Tarcísio de Freitas decidiu demonstrar a sua fidelidade a Jair Bolsonaro, sem medo de ser feliz. É bolsonarista com muito orgulho, com muito amor.
Na semana passada, o governador paulista disse que, se eleito presidente da República, o seu primeiro ato será conceder indulto ao ex-presidente. Eu diria que, diante das resistências, será um vasto programa de governo.
Para não dizer que não falou das flores, ele também mergulhou na articulação pela votação da anistia.
Na manifestação de ontem, Tarcísio de Freitas colocou a cereja no bolo: partiu para cima de Alexandre de Moraes, ministro com o qual ele mantinha bom relacionamento, aparentemente.
O governador paulista disse que “ninguém aguenta mais a tirania de um ministro como Moraes. Ninguém aguenta mais o que está acontecendo neste país”.
Naquele entusiasmo de palanque, Tarcísio de Freitas foi além e mandou ver que “nós não vamos aceitar a ditadura de um Poder sobre o outro. É isso que precisamos fazer, é isso que nós precisamos defender: Chega do abuso, chega!”
O passo de Tarcísio de Freitas embute cálculo e aposta. Ele acredita que, ao demonstrar a sua fidelidade, pavimenta a sua candidatura junto à família Bolsonaro, sem perder, lá na frente, o voto da centro-direita, que sempre vai preferir ele a Lula ou a qualquer outro candidato da esquerda, pelo menos no lance previsto pelo governador paulista.
Se ninguém está fazendo teatro, faltou combinar com os russos do STF. Como era de esperar, os homens ficaram bravos.
Ontem mesmo, Gilmar Mendes contra-atacou. Na rede social X, ele escreveu:
“No Dia da Independência, é oportuno reiterar que a verdadeira liberdade não nasce de ataques às instituições, mas do seu fortalecimento. Não há no Brasil “ditadura da toga”, tampouco ministros agindo como tiranos. O STF tem cumprido seu papel de guardião da Constituição e do Estado de Direito, impedindo retrocessos e preservando as garantias fundamentais.”
E mais:
“O que o Brasil realmente não aguenta mais são as sucessivas tentativas de golpe que, ao longo de sua história, ameaçaram a democracia e a liberdade do povo. É fundamental que se reafirme: crimes contra o Estado Democrático de Direito são insuscetíveis de perdão! Cabe às instituições puni-los com rigor e garantir que jamais se repitam.”
Hoje, o jornalista Thiago Bronzatto publicou que a indignação é geral no STF. No anonimato de sempre, ministros afirmaram que a fala de Tarcísio foi “fora do tom institucional” e que pode “dinamitar pontes”.
Um deles escreveu ao jornalista que ficou surpreso, porque Tarcísio de Freitas é o “GOVERNADOR DE SÃO PAULO (assim mesmo, com maiúsculas) e não era ‘como o deputado Nikolas Ferreira e o pastor Silas Malafaia’”. Qual será o ministro que usou essas maiúsculas enfáticas? Quem adivinhar ganha um livro de direito constitucional.
O STF está tiririca com Tarcísio de Freitas, e é de se imaginar que o governador paulista contasse com essa reação. Mas não há nada no Brasil que não tenha remédio off label, como todos sabemos.
O governador paulista deve acionar os bombeiros de sempre — Michel Temer é o capitão — para debelar as chamas e dizer que, olha, gente, não é nada pessoal, conversamos mais adiante, talvez vocês até vejam vantagem em facilitar as coisas… para manter a candidatura de pé, era preciso manter isso aí, viu?