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    Análise: Centrão dá rasteira em bolsonaristas e mostra quem manda

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    O Centrão, grupo político heterogêneo formado por partidos notoriamente fisiológicos, mostrou mais uma vez quem é que manda no Congresso Nacional. Desta vez, o recado foi para a bancada bolsonarista e sua insistente briga pela anistia a Jair Bolsonaro e aos demais condenados pelo 8 de Janeiro.

    O retrato do “golpe” saiu na noite da quinta-feira (18/9), quando o relator da anistia, Paulinho da Força (Solidariedade-SP) — ele próprio um exímio membro do Centrão — se reuniu em São Paulo com o ex-presidente Michel Temer (MDB) e com o deputado Aécio Neves (PSDB) para discutir o tema.

    3 imagensPaulinho da Força, Michel Temer e Aécio NevesO deputado Paulinho da Força (Solidariedade-SP), relator da anistiaFechar modal.1 de 3

    Paulinho da Força com ex-presidente Michel Temer e Aécio Neves

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    Paulinho da Força, Michel Temer e Aécio Neves

    Reprodução/Instagram3 de 3

    O deputado Paulinho da Força (Solidariedade-SP), relator da anistia

    Breno Esaki / Metrópoles

    Ali, os dois velhos caciques, que andavam meio apagados desde a eleição de Jair Bolsonaro (PL) em 2018, sepultaram de vez a anistia “ampla, geral e irrestrita” pela qual a bancada bolsonarista briga desde 2023 — e com a participação virtual do presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos).

    No encontro, a anistia virou o “PL da Dosimetria”, uma referência à proposta de redução das penas de Bolsonaro ee demais condenados. Projeto que, nas palavras do próprio Temer, virá de “comum acordo com o Supremo Tribunal Federal, com o Executivo, em uma espécie de pacto republicano”.

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    O episódio relembra, guardada algumas devidas proporções, a tentativa de “acordo” para segurar as investigações da Lava Jato, revelada em 2016 em uma conversa telefônica entre o então ministro do Planejamento Romero Jucá e o ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado.

    Na ocasião, falava-se justamente em colocar Temer na Presidência no lugar de Dilma Rousseff. Na conversa, Jucá e Machado também falaram em um “grande acordo”, incluindo o Supremo. Aécio também foi citado no diálogo como o “primeiro a ser comido” pela Lava Jato.

    Quem manda?

    Nove anos depois, o recado do Centrão agora não é para os petistas, mas para os bolsonaristas, que insistem em ter Jair Bolsonaro como candidato nas eleições presidenciais de 2026, mesmo após a condenação no STF como um dos cabeças da trama golpista.

    Confiando no Centrão, os bolsonaristas encerraram o “motim” na Câmara no início de agosto, com a promessa de que a anistia seria votada. Em troca, a direita ainda abandonou a pauta anticorrupção, bandeira do bloco há anos, para aprovar nesta semana a PEC da Blindagem.

    Aprovada a PEC, na qual o Centrão era o principal interessado, o grupo deu uma rasteira nos bolsonaristas e disse: não vai ter anistia, vai ter uma “dosimetria” das penas. Bolsonaro vai continuar preso, e o Centrão poderá trabalhar, tranquilo, pela eleição de Tarcísio de Freitas (Republicanos).

    A candidatura de Tarcísio tem potencial para favorecer vários caciques do grupo. Fala-se, por exemplo, em Ciro Nogueira (PP-PI) como candidato a vice-presidente. O acerto poderia permitiria também que Gilberto Kassab (PSD) saísse como candidato a governador de São Paulo.

    O papel de Bolsonaro nisso tudo seria agradecer a redução de penas e um acordo para seguir em prisão domiciliar, além de dar a bênção e os votos para que o Centrão volte — dessa vez sem a necessidade de um impeachment — a ocupar a Presidência da República. Com o Supremo, com tudo.