O encontro da primeira-dama Janja da Silva com um grupo de mulheres evangélicas evidenciou o tamanho do desafio enfrentado pelo governo para dialogar com esse público.
A “Janja versão evangélica” durou menos de dois minutos, até afirmar que as mulheres precisam se unir para enfrentar a opressão e o silenciamento porque “não tem outra pessoa que vai fazer isso pela gente. Somos nós mesmas que temos que nos colocar”.
No entanto, para os evangélicos, a força da mulher não vem de lutas sociais ou de contextos políticos, mas sim de Jesus Cristo. Como está escrito em Filipenses 4:13: “Tudo posso naquele que me fortalece”. Ao dizer que “não tem outra pessoa que vai fazer isso pela gente”, Janja, segundo esse entendimento, estaria ignorando a centralidade de Jesus na vida dos fiéis.
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A coluna conversou com pastoras de diferentes vertentes. Foi unânime entre elas que a resistência não se dá pelo fato de Janja frequentar o candomblé. O problema, segundo afirmam, é que a primeira-dama só busca esse diálogo em ano pré-eleitoral e demonstra ter pouca ou nenhuma afinidade com o público evangélico, cujos valores e princípios divergem dos seus em temas sensíveis, como o aborto.
Em entrevista ao Contexto Metrópoles, o cientista político Bruno Soller observou que a escolha da Igreja Batista Adonai, em Cajazeiras (BA), pode ter sido uma tentativa de se aproximar de um segmento evangélico mais moderado — em contraponto a corrente tradicional, especialmente a neopentecostal, que tem caminhado ao lado da direita brasileira, sobretudo do bolsonarismo. O programa, com Andreza Matais e Neila Guimarães, é apresentado de segunda à sexta, ao vivo, das 12h às 14h.
“É muito curioso que a primeira-dama — que é identificada com o candomblé —, na cidade de Salvador, que é a capital mais representativa da cultura afro-brasileira, fale para um público evangélico, inclusive vestindo uma camisa do MTST”, observa Soller. “Mas falar com um público conservador nesses termos não funciona — ela não os convence. Salvador, por exemplo, é uma das cidades onde a religião evangélica mais cresce, em contraste com o candomblé. A guerra religiosa não é só local, é global”, complementou.
Desde a redemocratização, o número de evangélicos no Brasil passou de 9% para 38% da população, o que faz com que todo mundo queira dialogar com esse seguimento.
“Depois do surgimento do bolsonarismo como afirmação política no Brasil, os preceitos evangélicos passaram a ganhar força, e candidatos que defendem pautas religiosas têm crescido na opinião pública. O debate deixou de ser apenas social e passou a envolver interpretações profundas sobre o sentido da vida.”