Em entrevista ao Contexto Metrópoles, Geraldo Alckmin disse que é “muito ruim” o deputado Eduardo Bolsonaro “torcer contra o emprego no Brasil, contra as empresas brasileiras, contra a economia” ao trabalhar para que o governo Donald Trump imponha tarifas ao Brasil em retaliação ao julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro.
O vice-presidente revelou que a orientação do presidente Lula é seguir negociando, embora o país tenha acionado a lei da reciprocidade.
Observado pela Faria Lima como um nome para a disputa presidencial de 2026, justamente por sua atuação nas negociações com os EUA, Alckmin tergiversou. Pesquisa da AP Exata para a coluna mostra que, na medida em que seu nome é cogitado, crescem as críticas ao vice-presidente nas redes sociais da esquerda.
Pelo perfil moderado, ele foi escalado por Lula para negociar o tarifaço, o que o projetou politicamente. O vice, contudo, não conseguiu ser atendido por nenhum assessor de Trump.
A coluna encontrou o vice-presidente num café em Brasília no último sábado.
A seguir a entrevista:
O ex-presidente da Câmara Rodrigo Maia disse ao Contexto Metrópoles que o senhor hoje é um nome especulado na Faria Lima para ser candidato à presidência em 2026. O senhor pensa sobre isso?
Olha, duas palavras. A primeira, eu tenho grande admiração pelo Rodrigo Maia, grande parlamentar extremamente preparado, tem espírito público, é extremamente comprometido com nosso país. E depois dizer que eu pretendo sim ser candidato a presidente… lá na frente do Santos Futebol Clube. O Peixe vai voltar a nadar.
E para governo de São Paulo, o nome do senhor tem aparecido também nas pesquisas bem posicionado… Também prefere presidir o Santos?
O Peixe sempre tem prioridade.
O governo adotou a lei da reciprocidade em resposta ao tarifaço dos EUA. O quanto isso pode atrapalhar nas negociações?
Olha, primeiro destacar que tivemos uma notícia importante na Justiça dos EUA dizendo que as medidas tomadas pelo governo Trump são ilegais. Esse tarifaço tem fragilidade jurídica, e o tribunal deu até 14 de outubro para que o governo recorra, inclusive à Suprema Corte. Mas a disposição que o presidente Lula tem nos orientado é sempre o diálogo e a negociação. Temos argumentos fortes. Quando compramos dos EUA, a tarifa é 2,7% — baixíssima. E dos dez produtos que eles mais exportam para cá, oito têm tarifa zero. Então, não faz sentido cobrarem 50% de tarifa. É injustificável. Vamos nos empenhar para mudar isso.
O Eduardo Bolsonaro disse que a lei da reciprocidade vai fazer com que os Estados Unidos coloquem 100% de tarifas sobre o Brasil. É uma preocupação ou é mais uma ameaça?
É muito ruim que ele torça contra o emprego no Brasil, contra as empresas brasileiras, contra a economia. Eu acredito no contrário. Acho que há espaço para negociação efetiva, tarifária e não tarifária. Novas oportunidades de investimento recíproco. O que temos que fazer é ganha-ganha. Esse é o bom caminho. Temos 201 anos de amizade com os EUA. E o Brasil não é problema para eles — pelo contrário, eles têm superávit com a gente. Vamos trabalhar para mudar esse quadro.
O país vive um problema na sua democracia?
Olha, a democracia brasileira já deu inúmeras provas de que é forte. E a democracia é o regime em que o povo manda. O povo escolhe, decide, elege. O povo é o grande protagonista. A democracia garante a liberdade individual, é inclusiva. As ditaduras suprimem a liberdade em nome do pão — e não dão o pão que prometeram nem devolvem a liberdade que tomaram.