Uma joia dentro de outra joia e as duas dentro da joalheria democrática que se chama Praça dos Três Poderes, pensadas, projetadas e desenvolvidas por dois humanistas brasileiros do século XX (um deles, comunista), Lucio Costa e Oscar Niemeyer. A joia dentro da joia tem uma concisão moderna e brasileira que clareia os olhos e os espíritos de quem verdadeiramente ama o Brasil, seus símbolos nacionais, seus artistas e sua arte.
Quem entra pela primeira vez na joia dentro da joia sente o impacto de avistar uma beleza compacta e inesperada mesmo para os que acompanham as sessões online. O mais raivosamente destruído dos ambientes atacados no 8/01, o plenário do Supremo Tribunal Federal evoca soberania, modernidade e solar brasilidade, desde a transparência de suas paredes de vidro laterais, agora protegidas com lâminas de cortinas.
A primeira coisa que enche os olhos quando se entra no plenário é a pele de madeira que recobre o teto e desce nas laterais, delimitando de modo sutil o ambiente cerimonial. São ripas de madeira que dizem muito sobre o país que tem o nome de uma árvore. Exceto as poltronas, todo o mobiliário é de madeira e ela tem a cor da pele brasileira.
Do chão da mais importante sala de justiça brasileira cintila o amarelo-ouro do carpete, simbolizando uma das cores da bandeira brasileira. O imenso painel em mármore bege-bahia, na parede principal do plenário, expressa, de modo sutil porém imponente, o sentimento da igualdade de todos perante a lei. Athos Bulcão foi buscar no sertão baiano a pedra brasileira conhecida no exterior como brazilian travertine.
Os nichos triangulares do painel, simetricamente alinhados na horizontal e na vertical são, por certo, uma referência à Praça do Três Poderes, um poder em cada vértice.
O plenário do STF tem uma imponência brasileira, moderna e despojada. Na verdade, a sala original era menor e menos evocativa de brasilidades. Em reforma nos anos 1970, o plenário floresceu, e não apenas no tamanho, na arquitetura e nas artes.
Foi ampliado para caber maior número de ministros e com mais lugares para o público. A reforma aconteceu logo depois dos mais sufocantes anos da ditadura militar. Quem sabe por isso Niemeyer tenha projetado um plenário mais transparente, mais bonito, mais soberano, mais brasileiro. Abriu-se um clarão dentro do STF que, em si mesmo, é um palácio transparente, flutuante e ao mesmo tempo altivo, tudo muito brasileiro.
Como dizia o arquiteto Lucio Costa, o Brasil não tem vocação para a mediocridade, ainda que muitos não desistam de querer nos amiudar. Tolos, não sabem que assim amiúdam-se a si mesmos.
* Este texto representa as opiniões e ideias do autor.