A empresária Neli Ferronato citada nos inquéritos do Supremo Tribunal Federal (STF), declarou nesta quinta-feira (4/9), em entrevista ao Contexto Metrópoles, que “as coisas saíram do controle” durante a invasão à Praça dos Três Poderes, em Brasília, no dia 8 de janeiro de 2023. Neli que vive no exterior em condição de foragida, relatou as dificuldades enfrentadas desde então.
“Olha, aqui nós temos muitas dificuldades — em relação à saúde, em relação ao contato com a família. Onde a gente está, é muito frio. Muitas pessoas saíram do Brasil sem nada, apenas com a roupa do corpo”, contou. “Devido à nossa documentação, não temos como arrumar um trabalho fixo. Algumas pessoas conseguem serviços pontuais, mas não está nada fácil.”
Neli afirma que vive apenas com outros apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro. “Eu estou sozinha [sem família]. Somente com os patriotas. Inclusive, quando a minha família consegue, eles mandam alguma ajuda, porque tudo nosso está bloqueado. As contas bancárias estão bloqueadas”, disse.
Expectativa de anistia
A foragida disse acompanhar de perto o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro e as discussões no Congresso sobre uma possível anistia aos envolvidos nos atos.
“É o que mais esperamos no momento. É nisso que nos apegamos. Que tudo isso se resolva o mais breve possível para que possamos realmente voltar para casa”, afirmou.
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“Jamais entrar lá dentro”
Neli contou ainda como foi sua participação em Brasília durante os atos antidemocráticos. Segundo ela, estava na Esplanada, próxima ao Palácio do Planalto, em frente a um grupo do Exército, quando bombas de gás de pimenta começaram a ser lançadas.
Questionada sobre a intenção ao participar da manifestação, Neli disse que seu objetivo era apenas integrar um ato pacífico. Explicou que, ao descerem para a Esplanada dos Ministérios, foram revistados por policiais na altura da rodoviária e liberados para seguir até a frente do Palácio do Planalto, onde deveriam permanecer sentados.
“O que aconteceu não foi o que pretendíamos fazer. As coisas saíram do controle”, afirmou.
8 de janeiro e as investigações
O episódio de 8 de janeiro de 2023 é considerado o maior ataque às instituições democráticas desde a redemocratização. Naquele domingo, milhares de golpistas invadiram e depredaram as sedes dos Três Poderes, em Brasília. Os atos foram organizados em caravanas financiadas por apoiadores e tiveram a conivência de parte das forças de segurança do DF.
O Supremo Tribunal Federal, sob relatoria do ministro Alexandre de Moraes, conduz as investigações sobre a participação e o financiamento da tentativa de golpe. Desde então, mais de milhares de pessoas foram presas e centenas já foram condenadas por crimes como associação criminosa, dano ao patrimônio público e abolição violenta do Estado democrático de Direito.