Em relatório da operação Tank, deflagrada na última quinta-feira (28/8) para combater um esquema de lavagem de dinheiro que tinha ligações com o Primeiro Comando da Capital (PCC), a Polícia Federal afirma que uma das fintechs investigadas ignorou determinações judiciais para fornecer informações dos alvos.
A PF cita no documento que a BK Instituição de Pagamentos, apontada como intermediária entre empresas de Mohamad Mourad, conhecido como “primo” e um dos principais investigados no caso, não forneceu dados financeiros de uma quebra de sigilo bancário.
“A instituição de pagamentos BK, que ignorou a determinação judicial e as reiteradas cobranças desta autoridade policial, se negando a remeter informações financeiras no caso SIMBA [Sistema de Investigação de Movimentações Bancárias] vinculado ao presente inquérito, figura como uma das principais remetentes e destinatárias de recursos para várias empresas e pessoas investigadas”, afirma a corporação.
Dentre as empresas investigadas citadas pela PF estão a Duvale, a ML8 e a Quimifix, ligadas a Daniel Dias Lopes e Miriam Favero Lopes, que juntos movimentaram mais de R$ 982 milhões com a fintech, segundo a investigação.
A apuração aponta que o uso de fintechs pela organização criminosa era uma das diversas estratégias usadas pelo grupo para mascarar a origem ilícita do dinheiro. A organização também fazia uso de “laranjas”, que apareciam como donos de empresas de fachada, e também o uso massivo de depósitos em espécie.
Como exemplo, a PF cita que a BK recebeu cerca de R$ 4 milhões de uma das 18 operadoras financeiras que compõem um dos níveis do esquema, identificado como “intermediário”.
Na investigação, outra fintech, a Tycoon é citada por transações com a BK.
“Trata-se da movimentação de valores com o emprego de técnicas que, considerando todo o sistema de contas ocultas por “conta-bolsão” a seguir explorado, buscaram ocultar origem e destino dos recursos”, diz a PF.
Conforme apurado pelos investigadores, a BK também foi responsável pelo envio de R$ 691 milhões em créditos efetivos nas contas da Duvale, além de ser o destino de R$ 291 milhões enviados pela empresa.
“Em suma, se valendo de um faturamento bilionário, a Duvale utilizou suas contas para receber centenas de milhões de reais em recursos com origem ocultada (por meio de depósitos fracionados ou por intermédio de instituições de pagamento operando contas-bolsão), contribuindo, dessa forma, com a fase de colocação/placement do presente arranjo de lavagem de capitais”, ressalta trecho do relatório.
Agente da Polícia Federal durante operação
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Operação Tank
A operação Tank é uma das três operações deflagradas pelas autoridades na última quinta-feira (28/8). Duas delas foram realizadas pela PF e outra, a Carbono Oculto, é do Ministério Público de São Paulo (MPSP). As três, no entanto, miram esquemas de lavagem de dinheiro e fraude em combustíveis e a ligação com o crime organizado.
Parte dos alvos da operação Tank também foram alvos da Carbono Oculto, do MPSP, a exemplo de Mohamad Hussein Mourad, empresário apontado como central nos esquemas investigados.
O grupo de Mohamad, segundo os investigadores, atua em toda a cadeia produtiva do setor de combustíveis, desde usinas sucroalcooleiras, passando por distribuidoras, transportadoras, fabricação e refino, armazenagem, rede de postos de combustíveis e conveniências, dentre outros.
Essa capilaridade se deu, segundo as investigações, a partir da compra da formuladora Copape e da distribuidora Aster. Ele também se apresenta como dono da G8 Log, uma empresa de transportes, mas que, conforme a apuração, é uma empresa de fachada usada para “ocultar e blindar a frota de veículos e para a lavagem de capitais”
A investigação também mostra que ele teria um “vasto patrimônio mobiliário e imobiliário ocultado em empresas de fachada, as denominadas shell companies, bem como em estruturas financeiras mais complexas, com os fundos de investimento”.
A tática dos depósitos fracionados era usada pelo grupo criminoso para lavar o dinheiro e despistar suas origens ilícitas. A investigação também cita, para isso, o uso de “laranjas”, transações cruzadas, repasses sem lastro fiscal e simulação de aquisição de bens e serviços.
Segundo a PF, a operação Tank tem como foco o desmantelamento de uma das maiores redes de lavagem de dinheiro já identificadas no estado do Paraná.
A tática dos depósitos fracionados era usada pelo grupo criminoso para lavar o dinheiro e despistar suas origens ilícitas. A investigação também cita, para isso, o uso de “laranjas”, transações cruzadas, repasses sem lastro fiscal e simulação de aquisição de bens e serviços.
O grupo atuava desde 2019 e é suspeito de ter lavado ao menos R$ 600 milhões, movimentando cerca de R$ 23 bilhões por meio de centenas de empresas, incluindo postos de gasolina, instituições de pagamento, entre outras.
Defesa
Em nota divulgada pela BK, a fintech disse que foi surpreendida com sua inclusão na operação deflagrada em 28 de agosto e afirma que a instituição de pagamentos é “devidamente autorizada, regulada e fiscalizada pelo Banco Central do Brasil”.
Segundo a nota, a BK conduz todas as suas atividades com “total transparência, observando rigorosos padrões de compliance”.
“O BK Bank reitera seu compromisso com a legalidade e coloca-se à inteira disposição das autoridades para prestar esclarecimentos e colaborar plenamente com as investigações”, afirma.