Entre 2009 e 2025, centenas de mulheres foram violentamente marcadas ao terem seus caminhos cruzados com o de Ramiro Gonzaga Barros (foto em destaque), de 36 anos. Crianças, jovens ou adultas — independentemente da idade — tinham no gênero o fator que determinava se seriam vítimas da barbaridade.
Até a publicação desta reportagem, a polícia havia confirmado a existência de 217 vítimas do abusador em série, sendo a maioria no município de Taquara, no Rio Grande do Sul (RS).
A estimativa, no entanto, é assustadoramente maior: os investigadores acreditam que Ramiro tenha vitimado mais de 700 mulheres em diferentes estados do país.
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Acima de qualquer suspeita, suas práticas violentas só foram descobertas em janeiro deste ano. Uma menina de 9 anos foi quem deu voz às vítimas silenciadas e possibilitou a prisão daquele que hoje é considerado o “maior predador sexual do RS”.
À coluna, o delegado Valeriano Garcia Neto explicou que a criança revelou à mãe que estava sendo ameaçada por uma pessoa na internet.
As investigações iniciadas a partir da denúncia culminaram na prisão do homem. Em janeiro, o cumprimento do mandado de prisão marcou o início de um trabalho complexo, que chocou até mesmo os policiais mais experientes.
A abertura da caixa de Pandora
O homem foi preso em flagrante em Taquara, na casa em que residia. Foi descoberto que, entre novembro de 2024 e janeiro de 2025, ele assediou e instigou a menina, em diversas oportunidades, a tirar fotos íntimas e enviá-las pelo Instagram.
Depois de receber as primeiras imagens, iniciou-se uma sequência perturbadora de intimidações, já que ele passou a ameaçar divulgar as fotos caso novas imagens e vídeos em posição sexual não fossem compartilhados pela criança.
Com ele, a polícia apreendeu uma grande quantidade de mídias digitais contendo centenas de imagens de pornografia infantil. De acordo com o delegado, o material ilícito estava sistematicamente organizado em diferentes pastas, cada uma identificada com o nome de uma das vítimas.
Na residência de Ramiro, os investigadores encontraram mais de 750 arquivos, o que levanta a possibilidade de que o homem tenha feito centenas de vítimas.
Em 11 de fevereiro de 2025, o Ministério Público do Estado do Rio Grande do Sul (MPRS) denunciou o predador por três crimes relacionados à primeira denúncia: armazenar imagens pornográficas de crianças, assediar e instigar a menina de 9 anos a tirar fotos nuas e ameaçar divulgar o material na internet.
Os alvos
A extensa ficha de vítimas de Ramiro traz nomes de mulheres de diferentes idades. O delegado, entretanto, afirma que os investigadores identificaram um padrão.
As vítimas tinham, em sua maioria, entre 8 e 13 anos. Elas eram cooptadas por meio das redes sociais. Ramiro utilizava perfis falsos para se aproximar das meninas.
Após adicioná-las, estabelecia uma relação de amizade e confiança, a ponto de convencê-las a enviar o conteúdo. “A cada envio, as exigências aumentavam, sempre sob a ameaça de compartilhamento do material que ele já tinha em seu poder”, detalhou.
O delegado destacou que, além do ambiente virtual, o homem dava aulas gratuitas em projetos sociais de Taquara. “Isso criava uma circunstância muito favorável para que ele tivesse a oportunidade de cometer os crimes”, explicou.
Além de usar o acesso às meninas para abusá-las, o homem mantinha uma loja de animais exóticos no centro da cidade, local que recebia passeios de escolas. Circunstâncias que, mais uma vez, segundo o delegado, contribuíam para sua aproximação às vítimas. “Não resta dúvida de que ele usava essas circunstâncias a seu favor para a prática delitiva”, declarou Neto.