As condenações internacionais contra o plano do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, de ocupar integralmente Gaza, devastada pela guerra e em meio a uma crise humanitária, não demoraram nesta sexta-feira (8/8). Países europeus, ONU e China demonstraram preocupação, enquanto o grupo palestino Hamas informou que a medida significa o “sacrifício” de reféns.
O Exército israelense se prepara para assumir o controle da Cidade de Gaza, a maior do território palestino, com o objetivo de “derrotar” o Hamas e garantir a libertação dos reféns. O plano foi decidido em reunião do gabinete de segurança de Israel nessa quinta-feira (7/8).
A Alemanha respondeu anunciando a suspensão das exportações de armas que Israel poderia usar em Gaza. Está se tornando “cada vez mais difícil entender” como o plano militar de Israel alcançaria seus objetivos no território palestino e, “nessas circunstâncias, o governo alemão não autoriza, até segunda ordem, a exportação de equipamento militar que poderia ser usado na Faixa de Gaza”, afirmou o chanceler Friedrich Merz, em um comunicado.
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Este plano “deve ser interrompido imediatamente”, disse o Alto Comissário da ONU para os Direitos Humanos, Volker Türk, em um comunicado. Este proejto “contradiz a decisão da Corte Internacional de Justiça de que Israel deve encerrar sua ocupação o mais rápido possível, assim como a concretização da solução acordada de dois Estados e o direito palestino à autodeterminação”, acrescentou Türk.
O primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, classificou o plano israelense de intensificar sua ofensiva em Gaza como um “erro” e pediu que a decisão fosse “reconsiderada” imediatamente. “Esta ação não fará nada para encerrar o conflito ou garantir a libertação dos reféns. Só levará a mais massacres”, concluiu.
Dois Estados
A Espanha também “condena veementemente a decisão do governo israelense de intensificar a ocupação militar de Gaza”. O ministro das Relações Exteriores espanhol, Manuel Albares, acrescentou que o plano “só causaria mais destruição e sofrimento”. Em mensagem no X, ele salientou que “a paz definitiva na região só será alcançada com o estabelecimento de uma solução de dois Estados, que inclua um Estado da Palestina viável”.
A Turquia “exortou a comunidade internacional a assumir suas responsabilidades para impedir a implementação” do plano israelense. O plano “visa deslocar à força os palestinos de suas próprias terras, tornando Gaza inabitável”, afirmou o Ministério das Relações Exteriores turco, em um comunicado.
A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, pediu a Israel que “reconsiderasse” seu plano para Gaza. “O governo israelense deve reverter sua decisão de estender a operação militar em Gaza”, disse a chefe da Comissão Europeia na rede social X. “Um cessar-fogo é necessário imediatamente”, afirmou.
Pequim expressou sua “grave preocupação”, instando Israel a “cessar imediatamente suas ações perigosas”. “Gaza pertence ao povo palestino e é parte do território palestino”, informou um porta-voz do Ministério das Relações Exteriores chinês em texto enviado à AFP.
“Custará caro a Israel”, ameaça o Hamas
O grupo palestino Hamas, que ainda mantém 49 reféns israelenses em seu território, 27 dos quais estão provavelmente mortos, alegou que a ecisão israelense significa o “sacrifício” dos reféns. O movimento islâmico também denunciou “um novo crime de guerra” que “custará caro a Israel”.
A Arábia Saudita também criticou, nesta sexta-feira, o plano israelense de tomar o controle da Cidade de Gaza, acusando Israel de causar “fome” e “limpeza étnica” no território palestino. Riad “condena veementemente a decisão das autoridades israelenses de ocupar a Faixa de Gaza” e denuncia “os crimes contínuos de fome, práticas brutais e limpeza étnica contra o povo palestino”, afirmou o Ministério das Relações Exteriores saudita, na rede X.
Após 22 meses de uma guerra devastadora, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, enfrenta intensa pressão interna e externa para encerrar sua ofensiva na Faixa de Gaza, onde mais de dois milhões de palestinos estão ameaçados de “fome generalizada”, segundo a ONU.
Em Israel, as famílias dos reféns, que se manifestam diariamente para exigir a libertação de todos os israelenses sequestrados pelo Hamas, também estão preocupadas. Este plano “significa abandonar os reféns, ignorando completamente os repetidos avisos da liderança militar e a clara vontade da maioria da população israelense”, afirmou o Fórum das Famílias.
Em Gaza, onde a população vive diariamente sob bombardeios e ordens de evacuação emitidas pelo exército israelense, os moradores disseram temer o pior. “Eles nos dizem para ir para o sul, depois voltar para o norte, e agora querem nos mandar para o sul novamente. Somos seres humanos, mas ninguém nos ouve ou nos vê”, disse Maysa Al-Chanti, 52 anos, mãe de seis filhos, à AFP.
Atualmente, o exército israelense ocupa ou mantém operações em quase 75% da Faixa de Gaza.
Em Israel, o líder da oposição Yair Lapid denunciou uma “catástrofe” que levará à “morte de reféns e de muitos soldados, vai custar dezenas de bilhões aos contribuintes israelenses e provocar o fracasso diplomático”.
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