O Hospital Vidas – Alta Complexidade, localizado na Vila Gea, na zona sul de São Paulo, é alvo de uma série de denúncias de irregularidades trabalhistas e estruturais, como atraso salarial e falta de profissionais na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e no Pronto-Socorro (PS).
As queixas foram formalizadas pelo Sindicato da Saúde de São Paulo (Sinsaudesp) ao Ministério Público do Trabalho (MPT) nesta quinta-feira (4/9), em uma notificação assinada pelo presidente sindical Jefferson Caproni, que pede a instauração de um inquérito civil.
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Denúncias contra o hospital
De acordo com a notificação, o hospital “reiteradamente descumpre direitos trabalhistas e impõe aos seus empregados condições indignas de trabalho”. Dentre as irregularidades, o sindicato aponta:
- Atraso salarial, dando o exemplo recente de julho de 2025, que não foi quitado no prazo legal. Os empregados foram comunicados de forma informal via aplicativo de mensagens de que o pagamento seria adiado para o mês de setembro.
- Falta de depósito do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), embora constem como descontos na folha de pagamento, configurando apropriação indevida dos valores destinados à proteção do trabalhador em hipóteses de desemprego, doença grave ou aquisição da casa própria.
- Atraso no pagamento de férias, com casos de inadimplência superior ao período de um ano.
- Parcelamento do 13º salário em 12 parcelas ao longo do ano, “o que distorce completamente sua finalidade e reduz o benefício a parcelas irrisórias, incapazes de cumprir seu papel de reforço financeiro no fim de ano”.
- Falta de profissionais em setores essenciais do hospital, como a UTI adulta, a clínica médica, o pronto-socorro infantil e adulto, “o que tem levado supervisores a assumirem pacientes, mesmo sem a devida estrutura ou treinamento para tal”.
- Supressão de benefícios básicos, como a cesta básica, o ticket-refeição e a alimentação em plantões de 12 horas.
- Ameaça de não pagamento do dia-trabalho em caso de falta por doença, mesmo mediante apresentação de atestados médicos.
Segundo o sindicato, todas essas denúncias foram coletadas por meio de diversos relatos consistentes e convergentes, “demonstrando que não se trata de fatos isolados, mas de prática sistemática da gestão da instituição em afrontar a legislação vigente”.
A organização trabalhista afirmou ainda que, todos esses elementos, juntos, “demonstram um ambiente laboral hostil, inseguro e degradante, que exige imediata apuração por parte deste Ministério Público”.
O que o sindicato pede
- O Sinsaudesp pede a instauração do inquérito civil, de forma “célere e firme”, para apurar as irregularidades relatadas.
- A organização pede ainda a imediata notificação do Hospital Vidas para que este apresente documentos que comprovem o cumprimento de obrigações trabalhistas.
- Também requer que o MPT ouça trabalhadores e testemunhas que possam confirmar a veracidade das denúncias apresentadas.
- O sindicato solicita ainda que seja avaliada a possibilidade de celebração de Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), por meio do qual a instituição se comprometa a regularizar as questões trabalhistas.
- Por fim, a notificação aponta a necessidade de que o MPT adote “providências administrativas e judiciais para que a instituição melhore suas condições de trabalho”.
Hospital não se manifestou
O Metrópoles apurou que o grupo Hospital Vidas, responsável pela gestão do Alta Complexidade, possui diversas ações trabalhistas e de pedidos de indenização por danos morais no Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP).
Além dessas, a empresa também entrou com processos de recuperação judicial, desde o ano passado – procedimento legal adotado por empresas em crise financeira que buscam renegociar suas dívidas e evitar a falência.
Procurado, o hospital não se manifestou formalmente até a publicação desta reportagem. Um dos advogados que representa a empresa nas ações de recuperação judicial afirmou que não irá se manifestar.
