MAIS

    PGR cita organização criminosa atuando em contratos do governo do Pará

    Por

    A Procuradoria- Geral da República (PGR) classificou o grupo ligado ao deputado Antônio Doido (MDB-PA) como uma suposta organização criminosa que atua em desvios de recursos públicos em licitações do governo do Pará.

    Como mostrou a coluna, duas empreiteiras ligadas ao deputado, a JAC Engenharia e a J.A Construcons, venceram ao menos duas licitações no âmbito da Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2025 (COP30).

    Uma delas, no valor de R$ 142 milhões, está sob suspeita de corrupção após a Polícia Federal (PF) encontrar mensagens de um policial militar ligado ao deputado em que ele fala com o secretário de Obras Públicas do Pará, Benedito Ruy Cabral, logo após sacar R$ 6 milhões.

    A conversa foi no mesmo dia em que um consórcio formado por duas empresas ligadas a Antônio Doido ganhou a licitação de R$ 148 milhões da COP30.

    Essa licitação foi suspensa após o PM Francisco Galhardo ser preso ao realizar outro saque, esse de R$ 5 milhões, dias antes das eleições municipais de 2024.

    Para a PGR, o deputado, o PM Francisco Galhardo, que fez os saques milionários e aparece na conversa, e o secretário Benedito Ruy Cabral “aparentam integrar organização criminosa voltada à prática de crimes contra a administração pública e violações em processos de licitação e contratos administrativos, predominantemente no Estado do Pará.”

    Ruy Cabral, secretário de Desenvolvimento Urbano e Obras Públicas do ParáRuy Cabral, secretário de Desenvolvimento Urbano e Obras Públicas do Pará

    “Adicionalmente, foram identificadas evidências do cometimento de delitos eleitorais e transgressões contra o sistema financeiro nacional”, afirma a PGR.

    A investigação do grupo foi solicitada pela Procuradoria em fevereiro deste ano, depois que a PF identificou uma série de indícios de corrupção ao apreender o celular de Francisco Galhardo.

    No pedido, o órgão ainda cita um apontamento da PF, que afirma que tal organização utiliza um “complexo e sofisticado mecanismo de lavagem de dinheiro, proveniente de desvios de recursos públicos, mediante o suposto pagamento de vantagens indevidas para servidores públicos”.

    O que deu início à apuração foi a prisão em flagrante, em 4 outubro de 2024, às vésperas do primeiro turno das eleições municipais, do PM Francisco Galhardo, quando ele fazia outro saque milionário, no valor R$ 5 milhões em Castanhal, a 70 km de Belém.

    Tenente coronel da PM do Pará, Francisco de Assis Galhardo do ValeTenente coronel da PM do Pará, Francisco de Assis Galhardo do Vale

    No momento da prisão, ele entregava cerca de R$ 380 mil a uma pessoa identificada como Geremias Hungria, que também foi detido. Até então, as suspeitas das autoridades eram de ilícitos eleitorais, confirmados mais tarde por meio da análise do celular de Galhardo.

    Com o aprofundamento das investigações, indícios de outros crimes foram surgindo. Foi identificado, por exemplo, que além do saque de R$ 5 milhões, Galhardo também sacou outros R$ 43,8 milhões em pouco mais de um ano, entre 2023 e 2024, segundo dados do Coaf.

    Antônio Doido, por sua vez, é apontado como real proprietário de duas empreiteiras cujas contas bancárias são a origem dos valores milionários sacados pelo PM.

    Uma delas, a J.A Construcons tem como sócia sua esposa, Andrea Dantas. A outra, JAC Engenharia, é registrada em nome de Geremias Hungria, o mesmo preso ao receber os R$ 380 mil. Ambos também são investigados.

    As empresas têm contratos milionários com o governo do Pará, e venceram ao menos duas licitações da COP30.

    DEFESAS

    Procurado pela coluna, o governo do Pará disse em nota que “as empresas J.A Construcons e JAC Engenharia celebraram contratos com a Administração Estadual exclusivamente por meio de processos licitatórios regulares, conduzidos de acordo com a legislação vigente e os princípios constitucionais da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência, estando toda a documentação disponível nos portais oficiais de compras públicas”.

    Sobre as citações ao secretário Ruy Cabral, a nota afirma que no “exercício de suas funções”, o secretário “mantém interlocução institucional com órgãos da Administração Pública e representantes da sociedade civil exclusivamente para a consecução do interesse público, não se estendendo a qualquer espécie de relação de natureza privada.”

    “Jamais foram celebrados contratos ou mantidas relações comerciais com integrantes da Polícia Militar do Estado do Pará, o Secretário não participou de reuniões com o policial mencionado, tampouco recebeu bens, valores ou benefícios de tal agente, e não foi notificado acerca de qualquer investigação ou procedimento administrativo ou judicial que o envolva”, diz nota.

    O governo afirmou ainda que “não possui ciência de qualquer investigação originada a partir das contratações citadas e que, caso seja formalmente notificado, colocará imediatamente todos os mecanismos de controle interno à disposição das autoridades competentes, assegurando a pronta elucidação dos fatos”.

    A defesa do Deputado Antônio Doido disse em nota que “repudia o vazamento de informações sigilosas de investigações em curso no STF e adotará medidas destinadas à responsabilização dos responsáveis pelo criminoso vazamento.”

    “Acerca dos questionamentos formulados, todos eles são fruto de ilações e já foram devidamente esclarecidos nos autos. O Deputado já se colocou à disposição das autoridades para prestar os esclarecimentos solicitados e tem tranquilidade em relação a todos os atos por ele praticados no curso do seu mandato parlamentar”, disse a defesa do parlamentar.

    6 imagensDeputado Antônio Doido (MDB-PA)O deputado Antonio Doido (MDB-PA)O deputado Antonio Doido (MDB-PA)Ruy Cabral, secretário de Desenvolvimento Urbano e Obras Públicas do ParáO deputado Antonio Doido (MDB) ao lado secretário Ruy Cabral, em janeiro deste anoFechar modal.1 de 6

    O deputado Antônio Doido (MDB-PA) na Câmara dos Deputados

    Reprodução/Redes sociais2 de 6

    Deputado Antônio Doido (MDB-PA)

    Reprodução/Redes sociais3 de 6

    O deputado Antonio Doido (MDB-PA)

    Reprodução/Redes sociais4 de 6

    O deputado Antonio Doido (MDB-PA)

    Reprodução/Redes sociais5 de 6

    Ruy Cabral, secretário de Desenvolvimento Urbano e Obras Públicas do Pará

    Reprodução/redes sociais6 de 6

    O deputado Antonio Doido (MDB) ao lado secretário Ruy Cabral, em janeiro deste ano

    Reprodução/redes sociais