O empresário Alejandro Parrilla visitou a Câmara dos Deputados 20 vezes, entre os anos de 2023 e 2024, e informou que seu destino era o gabinete do deputado federal Fred Linhares (Republicanos-DF).
O destino da visita, no caso o gabinete do deputado, é fornecido pelo próprio visitante na entrada da Câmara dos Deputados.
Parrilla é um dos investigados e foi alvo de busca e apreensão na Operação Korban, que apura o desvio de dinheiro proveniente de emendas parlamentares pela Associação Moriá.
Fred Linhares, por sua vez, como revelou a coluna Grande Angular, foi um dos parlamentares que destinou emendas à Associação Moriá para a realização de eventos de esportes digitais.
Uma delas foi no valor de R$ 27,6 milhões por meio de emenda de bancada do DF. O total dos recursos da bancada somava R$ 37,9 milhões e era destinado a um projeto para ensinar jovens a jogar games, como LoL e Free Fire.
O montante não foi pago, uma vez que, após o Metrópoles revelar o caso, o deputado recuou e pediu a suspensão da emenda. Em ofício, no fim de julho, dias antes da operação da PF, o deputado solicitou investigação das denúncias feitas, e, no caso de comprovação, que a entidade fosse impedida de realizar o projeto.
O outro repasse, enviado por meio de emenda individual, era no valor de cerca de R$ 5 milhões, que também não foi pago. Segundo o deputado, ele também solicitou sua suspensão.
Os registros de entradas fornecidos pela Câmara dos Deputados por meio da Lei de Acesso à Informação (LAI) mostram que uma das visitas de Alejandro Parrilla se deu em data próxima ao empenho da última emenda.
O empenho desta ocorreu em 10 de dezembro de 2024. Dias antes, em 25 de novembro, há um registro de entrada de Alejandro na Câmara com destino ao gabinete do deputado.
Questionado pela coluna, Fred Linhares disse não possuir qualquer relação com Alejandro, ou com a Moriá, e nega a quantidade de visitas informadas pela Câmara. Segundo o deputado, ele esteve com Alejandro “em, no máximo, duas ocasiões”. O parlamentar também afirma que “não admite qualquer irregularidade no uso de recursos públicos” (leia mais ao final da reportagem).
Alejandro é sócio da Millenium Eventos e foi alvo da PF no fim de julho. A empresa é uma das companhias subcontratadas pela Associação Moriá, que está no centro das investigações. A Moriá é presidida por Gustavo de Deus, que também foi alvo da PF, e funciona em um endereço ligado a Alejandro Parrilla.
Como mostrou a coluna Grande Angular, a empresa recebeu R$ 1 milhão da ONG para aluguel de equipamentos, ambulância, fornecimento de água mineral e kit alimentação para participantes de um projeto gamer, na edição do Rio de Janeiro.
Gustavo Henrique Fonseca de Deus, presidente da Associação Moriá, e Alejandro Parrilla, sócio da Millennium
Operação Korban
A Operação Korban foi deflagrada pela Polícia Federal no fim de julho e investiga a Associação Moriá, dirigentes e empresas subcontratadas por suposto desvio de recursos públicos oriundos de emendas parlamentares destinados à realização de eventos de esportes digitais.
A apuração começou com auditoria da Controladoria-Geral da União (CGU) em convênios celebrados pela Associação Moriá e o Ministério do Esporte (MESP) entre 2023 e 2024.
A investigação indicou potenciais irregularidades na execução dos convênios para realização de edições dos Jogos Estudantis Digitais (Jedis) no Distrito Federal e no Espírito Santo.
O órgão também identificou o possível direcionamento indevido de subcontratações, o conluio entre empresas envolvidas nas terceirizações dos Jedis e a contratação de firmas de fachada.
As irregularidades mapeadas resultaram em possíveis sobrepreços nas subcontratações, prejuízos potenciais advindos de cotações prévias inidôneas e danos decorrentes da subcontratação de possíveis empresas de fachada.
Defesa
A coluna entrou em contato com o deputado Fred Linhares. Segundo ele, o número de encontros com Alejandro é, na verdade, muito menor do que o que consta nos registros da Câmara. O deputado afirma que os encontros se deram em, “no máximo, duas ocasiões”.
O parlamentar também diz que os assuntos tratados por ambos nessas conversas estavam ligados à Confederação Brasileira de Games e Esports, entidade da qual ele se apresentou como representante.
“Essa pauta era pertinente ao meu mandato, já que sou integrante da Comissão de Ciência e Tecnologia da Câmara dos Deputados e atuo em projetos voltados à inovação e ao desenvolvimento do setor”, afirma o deputado.
Fred Linhares disse também que a Câmara dos Deputados é a “casa do povo” e, portanto, tem acesso público e democrático para qualquer cidadão. “O registro de entrada não significa, portanto, proximidade ou relação pessoal”, disse em nota.
Por fim, o deputado também ressalta que não tem relação com a Associação Moriá, tampouco com as empresas investigadas na operação. Ele diz que não admite “qualquer irregularidade” no uso de recursos públicos e defende que as investigações sigam até o fim.
“Minha atuação parlamentar seguirá concentrada em projetos que tragam benefícios concretos para a população”, afirma.