A prisão de Jair Bolsonaro suscitou questionamentos de todos os lados sobre se haverá uma crise institucional com o efeito de paralisar as votações de interesse do governo no Congresso.
A resposta é: não.
A política no Brasil está dividida em três grupos: os bolsonaristas/direita, o centro e a esquerda. Conversei com lideranças de todos eles nas últimas 24 horas.
A conclusão é que:
todo mundo vai usar o caso Bolsonaro para tirar algum proveito disso
o governo guardou bilhões de reais em emendas para negociar com o Congresso no ano eleitoral
ninguém vai dar o sangue para salvar o ex-presidente, aprovando impeachment de ministro do Supremo e se colocando na mira da Corte e da Polícia Federal
tem mais bombeiro na República do que piromaníaco
O que não significa que o Congresso fará cara de paisagem. Os presidentes da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), sofrerão enorme pressão para empoderar o Legislativo. A resposta certamente será negociada com o próprio Supremo — e está longe de ser a votação da anistia.
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Em ano pré-eleitoral, os deputados e senadores (dois terços encerram seus mandatos em 2026) estão preocupados com suas reeleições. O discurso em defesa da anistia para Bolsonaro, ou anti-Supremo, cai como uma luva para quem quer negociar seus interesses eleitorais. Nesse sentido, todo mundo vai usar Bolsonaro — e descartá-lo assim que conseguir o que quiser.
O ex-presidente também faz esse jogo. Bolsonaro é do “PF”: Partido da Família. Seu histórico demonstra que qualquer ameaça ao clã o faz desconhecer seus aliados. A última demonstração disso foi no depoimento ao ministro Alexandre de Moraes no inquérito da trama golpista. O Bolsonaro do palanque deu lugar ao Bolsonaro que pede desculpas e chama quem seguiu suas ordens de malucos.
É fato que o governo vai passar calor para aprovar a sua agenda no segundo semestre. Mas isso não tem nada a ver com Bolsonaro e sim com a falta de base no Congresso.
O que o governo quer aprovar até o final do ano:
Novas regras de tributação sobre aplicações financeiras e ativos virtuais
Redução dos benefícios federais de natureza tributária, financeira e creditícia em, no mínimo, 10%