O governo estadual anunciou, no começo da semana, que a Sabesp deveria reduzir a pressão da rede de distribuição de água da Grande São Paulo, por causa da estiagem que esvaziou os reservatórios da região. A medida foi implementada na quarta-feira (27/8), mas, segundo a companhia, a situação agora é diferente da crise hídrica enfrentada entre 2014 e 2015.
Diretor de Relações Contratuais e Institucionais da Sabesp, Meunim Oliveira Júnior afirma que os investimentos realizados ao longo dos últimos 10 anos, com interligação dos reservatórios e melhorias na rede, colocam a situação atual em um patamar diferente da década passada, quando a companhia teve que promover mudanças em meio à crise.
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“Estamos atuando de uma forma preventiva, seguindo as orientações das agências reguladoras, justamente para ajudar a preservar os mananciais para que, no período úmido, os reservatórios se recomponham dentro das suas médias”, diz Oliveira Júnior, que trabalha há 40 anos na Sabesp.
Alguns problemas persistem ao longo dos anos, como o fato de parte da periferia ainda sofrer com falta d’água durante as reduções de pressão, que se tornaram frequentes após a crise hídrica. Meunim diz que a Sabesp, privatizada no ano passado, tenta resolver esses problemas, mas afirma também que quem tem caixa d’água com litragem suficiente para atender à família não deve sofrer com o desabastecimento agora.
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Saiba que horas Sabesp vai reduzir a pressão da água na Grande SP
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Reservatórios de água da Grande SP atingem menor índice desde 2015
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Sistema Cantareira, responsável por abastecer a Grande SP
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Sistema do Cantareira
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Sistema Cantareira, responsável por abastecer a Grande SP
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Cantareira crise hidrica
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Sistema Cantareira abastece cidades de São Paulo
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Quais medidas serão tomadas pela Sabesp para evitar transtornos nos próximos meses?
A Sabesp está cumprindo uma determinação da agência reguladora, a Arsesp. Por meio de uma deliberação publicada na segunda-feira passada, precisamos iniciar na quarta-feira (27/8) o processo de operação que a gente chama de gestão de pressão noturna. Ela está ocorrendo das 21h até as 5h. Nesse período, para os imóveis e as pessoas que tiverem as suas caixas d’água em ordem, numa quantidade compatível com o número de pessoas que habitam naquela residência, vão passar, inclusive, desapercebidos por essa redução de pressão. No dia seguinte, ao retornar a pressão à operação normal, essa caixa d’água passa a ser abastecida novamente.
Com quais cenários a companhia trabalha para os próximos meses, até a chegada do verão, quando se espera chuva?
Estamos passando pelo chamado período seco, onde naturalmente as chuvas têm sua frequência menor em intensidade. Isso já acontece normalmente, só que, este ano, neste período seco, as chuvas estão abaixo da média. Portanto, com o objetivo preventivo e temporário, estamos seguindo essa deliberação da redução de pressão e a expectativa é a de que, a partir do mês que vem, entrando o chamado período úmido, com o retorno das chuvas, que os reservatórios mananciais sejam recarregados dentro do previsto, com chuvas, pelo menos, dentro da média. A partir desse momento, as agências reguladoras, a SP Águas, junto com a Arsesp, vão verificar e fazer as projeções necessárias para definir quais seriam os próximos passos.
Notamos que, muitas vezes, o efeito de um período seco em determinado ano vai ser sentido no ano seguinte. Qual a perspectiva que se tem em relação à próxima estação seca, ao inverno de 2026? Vocês conseguem fazer alguma previsão?
É bem importante isso que você está dizendo. Como comentei, os estudos em relação a essa questão das chuvas, a chamada pluviometria, ou seja, a recarga, o nível desses reservatórios da região metropolitana, eles são estudados pela agência reguladora SP Águas, com a agência reguladora Arsesp. Através do que possa acontecer nos próximos meses, eles vão refazer os estudos para definir quais seriam os próximos passos. Entre eles, como comentei, o retorno à operação normal. Então, nesse momento, a Sabesp não tem uma definição em relação a isso. Entretanto, vale deixar claro que nós estamos numa situação muito diferente do que aconteceu no período de crise hídrica. Estamos num outro momento. Durante o período da crise hídrica, em 2014, 2015, nós atuamos em crise. Então, todas as ações que foram feitas, as obras que foram feitas, que foram muitas obras importantes de transposição de mananciais, como foi a implantação de um novo sistema produtor, que foi o sistema São Lourenço. Tudo em meio à crise. Com o chamado legado da crise, todas as obras, as ações que nós fizemos e aprendemos naquele período, nós estamos numa situação bem diferente. Estamos atuando de uma forma preventiva, seguindo as orientações das agências reguladoras, justamente para ajudar a preservar os mananciais para que, no período úmido, os reservatórios se recomponham dentro das suas médias.
A privatização promoveu alguma nova distribuição de responsabilidades, em comparação com o que era na última grande crise hídrica? Teve mudança, por exemplo, em relação àquilo que cabe agora à Sabesp?
A Sabesp é uma empresa operadora de saneamento básico, operando aqui no estado de São Paulo, em 377 municípios, entre eles, os municípios da região metropolitana. Temos um contrato novo de concessão, com a desestatização da Sabesp, com a sua privatização, que entrou em vigor, em eficácia, como a gente diz, em julho do ano passado. A partir daquele momento, a Sabesp se torna uma empresa privada e, portanto, seguimos os regramentos, os compromissos previstos nesse novo contrato de concessão. Como eu disse, existem as agências reguladoras do estado, entre elas a SP Águas, a Arsesp, e outros órgãos que são responsáveis pelo acompanhamento e fiscalização de diversos segmentos relacionados ao saneamento. No caso da Sabesp, o maior impacto, digamos assim, nesse momento que tivemos com a privatização, foi justamente a alteração em relação aos nossos compromissos e os nossos recursos que foram ampliados de forma relevante, justamente para a gente poder buscar a universalização do serviço no estado de São Paulo nos municípios operados pela Sabesp. O que aconteceu, muito significativo, foi o aumento de recursos e investimentos previstos nesse contrato, no qual a Sabesp se compromete junto aos municípios, ao poder concedente, ao estado, fazer a universalização dos serviços de água, coleta de esgoto e tratamento até o ano de 2029. Entre esses serviços, além de estender as nossas redes de água e esgoto, também fazer as ações relacionadas às obrigações da Sabesp para a segurança hídrica, que é muito importante, e chamada também de resiliência hídrica. Portanto, fazendo novas obras, além daquelas que foram feitas na crise hídrica, justamente para aumentar a oferta e, principalmente, aumentar a flexibilidade, seja das transposições entre os mananciais, seja as interligações entre os sistemas produtores e sistemas de distribuição de água, para aumentar a flexibilidade do sistema e poder fazer avanços e recursos nesse abastecimento, dependendo da necessidade.
Na última grande crise hídrica, a população da periferia foi bastante afetada pela redução de pressão. A Sabesp já tem um levantamento de quais são os locais que devem ser mais afetados pela redução de pressão agora? Se os moradores da periferia vão continuar sendo aqueles mais atingidos, como foram há 10 anos?
Como eu disse, nós temos uma situação diferente do nosso sistema e tecnologias aplicadas de lá para cá. São mais de 10 anos. Então, nosso sistema ampliou, nossos equipamentos foram ampliados e atualizados, estão sendo utilizadas novas tecnologias, inclusive, de monitoramento desses setores de abastecimento. A abrangência da redução de pressão, é bom deixar claro, que é em toda a região metropolitana. Portanto, em todos os setores de abastecimento, em todos os bairros, por exemplo, do município de São Paulo, indistintamente. É importante destacar que para aqueles locais que tenham a caixa d’água em quantidade adequada para a família, não vão perceber essa redução de pressão no período noturno.
Pergunto porque sabemos que, mesmo sendo geral a redução, quem fica nas bordas do sistema acaba sendo mais atingido. Temos bairros, historicamente, aqui em São Paulo, que, mesmo depois da crise hídrica, continuaram tendo problema com abastecimento quando tem redução de pressão. Essa situação se mantém?
O que acontece é o seguinte. Uma, que a gente ampliou nossos sistemas de reservatórios locais e setorizações justamente para poder abastecer e recuperar o sistema rapidamente. Uma outra questão que é importante é que, em alguns lugares mais distantes dos centros de reservação, principalmente aqueles pontos mais altos, aqueles locais que tem topografia elevada, o que acontece é que, quando começa a redução de pressão, esses pontos mais distantes e elevados em relação à topografia, eles são os primeiros a reduzir a pressão. Na sequência, são os últimos a retornar a pressão, sempre dentro desse período das 21h às 5h. Infelizmente, temos ainda muitas áreas com ligações irregulares, algumas áreas de baixa renda. Essas ligações irregulares acabam consumindo água de alguma forma do nosso sistema, os chamados “gatos”. E esses “gatos” também, dependendo da região, eles também interferem no abastecimento, principalmente em períodos em que está a temperatura mais elevada e momentos de maior consumo. A Sabesp vem trabalhando nas últimas décadas e intensificado agora, após a privatização, a regularização dessas áreas, que é algo inclusive previsto no contrato de concessão. Entretanto, para que a Sabesp possa atuar nessas áreas e fazer essas regularizações, são necessárias autorizações por parte das respectivas prefeituras
Qual a situação da rede de distribuição de água quando a Equatorial assumiu a Sabesp? Quais foram os problemas, os gargalos que vocês encontraram?
A Sabesp, como comentei, ela vem trabalhando nos últimos anos não só na ampliação do sistema de água e esgoto, mas também na renovação dos nossos ativos. Ou seja, renovação, troca das nossas redes de ligação. A Região Metropolitana de São Paulo, como você pode imaginar, tem uma complexidade muito grande, não só pelo seu tamanho, mas pelo número de interferências, as distâncias, as outras infraestruturas que existem. A Sabesp vem trabalhando em projetos e obras de substituição de redes de água e ligações justamente para poder reduzir esses números de vazamentos que acontecem. Inclusive, utilizando novas tecnologias e métodos não destrutivos para poder fazer essa substituição e impactar o menos possível, principalmente na pavimentação e no trânsito, justamente para a gente poder avançar na melhoria e substituição das redes mais antigas. Com a privatização e com esse aumento de recursos que a gente tem e o compromisso da universalização e os compromissos contratuais, a Sabesp está gradativamente aumentando, entre outras coisas, a substituição dos seus equipamentos e de suas tecnologias. Não só do abastecimento propriamente dito, mas automação de sistemas, monitoramento e utilização de inteligência artificial, justamente para a gente poder avançar e ter um tempo, inclusive, de resposta melhor nos casos de vazamentos. Inclusive, aqueles vazamentos chamados não-visíveis, que só são detectados por meio de tecnologias e equipamentos para serem localizados e consertados na sequência.
Vocês têm alguma meta? Seja em quilômetros de substituição de redes de distribuição ou prazo para que a gente tenha um sistema mais resiliente?
Não tenho esse dado aqui disponível, mas o que eu posso falar pra você de forma geral é justamente aquilo que a gente tem previsão contratual. Então, no primeiro momento, os principais investimentos estão focados, até o ano de 2029, nas questões relacionadas à universalização do saneamento. Ou seja, levar água tratada, coleta e tratamento de esgotos a todos os municípios operados pela Sabesp, em toda a extensão territorial, salvo algumas questões legais que não possam ter esse atendimento. Do ponto de vista contratual, temos todas as questões previstas não só da universalização, mas também na melhoria do sistema, tudo isso registrado por meio de compromissos, indicadores e metas no nosso novo contrato de concessão.
Dá para cravar que a gente não deve ter, nem em 2025, nem em 2026, um cenário parecido com aquele que a gente teve em 2014 e 2015?
Nesse momento, não tenho essa expectativa. Agora, para melhores informações sobre essas projeções, aí realmente não é mais a Sabesp, seria, no caso, a agência reguladora SP Águas, com as suas projeções e estudos, trabalhando obviamente junto com a agência reguladora Arsesp, para poder ter o melhor esclarecimento sobre essa questão.
Durante a semana, o sistema como um todo estava captando quase 73 metros cúbicos por segundo dos reservatórios. No ano passado, nessa mesma época, estava captando 66, 65 metros cúbicos por segundo. Por que neste ano só se implementou essa redução agora, já em agosto?
Como disse, essa decisão não se dá exatamente pela Sabesp. Essa decisão se dá pelos estudos e decisão das agências reguladoras. Importante ressaltar que a gente tem que lembrar que, a cada ano, nós temos novos clientes, novas ligações e, portanto, a princípio, um aumento desse consumo. E em períodos, obviamente, que tem temperatura mais elevada, esse consumo acaba aumentando também. Mas, com essa redução de pressão, a nossa expectativa é a redução de 4 mil litros por segundo e, portanto, voltando basicamente às próprias situações que você comentou.