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    Comunicação de filmes: como trailers viram estratégia de marketing

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    O trailer deixou de ser um simples aperitivo do que está por vir nas telonas. Hoje, ele ocupa uma posição estratégica dentro do marketing audiovisual, sendo muitas vezes o primeiro, e mais poderoso, ponto de contato entre o público e o filme. Em poucos minutos, ele precisa capturar o DNA da obra, despertar curiosidade e estabelecer uma conexão emocional imediata.

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    Mais do que apresentar cenas de impacto, o trailer funciona como uma promessa. Ele define o tom da experiência que será entregue: é drama? Aventura? Suspense? Ele provoca, intriga e, quando bem construído, se transforma no grande responsável por fazer o espectador decidir se vale a pena investir tempo — e envolvimento emocional — naquela história.

    A construção de um trailer eficiente exige técnica e sensibilidade. É preciso escolher cenas que revelem o suficiente para emocionar, mas não tanto a ponto de entregar a trama.

    A edição rítmica, os cortes bem pensados, a trilha sonora, os diálogos e até os silêncios compõem um storytelling condensado. Cada detalhe precisa cumprir um propósito: impactar e permanecer na mente do público.

    Com o avanço das plataformas digitais e a fragmentação dos canais de distribuição, os trailers passaram a ser adaptados para diferentes públicos e formatos.

    Um mesmo filme pode ganhar múltiplas versões — mais curtas, verticais, com textos na tela, para redes sociais, além de trailers mais imersivos pensados para o cinema e a TV.

    Cada adaptação é moldada para respeitar o tempo de atenção e os hábitos daquele canal.

    Além disso, o momento de lançamento do trailer é estratégico. Divulgá-lo cedo demais pode esgotar o interesse; tarde demais, e ele pode perder força diante de tantas outras estreias.

    O ideal é alinhar esse lançamento com datas-chave da indústria, estreias de festivais, períodos sazonais e campanhas de mídia integradas. Em muitos casos, o trailer é o ponto de partida para ações com marcas parceiras, eventos imersivos e experiências interativas.

    Com a evolução do consumo digital, a linguagem dos trailers também mudou. O ritmo ficou mais acelerado, as edições mais visuais e o apelo emocional ganhou ainda mais protagonismo.

    Plataformas como TikTok e Instagram influenciaram diretamente esse formato, exigindo narrativas mais ágeis, diretas e capazes de capturar atenção nos primeiros segundos.

    Mesmo com tantas transformações, alguns elementos continuam indispensáveis: identidade clara, coerência estética e emocional, e um gancho que deixe o público querendo mais. Casos como o trailer de “Bacurau” — que equilibrou mistério e brasilidade com maestria — ou “Corra!” (Get Out), que antecipou o clima de tensão e crítica social, mostram como é possível construir expectativa com precisão e criatividade.

    Hoje, o trailer segue sendo uma das ferramentas mais potentes do marketing cinematográfico, mas passa a coexistir com um ecossistema de conteúdos complementares, como teasers, bastidores, depoimentos, experiências gamificadas e versões interativas.

    O futuro aponta para uma personalização cada vez maior, com trailers adaptados por nicho, cultura, idioma e até estilo de consumo.

    Se há uma certeza nesse cenário, é que o trailer continua sendo a alma da campanha de divulgação. Ele é a síntese da história que queremos contar — e o início da história que o público vai viver. E, quando bem feito, ele não apenas convida para o filme. Ele cria desejo.

    André Zavarize é CEO da ZAZ Produções e Studio.