O projeto desenvolvido pela ECOUrbis para a ampliação do aterro sanitário da Central de Tratamento de Resíduos (CTL) Leste, em São Mateus, na zona leste da capital paulista, prevê a derrubada de quase 63 mil árvores da região.
O número aparece em uma apresentação preparada pela empresa, a qual o Metrópoles teve acesso, e é mais de seis vezes superior ao que era debatido quando a Câmara Municipal aprovou a ampliação do aterro, em dezembro de 2024. Naquela época, a previsão era de que o local perderia 10 mil árvores.
Entre as 62.722 espécies que serão derrubadas, caso o projeto siga adiante, estão desde vegetações de menor porte quanto espécies maiores, utilizadas para reflorestamento, como eucaliptos. A cobertura vegetal retirada para a obra atingirá uma área total de 48,77 hectares — ou 487 mil m².
Leia também
-
SP: corte de 10 mil árvores e incinerador em São Mateus geram polêmica
-
Nunes defende Bolsonaro e critica Judiciário que adota linha do “medo”
-
Caos no metrô: vídeos mostram estragos em trilhos da Linha 4-Amarela
-
Santos tem rajadas de mais de 121 km/h e vendaval interrompe navegação
As informações constam em um Estudo de Impacto Ambiental e Relatório de Impacto Ambiental (EIA-RIMA) feito pela ECOUrbis. O levantamento é uma etapa anterior ao início das obras e está agora sob análise da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb), que deve emitir um parecer sobre o tema.
Ao Metrópoles, a ECOUrbis disse que aguarda a “avaliação da Cetesb para dar andamento ao projeto, que cumprirá todas as obrigações legais e ambientais existentes”.
“É importante ressaltar que a supressão vegetal a ser realizada será aprovada pela Cetesb, e que a contrapartida ambiental, tem a previsão de plantio próximo de 4 vezes o número de espécies arbóreas a serem suprimidas, preferencialmente nas redondezas do próprio empreendimento, em São Mateus”, diz a nota.
A ampliação do aterro sanitário é defendida pela gestão Ricardo Nunes (MDB). Em 2024, o Executivo enviou à Câmara de Vereadores o projeto de lei 799 que mudou a legislação de proteção da área para permitir a extensão do aterro.
Relembre o caso
- O PL 799/2024, enviado por Nunes à Câmara e aprovado em 20 de dezembro daquele ano, mudou a legislação urbana na região do aterro de São Mateus.
- O local deixou de ser uma Macroárea de Preservação dos Ecossistemas Naturais e passou a ficar definido como Macroárea de Controle e Qualificação Urbana e Ambiental.
- Na prática, a mudança permite que sejam feitas obras no terreno, aumentando a capacidade de coleta de lixo.
- Além de ampliar o aterro, a Prefeitura de SP também quer construir no local um incinerador e um ecoparque.
- Como mostrou o Metrópoles, moradores do bairro são contrários à mudança e dizem que ela piorará a qualidade de vida no local.
Para a vereadora Marina Bragante (Rede), os dados sobre o corte de árvores mostram uma contradição no discurso da prefeitura de querer tornar a cidade mais verde.
“O que mais me preocupa é a mensagem que a prefeitura está passando pra cidade, que é ambígua. Eles falam que estão querendo plantar 120 mil árvores, que vai ser o maior plantio de árvores da cidade, […] mas, ao mesmo tempo, [entre] aquelas que já estão plantadas, a gente vai reduzir 62 mil, que é metade do que a cidade está se gabando que vai plantar”.
A parlamentar afirma que seu gabinete tem sido procurado por moradores preocupados com o tema. Segundo ela, o aterro já oferece uma série de incômodos para a população do bairro atualmente e o corte das árvores vai piorar a situação.
“Isso é gritante, porque a gente tá falando de uma das regiões com os menores índices de cobertura arbórea da cidade, que é a zona leste”. A vereadora defende que a prefeitura não trate o tema como um “detalhe técnico” e busque soluções para preservar o verde no local.
Outro lado
Em nota, a gestão Nunes disse que o licenciamento é de competência da Cetesb, “cabendo à prefeitura responder a manifestações técnicas eventualmente solicitadas”.
“Importante ressaltar que o projeto está em fase de licenciamento ambiental e seguirá todos os ritos do órgão estadual, incluindo audiência pública para definir os detalhes, condicionantes e compensações previstas em lei”, diz a prefeitura. Segundo a gestão, o aterro recebe em média sete mil toneladas de resíduos por dia.
Já a ECOUrbis disse que, em razão do crescimento da cidade, a vida útil do aterro está se esgotando e que, “para garantia do futuro da gestão de resíduos da cidade de São Paulo, é fundamental planejar sua ampliação”.
“Além de assegurar a destinação adequada dos resíduos da cidade de São Paulo, a ampliação do CTL contemplará a implementação de novas tecnologias para valorização dos resíduos, tornando a cidade de São Paulo cada vez mais sustentável e reafirmando seu compromisso com o meio ambiente e com as pessoas”, termina a nota.