Um médico anestesista francês acusado de 30 envenenamentos de pacientes durante cirurgias, dos quais 12 foram fatais, começa a ser julgado nesta segunda-feira (8/9) na França.
Diante do tribunal de júri de Besançon (leste), Frédéric Péchier enfrenta mais de 150 processos – envolvendo vítimas presumidas e suas famílias -, apresentados por cerca de cinquenta advogados. O veredito é esperado para 19 de dezembro.
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O médico de 53 anos é acusado de ter envenenado deliberadamente 30 pacientes, com idades entre quatro e 89 anos, dos quais 12 morreram, entre 2008 e 2017, em duas clínicas privadas de Besançon.
Após oito anos de investigações, o ex-anestesista compareceu na manhã de segunda-feira ao banco dos réus, de barba branca, vestindo calça jeans e camisa azul, antes de acompanhar a seleção dos jurados.
Visivelmente abalado e emocionado, foi recebido na chegada ao Palácio da Justiça por alguns familiares e amigos, entre eles uma pessoa que gritou: “Força, Frédo!”
Considerado o “denominador comum” desses envenenamentos e incriminado por “um conjunto de elementos concordantes”, segundo a acusação, Frédéric Péchier, que sempre se disse inocente, pode ser condenado à prisão perpétua. No entanto, ele nunca chegou a ser encarcerado desde o início da investigação, pois os juízes decidiram mantê-lo em liberdade sob controle judicial.
A Justiça autorizou, em 2023, que ele exercesse sua profissão sob certas condições, desde que não tivesse contato com pacientes, mas ele não atua como médico desde 2017.
Investigação “tendenciosa”
“Estou apreensivo com esses três meses e meio” de julgamento, mas “tenho argumentos fortes e não estou indo com receio”, declarou Frédéric Péchier à rádio RTL nesta segunda-feira, antes da abertura dos debates. Questionado sobre o sofrimento das famílias, o médico respondeu: “Compreendo perfeitamente, mas, por outro lado, não sou responsável pela dor delas.”
Para um de seus advogados, Randall Schwerdorffer, que junto com seu colega Lee Takhedmit pedirá a absolvição, esta é a “primeira vez” que o acusado “poderá se explicar e que tudo será debatido”, após oito anos de investigação “conduzida exclusivamente de forma acusatória”, e enquanto “todos sempre partiram do princípio de que ele era culpado”.
O Dr. Péchier é suspeito de ter introduzido substâncias letais nas bolsas de infusão de pacientes atendidos por seus colegas, provocando paradas cardíacas, antes de muitas vezes ajudar na reanimação.
A partir de segunda-feira e por duas semanas, o tribunal analisará os casos mais recentes, aqueles que despertaram suspeitas dos investigadores e levaram à acusação formal do médico em março de 2017.
Sandra Simard, com 36 anos em janeiro de 2017, sofreu uma parada cardíaca — à qual sobreviveu — durante uma cirurgia na clínica Saint-Vincent. Uma dose potencialmente letal de potássio foi encontrada em uma bolsa de solução usada em sua anestesia.
Jean-Claude Gandon, com 70 anos na época, é a última vítima conhecida da série de envenenamentos. Único entre os 30 pacientes a ter sido anestesiado diretamente por Frédéric Péchier, ele também conseguiu ser reanimado.
Nas semanas seguintes, serão examinados um a um os casos de envenenamento atribuídos ao médico, começando pelos mais antigos.
Frédéric Péchier, que sempre alegou inocência, pode pegar prisão perpétua. No entanto, ele nunca foi preso desde o início da investigação, pois os juízes decidiram deixá-lo em liberdade, sob controle judicial.
Um acusado “habilidoso”
O anestesista é suspeito de “ter envenenado pacientes saudáveis para prejudicar colegas com quem estava em conflito” e, em seguida, demonstrar suas habilidades como reanimador, destacou anteriormente o então procurador da República em Besançon, Etienne Manteaux.
Destacando a “onipresença (do Dr. Péchier) na gestão das reanimações em casos de parada cardíaca” e seus “diagnósticos precoces”, ele descreveu “um profissional de saúde particularmente habilidoso que agia quando ninguém estava nas salas de anestesia e que soube variar ao longo do tempo a natureza dos venenos administrados para não levantar suspeitas”.
“É um caso vertiginoso”, observa o advogado Frédéric Berna, que representa muitas das partes civis. “São envenenamentos puramente gratuitos, de vítimas que não tinham nenhuma relação com ele, que nunca lhe fizeram nada”, afirma o advogado.
No livro “Le temps qu’il lui reste” (“O tempo que lhe resta”), publicado quatro dias antes da abertura do julgamento e baseado em entrevistas com o acusado, a jornalista Plana Radenovic explica a estratégia da defesa: demonstrar que não há provas concretas contra o anestesista e que nenhuma outra pista foi considerada.
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