MAIS

    Advogados são denunciados por fraude em divórcio de R$ 160 milhões

    Por

    Três advogados foram denunciados por inventarem provas e manipularem documentos em um processo judicial que trata do divórcio milionário do empresário Lucas Queiroz Abud. Pelo menos R$ 160 milhões estão em disputa no caso.

    Leia também

    Entre os profissionais que foram alvo da representação em análise na Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) da Bahia estão dois nomes muito conhecidos no meio jurídico: Eugênio de Souza Kruschewsky, professor e procurador do estado, e Ana Patrícia Dantas Leão, que foi, por duas vezes, candidata à presidência da OAB na região (foto em destaque). A terceira advogada investigada é Michelle Santos Allan.

    No documento, ao qual o Metrópoles teve acesso, Lucas Abud conta que se divorciou de Fabiana Durand Gordilho em 2019, em um processo consensual. Dois anos depois, no entanto, os advogados teriam apresentado provas falsas para tentarem demonstrar que o acordo foi assinado sobre coação e ignorando parte do patrimônio do empresário.

    Uma das fraudes apontadas trata da data da constituição da Viva Ambiental e Serviços Ltda. Os advogados representados afirmaram que a empresa foi criada quando Lucas Abud e Fabiana Durand Gordilho estavam casados. A documentação, no entanto, demonstra que a empresa foi constituída em 2003, e o matrimônio só foi celebrado em 2006, três anos depois.

    Outra possível fraude diz respeito à afirmação falsa de que a Justiça já havia quebrado o sigilo bancário e fiscal do empresário, mas em outra ação, em trâmite em São Paulo. Os advogados denunciados afirmaram que, por conta disso, não havia motivos para o tribunal baiano manter o sigilo das informações.

    De acordo com a documentação apresentada, a Justiça paulista apenas solicitou informações sobre o endereço do empresário, informação que pode ser consultada sem nenhuma medida excepcional. “Quando foram confrontados com prova documental da fraude processual que praticaram, já após terem conseguido a decisão judicial que beneficiou sua cliente, os representados alegaram, em contrarrazões a agravo de instrumento protocolada em 10 de fevereiro de 2025, que se ‘enganaram’ e que a quebra teria sido ‘parcial”, afirma a representação.

    Há, ainda, questionamentos sobre um registro de violência doméstica, que teria sido forjado para embasar a tese de coação no momento da assinatura do divórcio. “A narrativa fabricada pelos representados afirmava que a suposta violência teria ocorrido dias antes da assinatura do divórcio, nos Estados Unidos, juntando, inclusive, um documento de atendimento médico. Para dar suporte a essa afirmação, foram apresentadas fotografias de sua cliente com lesões no rosto e documentos médicos”, relata a representação.

    Lucas Abud demonstrou que não estava nos EUA na data dos registros, apresentando, entre outros documentos, o registro eletrônico emitido pela Alfândega e Proteção de Fronteiras (U.S. Customs and Border Protection).

    Confrontados, os advogados mudaram a versão e afirmaram que haviam cometido um “erro na leitura da data”. “Essa ‘retificação’ escancara a fraude. A escolha inicial da data não foi aleatória; foi estratégica, visando a vincular a suposta violência ao momento anterior à assinatura do divórcio para invalidá-lo”, argumenta a representação.

    A representação argumenta que a apresentação de provas falsas que seriam — e foram — tão facilmente desmentidas mostra a intenção clara e consciente de “induzir o poder judiciário a erro e obter vantagens ilícitas”.

    Caso sejam condenados pela OAB, Eugenio Krushevskiy, Ana Dantas Leão e Michelle Santos Alan podem ser suspensos do exercício da advocacia por até um ano. O Metrópoles tentou entrar em contato com os três advogados citados na representação, mas não obteve sucesso. O espaço permanece aberto para eventuais posicionamentos.