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    Pintura saqueada por nazistas vista na Argentina desaparece novamente

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    A polícia argentina realizou uma série de buscas nessa quarta-feira (28/7) para tentar recuperar uma pintura do século 17 levada pelos nazistas em Amsterdã durante a Segunda Guerra Mundial, que foi avistada em uma casa na cidade de Mar del Plata, ao sul de Buenos Aires.

    A obra, desaparecida há décadas, foi vista em um anúncio imobiliário de um casa, pendurada sobre o sofá da sala de estar de uma das filhas de um ex-oficial nazista. Acredita-se que o retrato tenha sido saqueado há 80 anos de um colecionador judeu.

    O quadro Retrato de Dama, do pintor italiano Giuseppe Vittore Ghislandi, fazia parte da coleção do comerciante judeu Jacques Goudstikker, falecido em 1940 enquanto fugia dos nazistas.

    As mais de 1.100 peças da galeria de Goudstikker em Amsterdã, incluindo obras de pintores como Rembrandt e Vermeer, foram compradas por valores muito inferiores ao real por altos membros do regime nazista, entre eles Hermann Göring.

    Obra avistada em anúncio imobiliário

    Repórteres do jornal holandês Algemeen Dagblad encontram o Retrato de Dama em um anúncio imobiliário de uma casa que acredita-se pertencer aos descendentes do oficial nazista próximo a Göring e ex-membro da organização paramilitar nazista Schutzstaffel (SS), Friedrich Kadgien.

    Kadgien fugiu primeiro para a Suíça e depois para a América do Sul, se estabelecendo inicialmente no Brasil e depois na Argentina, onde morreu em 1978 em Buenos Aires. Documentos de época indicam que ele acumulou diamantes e obras de arte por meio de extorsão em Amsterdã.

    O banco de dados oficial holandês de arte desaparecida da Segunda Guerra Mundial, mantido pela Agência do Patrimônio Cultural da Holanda, identifica o Retrato de Dama como pertencente a Goudstikker.

    O jornal holandês tentou durante anos entrar em contato com as filhas de Kadgien, que sempre evitavam responder perguntas sobre o passado do pai. Os repórteres finalmente encontraram a obra quando uma das filhas colocou a mansão à venda numa imobiliária argentina, e colocou no anúncio fotos do interior do imóvel que mostraram a pintura pendurada na sala de estar.

    Pintura “desapareceu”, diz promotor

    Acredita-se que a casa em Mar del Plata pertença a Patricia Kadgien, filha do ex-oficial nazista. Ela não foi indiciada no caso. Seu advogado, Carlos Murias, disse ao La Capital, um jornal local de Mar del Plata, que ela e o marido cooperariam com as autoridades.

    O Ministério Público Federal da Argentina informou que uma operação policial realizada na vila à beira-mar havia encontrado documentos e gravuras alemães potencialmente relevantes da década de 1940, mas não a pintura roubada.

    O promotor argentino Carlos Martinez, que ordenou a busca na residência, afirmou que, embora armas de fogo tenham sido apreendidas durante a operação, a obra havia sumido. “A pintura desapareceu. Apenas uma carabina e um revólver calibre 32 foram apreendidos”, disse Martínez a repórteres.

    O anúncio do imóvel também foi removido do portal da Robles Casas & Campos.

    As autoridades argentinas disseram que estavam intensificando as buscas. A Interpol também auxilia nas investigações.

    Capítulo sombrio na história argentina

    Os acontecimentos reabriram um capítulo sombrio na história do país que abrigou dezenas de nazistas que fugiram da Europa para evitar processos por crimes de guerra, incluindo membros de alto escalão do regime e arquitetos notórios do Holocausto, como Adolf Eichmann.

    Sob o governo do general argentino Juan Perón, cujo primeiro mandato durou de 1946 até sua deposição em 1955, fascistas alemães fugitivos trouxeram consigo propriedades judaicas saqueadas, incluindo ouro, depósitos bancários, pinturas, esculturas e móveis.

    O destino desses itens continua a ser notícia enquanto ainda se arrasta o doloroso processo de restituição na Argentina e em outros países.

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