O WhatsApp finalmente admitiu o que todos sabíamos: a conversa é o novo campo de batalha do marketing. Ao anunciar que a plataforma terá anúncios, pela primeira vez, o aplicativo mais íntimo da Meta, e um dos poucos ainda livres da lógica publicitária, assume esse novo papel, o de canal de mídia.
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E, ao contrário do que se possa imaginar, essa mudança não é pequena, e não se trata, ainda, de um espaço para vendas diretas, mas de um ponto de partida patrocinado para conversas entre marcas e pessoas.
Parece sutil, mas não é. Para uma plataforma com mais de 3 bilhões de usuários mensais ativos, inserir publicidade é muito mais do que abrir inventário. É redesenhar a dinâmica de descoberta, engajamento e construção de relacionamento dentro do ambiente mais pessoal do ecossistema digital.
O movimento da Meta é calculado. Os anúncios não aparecerão em conversas privadas ou grupos, mas sim na aba atualizações, em canais e status, dois formatos já menos sensíveis à interferência comercial.
A promessa é manter intacta a experiência de mensagens protegidas por criptografia ao mesmo tempo em que se abre uma nova porta de entrada para que marcas iniciem um contato.
Ou seja: a lógica aqui não é interrupção. É intenção. O clique no anúncio não leva para um site ou vitrine, mas para um canal de conversa ou para um canal promovido.
Parece um detalhe técnico, mas representa uma mudança profunda no comportamento que se espera do anunciante. A publicidade não serve mais para empurrar produto, ela precisa construir contexto para o diálogo.
Isso exige das marcas uma mudança de postura. Publicar um story patrocinado no Instagram pode ser fácil. Mas ser clicado no WhatsApp pressupõe um grau de confiança muito maior. O aplicativo carrega uma carga emocional distinta: ali estão as conversas com amigos, família, médico, escola dos filhos. O que entra ali precisa parecer útil, legítimo ou será ignorado imediatamente.
Por isso, olhar para essa novidade com a mesma mentalidade de mídia programática é um erro estratégico.
O WhatsApp não será um novo canal de awareness. Será um filtro natural: só as marcas que realmente tiverem algo a oferecer, que fizerem uso inteligente da primeira mensagem, gerarão retorno. Não se trata de performance tradicional, e sim de relevância no toque inicial.
E mais, a mudança não acontece num vácuo. O WhatsApp já vinha sendo usado comercialmente por pequenas e grandes empresas, mas com um fluxo orgânico, QR code no caixa, link na bio, atendimento via chatbot.
O que a Meta faz agora é colocar dinheiro nessa equação, permitindo que as marcas apareçam mesmo para quem ainda não interagiu com elas. Os canais promovidos, por exemplo, passam a disputar espaço no guia da plataforma. Ou seja, a visibilidade deixa de ser consequência do engajamento e passa a ser comprável.
Esse deslocamento é sutil, mas tem implicações importantes. Quando o que aparece é pago, o conteúdo também muda. A disputa de atenção se torna mais agressiva. E o risco é que o WhatsApp perca justamente o que o tornou único: o senso de controle do usuário sobre o que vê e com quem fala.
Ao transformar um espaço originalmente privado em ambiente de mídia, o WhatsApp desafia as marcas a serem mais do que anunciantes. Exige que sejam relevantes, interessantes e, acima de tudo, bem-vindas.
O desafio não está em aparecer, está em fazer com que alguém aceite conversar. E esse não é um mérito que se compra, mas que se conquista. A mídia chegou ao WhatsApp. Quem seguir tratando conversa como campanha, vai falar sozinho.
Fernanda Cunha é cofundadora e CEO da Kipiai.