A Expedição 501 revelou um achado inédito no Atlântico Norte: um enorme aquífero de água doce escondido sob o leito marinho, que pode se estender da costa de Nova Jersey até o norte do Maine, nos Estados Unidos. O trabalho, conduzido a partir da plataforma Liftboat Robert, foi descrito como a primeira perfuração sistemática do fundo do oceano em busca desse recurso.
A missão científica internacional coletou quase 50 mil litros de amostras. O projeto é apoiado pela Fundação Nacional de Ciências dos EUA e pelo Consórcio Europeu para Perfuração de Pesquisa Oceânica (ECORD).
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Os pesquisadores agora buscam identificar a origem da água — se ligada ao derretimento de geleiras antigas ou a sistemas subterrâneos ainda ativos em terra.
Segundo o geofísico Brandon Dugan, da Escola de Minas do Colorado e cocientista-chefe da expedição, trata-se de “um dos últimos lugares onde você provavelmente procuraria água doce na Terra”. “Precisamos buscar todas as possibilidades que temos para encontrar mais água para a sociedade”, disse em entrevista à Associated Press.
O potencial desse reservatório é imenso. Estimativas preliminares sugerem que ele poderia abastecer uma metrópole do tamanho de Nova York por até 800 anos.
No entanto, especialistas alertam para os desafios ambientais e políticos da exploração. Como destacou o geofísico Rob Evans, do Woods Hole, retirar a água pode afetar ecossistemas marinhos e trazer consequências imprevisíveis.
O pesquisador da Expedição 501 prepara um frasco de amostra para análise a bordo da plataforma Liftboat Robert
A descoberta ocorre em um momento em que o mundo enfrenta risco de escassez sem precedentes. Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) indicam que, em apenas cinco anos, a demanda global por água doce pode superar a oferta em até 40%.
Nos próximos meses, as amostras da Expedição 501 serão analisadas em laboratórios de diferentes países, com foco em determinar a idade da água, a presença de microrganismos e a possibilidade de renovação do aquífero. A expectativa é que os primeiros resultados sejam divulgados após um encontro científico na Alemanha, previsto para os próximos meses.
Mais do que uma façanha tecnológica, o achado reforça o alerta de que a busca por soluções diante da crise hídrica global exige criatividade, cooperação internacional e prudência no uso dos recursos naturais.
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