águas residuais para inativar o vírus antes que retornem ao ambiente, já que o H5N1 sobrevive fora do corpo animal por tempo suficiente para infectar outras vacas e até humanos.
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