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    Como PCC cobra propina de moradores da Favela do Moinho, segundo MPSP

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    Na representação que deu origem à Operação Sharpe, deflagrada nesta segunda-feira (8/9) contra o Primeiro Comando da Capital (PCC) na Favela do Moinho, o Ministério Público de São Paulo (MPSP) deu detalhes sobre como a facção cobrava propina de moradores da comunidade que fizeram acordo com a Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU) para se mudar da região.

    Conforme revelado pelo Metrópoles em julho, o PCC estaria cobrando uma “multa” de até R$ 100 mil dos inquilinos das casas da Favela do Moinho que abandonaram os imóveis, permitindo que eles fossem descaracterizados pelo governo do estado.

    De acordo com os promotores do Gaeco, o esquema de extorsão é comandado por Alessandra Moja, irmã de Leonardo Moja, o Leo do Moinho, apontado como o principal responsável pelo abastecimento de drogas na Cracolândia.

    4 imagensFavela do Moinho tem forte presença do PCC e moradores extorquidos ao se mudarem para casas da CDHULula cumprimenta moradores da Favela do Moinho, em São Paulo, no fim de junhoRuas de terra, barracos de madeira e fios emaranhados fazem parte do cenário da Favela do MoinhoFechar modal.1 de 4

    Leo do Moinho

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    Favela do Moinho tem forte presença do PCC e moradores extorquidos ao se mudarem para casas da CDHU

    Governo de SP/Reprodução3 de 4

    Lula cumprimenta moradores da Favela do Moinho, em São Paulo, no fim de junho

    Valentina Moreira/ Metrópoles4 de 4

    Ruas de terra, barracos de madeira e fios emaranhados fazem parte do cenário da Favela do Moinho

    Jessica Bernardo/Metrópoles

    A mulher é um dos três alvos de mandados de prisão expedidos pela 1ª Vara de Crimes Tributários, Organização Criminosa e Lavagem de Bens da capital. Além dela, foram alvos José Carlos Silva, que teria sido escolhido como substituto de Leonardo na liderança do tráfico, e Jorge de Santana, proprietário de um bar e responsável por armazenar drogas e armas.

    “Foi identificada a existência de grupo criminoso organizado que cobra propina das famílias beneficiadas pelo acordo com a CDHU, somente autorizando o cadastro e a assinatura mediante o pagamento de valores à família Moja”, dizem promotores.

    O dinheiro da cobrança de propinas e do tráfico de drogas, segundo o MPSP, seria lavado por meio das empresas de empresas de sucata.

    “Tanto os valores arrecadados neste contexto como os recursos derivados das demais atividades ilegais controladas por ‘Léo do Moinho’ são arrecadados por Alessandra com o intuito de branqueamento para Roberto Gonçalves da Cruz e para as empresas Comércio Aparas Papel Liberdade LTDA e Geral Sucatas EIRELI, investigadas no âmbito da Operação ‘Salus et Dignitas’”, diz a representação.

    De acordo com o Gaeco, o grupo ainda manipulava movimentos sociais legítimos para proteger o local contra a atuação dos órgãos de segurança pública.

    “Eu vou te achar”

    O Metrópoles identificou pelo menos quatro famílias vítimas das extorsões e ameaças. Quem concordou em conversar com a reportagem pediu para não ser identificado pelo medo de represálias. Alguns apenas confirmaram que estão sendo perseguidos, sem entrar em detalhes. “Já saí de lá e não quero problemas para mim. São muitas famílias, gente com medo de falar”, diz um ex-morador que confirmou ter sido coagido.

    A reportagem também obteve acesso ao relato de uma ex-moradora do Moinho que chegou à Polícia Civil de São Paulo. Ela diz estar sendo perseguida pelos responsáveis pela cobrança de aluguéis.

    “A gente está sendo ameaçado: ‘Eu vou atrás de você e vou te achar’. Isso não é só comigo, é com várias pessoas. Como a gente vai sair para moradia, estão pedindo para a gente dar uma quantidade de dinheiro, R$ 100 mil, R$ 70 mil. Muitas mães estão com medo. É a situação de não dormir à noite”, diz uma moradora.

    O caso virou inquérito na Polícia Civil e também chegou ao conhecimento do Grupo de Combate ao Crime Organizado do MPSP, que já ofereceu seis denúncias por tráfico e organização criminosa contra líderes e outros integrantes do PCC na Favela do Moinho.

    Debandada na calada da noite

    O Metrópoles apurou com fontes na Favela do Moinho que emissários dos traficantes têm tirado fotos de cada casa que tem sido descaracterizada para a mudança do inquilino a um apartamento da CDHU.

    Em meio ao clima de medo do monitoramento, moradores têm inclusive recusado auxílio gratuito do governo para fazer suas mudanças de móveis para as habitações sociais e custeado o transporte com recursos próprios. Há quem tenha deixado suas casas do dia para a noite.

    Das 405 famílias que deixaram a região, 222 recusaram a mudança oferecida pela CDHU.