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    Butantan faz manobra de guerra por vacina da gripe até próximo inverno

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    Os bastidores da distribuição da vacina contra a gripe envolvem uma batalha contra o tempo para que os ingredientes desta receita complexa sejam trazidos ao Brasil antes da chegada do inverno. É nessa fase que o Instituto Butantan, em São Paulo, fabricante das vacinas distribuídas no país, se encontra justamente agora –uma operação de guerra com carregamentos de diversos países para a produção de 80 milhões de doses da vacina.

    A vacina funciona a partir do vírus inativado que, uma vez dentro do corpo humano, possibilita a produção de anticorpos que previnem a doença. O que dificulta isso é que o vírus Influenza não é exatamente igual todos os anos –uma nova versão dele, a cepa, precisa ser atualizada cada vez que se produz novas vacinas.

    “Quando a Organização Mundial da Saúde [OMS] anuncia a necessidade de atualização do imunizante, precisamos trazer os novos vírus do exterior de maneira prioritária, uma vez que seu rápido recebimento é essencial para garantir que o produto seja fabricado a tempo e aplicado na população-alvo antes da chegada do inverno, período crítico da doença”, diz a gerente da Produção de Bancos de Influenza (PBI) do Butantan, Priscila Comone.

    O anúncio da atualização da vacina para produtores do hemisfério sul ocorre, tradicionalmente, apenas na última sexta-feira de setembro. No Butantan, nove áreas e 15 profissionais trabalham de maneira coordenada para importar as cepas de países como Estados Unidos, Inglaterra, China, Japão ou Austrália.

    As vacinas produzidas pelo Butantan têm três cepas diferentes –duas são do subtipo A (H1N1 e H3N2), que também podem ser achadas em outros animais; e uma do tipo B, que é capaz de infectar apenas os seres humanos. O histórico mostra que apenas uma dessas cepas tem se alterado de um ano para outro.

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    Ovos controlados

    Semanas antes da operação para trazer as novas cepas ao país, porém, os profissionais do Butantan enfrentam outro desafio logístico, a entrega dos ovos usados para produzir a vacina. É nos ovos que as cepas são aplicadas para que se multipliquem o suficiente para a produção de tantas doses de vacinas.

    Ovos livre de patógenos específicos são importados diretamente dos Estados Unidos para a ampliação da cepa vacinalOvos livre de patógenos específicos são importados diretamente dos Estados Unidos para a ampliação da cepa vacinal

    São necessários mais de 500 mil ovos por dia, ao longo de cinco meses, para a produção dos imunizantes. E não são ovos comuns, mas sim um tipo especial, vindo de galinhas criadas em ambientes monitorados para que não haja qualquer contato com microorganismos.

    Duas semanas antes de a OMS anunciar as novas cepas, a equipe do Butantan já tem programadas duas entregas de lotes de ovos. A primeira envolve 500 mil ovos de granjas brasileiras certificadas, que chegam à fábrica do instituto dias após o anúncio do organismo internacional. A segunda etapa são 1.700 ovos ainda mais especiais, importados dos Estados Unidos, classificados como Specific Pathogen Free (ou livre de patógenos específicos, em português). Eles vêm de aves mantidas em condições de altíssimo nível de controle sanitário.

    O objetivo desse lote é amplificar 2 ml da cepa que será traduz do exterior, gerando o que é chamado de “banco semente”. Para evitar qualquer contratempo, o volume de ovos é dividido em cinco entregas, que viajam em bandejas de papelão como as que são encontradas nos supermercados.

    Se acontecer a troca de apenas uma cepa no anúncio da OMS, o Butantan já inicia a produção dos dois monovalentes que continuam iguais aos do ano anterior, enquanto agiliza a importação da nova cepa. Essa operação coordenada em setembro permite que os primeiros lotes estejam prontos em março e abril do ano seguinte, a tempo do governo federal iniciar outra batalha logística, a da distribuição das doses no país todo antes do inverno começar, em junho.