“Ele me trata como uma princesa ou está apenas fazendo o mínimo?” A pergunta que viralizou no TikTok ultrapassou o tom leve dos vídeos e abriu espaço para uma reflexão profunda sobre o que mulheres esperam – e recebem – de seus relacionamentos. A frase, ao mesmo tempo em que soa como elogio, também é um alerta: será que atitudes básicas de cuidado estão sendo romantizadas como se fossem gestos grandiosos?
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A sexóloga Alessandra Araújo analisa a dualidade dessa expressão, que carrega em si tanto a idealização quanto a crítica. “A frase ‘vida de princesa’ tem um peso cultural enorme. Ela é usada para enaltecer uma relação, mas também pode esconder uma dinâmica de dependência e passividade”, afirma. Para entender a trend, assista ao vídeo.
Entre o conto de fadas e a realidade
De um lado, ser tratada como princesa é receber atenção, carinho e conforto, algo que muitas mulheres desejam e associam ao amor verdadeiro. Do outro, esse tipo de narrativa pode reforçar a ideia de que a mulher precisa ser cuidada, salva, e que o parceiro deve agir como um “príncipe encantado”, detentor do poder e da ação.
“A mulher colocada nesse lugar de princesa pode ter conforto, mas muitas vezes perde a autonomia. É uma visão que pode parecer romântica, mas esconde um padrão de passividade e dependência”, alerta Alessandra.
Relacionamento tóxico pode envolver família, relação amorosa ou amizade
A distorção dos “mínimos”
Na trend, ações como servir o prato da parceira, elogiar seu cabelo, pagar a janta no primeiro encontro ou simplesmente ouvi-la com atenção são celebradas como gestos dignos de contos de fadas. Mas, segundo Alessandra, isso evidencia um problema: atitudes básicas de respeito e cuidado estão sendo tratadas como algo raro ou excepcional.
“Em uma relação madura, gestos de apoio e carinho são o básico. Quando esses comportamentos são exaltados como grandes feitos, estamos diante de um desequilíbrio nas expectativas”, diz.
Essa valorização excessiva dos “mínimos” pode gerar frustração e afetar diretamente a autoestima. “Muitas mulheres começam a se perguntar: se eu não recebo isso, será que não sou amada? Será que eu não mereço?”, explica. Isso cria uma dependência de validação externa e uma relação baseada mais em aparências do que em afeto genuíno.
Estar em um relacionamento saudável envolve uma troca de confiança
Amor real ou performance?
Para Alessandra, a chave está em diferenciar um relacionamento saudável de uma idealização performática típica das redes sociais. Ela pontua que o afeto genuíno é silencioso, constante, presente no dia a dia e, principalmente, recíproco. Já o relacionamento “de vitrine” é voltado à aparência, com gestos planejados para gerar likes, e não necessariamente sustentados fora da câmera.
“A diferença está na consistência. Uma relação saudável não precisa de plateia para existir. O cuidado é natural, não estratégico”, resume.
Educação afetiva desde cedo
Segundo a especialista, a popularização de trends como essa escancara a urgência de educar emocionalmente as novas gerações. Ela destaca o papel crucial de pais e educadores nesse processo.
“É fundamental mostrar, com exemplos, o que é uma relação baseada em parceria e respeito. Também é importante ajudar os adolescentes a entenderem seu próprio valor, para que não busquem aprovação em gestos grandiosos ou na validação alheia”, orienta.
Por fim, ela reforça ainda a importância de ensinar senso crítico sobre o conteúdo consumido nas redes. “A vida online é uma curadoria. A realidade, com suas imperfeições e aprendizados, é muito mais rica – e é nela que os relacionamentos verdadeiros se constroem.”