Ao receber, em 2021, o laudo de superdotado de seu filho de 4 anos, a jornalista Roberta Castro, de 45 anos, decidiu se aprofundar no assunto. Neste ano, já entendendo melhor sobre a neurodivergência, ela decidiu fazer alguns testes. Acreditando ter TDAH ou ansiedade crônica, ela se surpreendeu ao descobrir que, na verdade, também possui superdotação.
Roberta, de São Paulo, começou a suspeitar desde cedo que Filippo possuía alguma condição, mas achava que ele era autista. Ao Metrópoles, ela contou que o primeiro “insight” que ele deu foi aos 8 meses, quando arremessou um brinquedo em 360º e percebeu que, dependendo da velocidade que jogava, o objeto dava mais voltas.
Os sinais foram se intensificando ao longo do tempo. Aos 2 anos, o filho já conseguia lembrar das letras e ler a placa de carros. Aos 3, já falava inglês fluente. O diagnóstico veio no ano seguinte.
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“Sempre achei ele um bebê muito à frente, uma criança esperta. Como eu me defini a vida toda”, explicou. Mesmo assim, Roberta nunca imaginou que poderia receber o mesmo laudo. Tendo Filippo como único exemplo de criança superdotada, não conseguia enxergar em si mesma os sinais que via no filho.
“Eu entendo porque eu nunca me comparei ao Filippo: porque eu sou da década de 80 e, naquela época, não existia o cenário que existe hoje. Então, quando minha mãe falava: ‘Ele é igual a você, você começou a ler gibi com 3 anos’, eu falava: ‘Mas mãe, ele fala inglês’. A pessoa nasce superdotada, mas o estímulo do ambiente faz aquilo se diferenciar. Conforme o estímulo que você dá, na geração que ele nasce e cresce, ele vai aprender a coisa que você ensinou”, disse a jornalista.
Quando recebeu o seu diagnóstico, Roberta Castro chorou de alívio. A jornalista acredita que, com a superdotação, o que mais vai mudar na sua vida é o seu processo de autoperdão, o redescobrimento de novas versões e aprender a ser mais gentil consigo mesma.
Agora com o laudo, Roberta percebeu pequenos sinais que apontavam para a sua condição, como o fato de ela e Filippo terem uma facilidade enorme para criar brinquedos a partir de outros que já possuíam. “Essa velocidade minha de processamento é exatamente isso. Só que isso eu achava supernormal”, brincou.
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Filippo se sentiu acolhido com o laudo da mãe. “Tem sido muito gostoso, a gente tem tido um papo muito mais empático”, contou.
Grupo de apoio para laudo de superdotado
No dia em que saiu do consultório com o laudo do filho, Roberta chorou porque ela não sabia nada sobre a condição. A primeira ideia foi criar um grupo de WhatsApp para se conectar com mães em situações semelhantes. Quando o Crescer Feliz foi criado, o grupo possuía 30 membros. Hoje em dia, são mais de 11 mil brasileiros.
Este ano, a jornalista pediu demissão de seu emprego e decidiu investir inteiramente no projeto, transformando-o em um propósito de vida. Ela realiza encontros anuais e palestras para famílias de crianças superdotadas ou com suspeita de superdotação.
Nascida na periferia, Roberta destaca que a superdotação não escolhe classe social. “Eu tive o apoio da minha família e no esporte para me tirar das drogas e vim para outro lado com a inteligência que eu tinha”, ponderou.